O presidente norte-americano propõe um aumento de 54 mil milhões de dólares no orçamento do exército mais caro do mundo e cortes em quase todas as outras agências governamentais, sobretudo em programas que dizem respeito à proteção ambiental e relações externas. Donald Trump, que, como os restantes candidatos republicanos, prometeu na campanha um salto na despesa militar, propôs ontem um aumento de cerca de 9% sobre os cerca de 596 mil milhões de dólares que os Estados Unidos gastaram em 2015, de acordo com os últimos dados do Instituto de Estudos para a Paz de Estocolmo – quase o triplo dos 215 mil milhões que a China, em segundo lugar, gastou nesse ano.
“Este é um acontecimento histórico e uma mensagem para o mundo nestes tempos perigosos sobre a força americana, a sua segurança e determinação”, disse hoje Donald Trump, desvendando as suas propostas orçamentais para o próximo ano, que agora atirará para a maioria republicana no Congresso, a verdadeira responsável por elaborar e aprovar as contas públicas. “Temos de garantir que os nossos e as nossas militares têm as ferramentas de que precisam para que, no momento de serem chamados a lutar em nosso nome, só possam fazer uma coisa: ganhar.”
Trump, na prática, promete mais exército e menos de praticamente tudo o resto. De acordo com o novo presidente, o salto orçamental na Defesa será compensado com cortes nas outras agências, com a exceção da Segurança Social e do programa de saúde Medicare – algo com que se comprometeu na campanha. As contas do défice americano não serão fáceis, principalmente tendo em vista que Trump quer também cortas nos impostos às empresas e avançar com um plano de um bilião de dólares em obras públicas. Os apertos mais dramáticos vão atingir a agência de proteção ambiental e o Departamento de Estado, a quem a Casa Branca atribui para já um papel secundário e pode vir a perder cerca de 30% do seu relativamente modesto orçamento de 50 mil milhões de dólares.
Engordar Pentágono
Trump defende-se dizendo que o exército está desgastado pelos cortes orçamentais de Obama e que precisa de fundos para combater terroristas no estrangeiro, impedir que eles entrem no país e para deportar criminosos e imigrantes ilegais que já lá estão. E isto apesar de Trump ter em mãos uma situação mais segura do que a que Obama herdou. Se o antigo presidente reduziu cerca de 15% do orçamento militar com uma grande presença no Iraque e Afeganistão, Trump promete anular essa tendência, embora a presença americana nesses dois países seja hoje um vestígio do que era nos primeiros anos de Obama e ainda que prometa uma relação mais amigável com a Rússia – há, para além disso, um acordo para o programa nuclear iraniano.
Se, por um lado, o presidente cumpre a promessa de mais investimento militar, parece ignorar, por outro, os seus próprios alertas quanto ao destino obscuro de parte do dinheiro enviado para o Pentágono. Este é o único ramo de governo que nunca sofreu uma auditoria, em que muita da despesa é confidencial e em que se sucedem escândalos de gestão como o que foi revelado em dezembro pelo “Washington Post”, segundo quem o Pentágono tentou esconder 125 mil milhões de dólares em despesas administrativas e ocultou várias recomendações de poupança – uma notícia que o próprio Trump utilizou como pedra de arremesso contra Obama e os democratas.