Arron Banks está farto de esbanjar libras esterlinas no UKIP e não ver resultados. Indignado com a derrota na by-election da passada quinta-feira, em Stoke, o doador do partido nacionalista e anti-imigração britânico decidiu fazer um ultimato a Paul Nuttal, ameaçando cortar com o financiamento, caso o líder rejeite nomeá-lo para chairman do UKIP. Numa carta enviada a Nuttal, cujo conteúdo foi revelado, em grande parte, através de declarações reproduzidas pelo “Sunday Express”, o empresário apelou à necessidade de o partido ser “radical”, para sair da “encruzilhada” em que se encontra, nomeadamente com o regresso de Nigel Farage e o afastamento dos conservadores infiltrados no UKIP.
“Este partido não pode continuar a ser gerido como uma venda de caridade. Se Nuttal não o profissionalizar, expulsando (…) a cabala tory, o partido acaba”, defendeu Banks, antes de apresentar a sua solução: “Estou a oferecer um ultimato a Paul Nuttal, ou me torno chairman e organizo o UKIP, trazendo empresários e profissionais para o tornar elegível, ou vou-me embora”.
A derrota do partido de extrema-direita britânico para o Labour Party, na eleição intercalar realizada no círculo eleitoral de Stoke-on-Trent Central, foi um duro golpe na legitimidade política seu líder. Entusiasmado com os 69,4% de ingleses que votaram a favor do Brexit, no referendo de junho do ano passado, Nuttal decidiu concorrer, ele próprio, ao lugar de deputado, de uma circunscrição onde não tinha qualquer passado político ou afetivo. Foi derrotado pelo trabalhista Gareth Snell e apenas conseguiu melhorar, em poucas centenas de votos, os resultados do partido em 2015.
O falhanço da estratégia do UKIP em Stoke fez saltar a tampa a Arron Banks e a derrota eleitoral, trouxe ao empresário a “confirmação” de que o partido necessita de se “manter relevante e radical”, sob pena de “poder vir a morrer”. Para tal, defende, é urgente trazer Farage de volta, o “principal ativo” dos nacionalistas britânicos e o homem que conseguirá, na opinião de Banks, mais “deputados do UKIP” para Westminster.
Para já, a resposta interna oriunda do partido anti-europeísta às reivindicações de um dos seus maiores doadores não parece ir ao encontro com o pretendido. Em declarações à BBC, o deputado e principal conselheiro político de Nuttal, Patrick O’Flynn, até confessou “ficar sempre contente quando alguém quer dar dinheiro e apoiar o partido”, mas considera que os melhores doadores são “aqueles que doam” e não os que “procuram dar ordens”.
A paciência de Arron Banks está por um fio e o seu ultimato pode muito bem resultar num ponto de rutura com o UKIP. E a ameaça vem do próprio. Caso não lhe dêem o cargo de chairman, a solução é simples: cria-se um “movimento rival” alternativo, que “vai destruir” o partido de extrema-direita britânico.