A noite eleitoral britânica de quinta-feira trouxe sentimentos contraditórios ao Partido Trabalhista e particularmente ao seu líder, Jeremy Corbyn, muito contestado na manhã do dia que se seguiu às duas by-elections, realizadas nos círculos eleitorais que viram os seus deputados, eleitos em 2015, apresentarem a demissão, forçando a necessidade dastais eleições intercalares.
Em Copeland o resultado foi desastroso e humilhante para o principal partido da oposição no Reino Unido, já que a sua candidata, Gillian Troughton, perdeu para Trudy Harrison, do Partido Conservador, uma circunscrição que tinha a bandeira do Labour Party desde 1935 – designada de Whitehaven até 1983, ano em que foi reordenada administrativamente e renomeada como Copeland. Declarada vencedora da contenta, com 44,3% dos votos, a candidata tory não teve problemas em apontar o dedo à liderança trabalhista, na hora de celebrar a vitória. «Ficou bastante claro, ao falar com as pessoas durante esta campanha, que Jeremy Corbyn não as representa», atirou, citada pela BBC, no seu primeiro discurso como deputada daquele território da região de Cumbria, catalogando o seu feito como «verdadeiramente histórico».
Só o facto de o círculo eleitoral de Whitehaven/Copeland ter sido representado em Westminster por trabalhistas, durante mais de 80 anos, já chegaria para explicar o porquê das celebrações efusivas junto dos Conservadores – e do embaraço sentido no seio do partido de Corbyn – mas para Theresa May, a vitória de quinta-feira chega como um verdadeiro balão de oxigénio para um Governo que, para além de ter imposto um pesado programa de austeridade, pela mão de David Cameron, encontra-se no meio de um autêntico furacão, fruto do processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Mais, a última vez que o partido no poder conseguiu ‘roubar’ um lugar de deputado à oposição, numa by-election, foi há 35 anos. «O que vimos, através desta vitória, é que este é um Governo que trabalha para toda a gente e para todo o país», congratulou-se a Primeira-Ministra, citada pelo Guardian.
Do lado de Jeremy Corbyn, existe a perfeita noção de que a mensagem do Labour não foi «suficiente para vencer em Copeland», e perante os sussurros que davam conta de que a manutenção do seu cargo estava em risco, reproduzidos na manhã de hoje pela comunicação social britânica e defendidos por alguns trabalhistas críticos do líder do partido, como o deputado John Woodcock, Corbyn lembrou o outro lado da moeda da noite eleitoral, a «rejeição das políticas de divisão e desonestidade do UKIP» em Stoke, para afastar tal cenário.
No círculo eleitoral de Stoke-on-Trent Central, a ameaça do partido de extrema-direita britânico a outro bastião trabalhista era real, muito por culpa dos 69,4% de ingleses que votaram a favor do Brexit, no referendo de junho do ano passado. Alimentado por esses números, o UKIP apostou forte na eleição de quinta e foi o próprio líder do partido, Paul Nuttall, a apresentar-se às urnas.
Mas para alívio de Corbyn, foi o trabalhista Gareth Snell quem venceu a corrida, com 37% dos votos, contra 24,7% do partido anti-UE e anti-imigração, e 24,4% dos tories. Garantida a circunscrição de Stoke, Snell elogiou quem optou pelas «políticas da esperança, sobre as políticas do medo» e não teve dúvidas: «[Foi] uma vitória de todo o movimento Labour». Com Stoke, mas sem Copeland, tem agora a palavra o líder do partido.