No escritório da casa de Velletri, a sul de Roma, os diplomas académicos de Luciano Baietti são como medalhas conquistadas em competição, e os cursos uma prova de fundo sem meta à vista. O italiano de 70 anos é reconhecido pelo Guinness como o recordista mundial de cursos , 15 no total, mas a maratona ainda não acabou. “A cada curso sinto-me perante um novo desafio, um desafio que impus a mim mesmo. Quero testar o limite do meu corpo e do meu cérebro, até onde posso chegar”, assevera à AFP este antigo professor de Educação Física atrás da superação permanente.
Aliás, foi no desporto que surgiu a obsessão académica. O prof. dr. Baietti calçou as botas pela primeira vez em 1972, quando tirou Educação Física. “Além das provas desportivas, tínhamos aulas teóricas de que gostava muito e que fizeram com que me entusiasmasse pelo estudo”, conta. A partir daí, foi vê-lo a tirar livros da prateleira. “Passei da pedagogia à sociologia, à literatura e à psicologia, depois ao direito, para chegar a disciplinas mais práticas como a ciência da investigação e da estratégia”, recorda este admirador da capacidade engenhosa dos criminosos, ciente de que, “muitas vezes, a inteligência humana é mal canalizada”.
“Através dos livros, sinto-me mais livre. As duas palavras têm a mesma etimologia”, nota. Além dos diplomas, uma cópia do retrato do escritor francês Louis–François Bertin, produzido pelo pintor Dominique Ingres em 1832, cobre as paredes do escritório. “Era um homem de cultura e conhecimento”, exalta Baietti, ex–diretor de uma escola e habitante do Livro Guinness dos Recordes desde 2002, depois de ter obtido o oitavo diploma universitário, em Ciências do Desporto, na conhecida Universidade Sapienza de Roma.
A decoração é kitsch. Estudioso, aprendiz, aluno interessado e competitivo, mas não necessariamente um intelectual herdeiro das velhas escolas de pensamento greco-romanas. Segundo a AFP, o septuagenário não podia estar “mais distante da imagem típica de um erudito”. “Sou uma pessoa muito simples, estou orgulhoso de mim mesmo, mas nunca me senti no topo, como muitos outros. Comecei a trabalhar para poder pagar os meus estudos e alimentar a paixão e o desejo de manter o cérebro em formação contínua”, acrescenta em entrevista à italiana “Meta Magazine”.
Casado, pai de um filho de 22 anos e voluntário da Cruz Vermelha, tem nos livros e nos professores uma segunda família. Há 15 anos já era titular dos cursos de Sociologia, Humanidades, Direito, Ciências Políticas e Filosofia. De então para cá alargou o palmarés como um ser esfomeado por conhecimento e sabedoria.
Passou por dificuldades. Em Ciências Estratégicas, organizado conjuntamente pelo Ministério da Defesa e pela Universidade de Turim, foi obrigado a apresentar-se de uniforme. “(O curso) tratou de temas delicados relacionados com a segurança nacional”, recorda. E em Criminologia, pela Universidade de Roma, confrontou-se com vários presos. “Depois de falar com eles, de ouvir os argumentos, uma pessoa questiona-se sobre o que é justo ou não”, confessa.
No último, novo desafio. Em Nápoles, na Universidade Pégaso, foi necessário o auxílio das tecnologias de comunicação para concluir a formação em Turismo. “Tendo em conta que usar a internet não é algo muito acessível para alguém da minha geração, quis provar que a educação à distância é tão boa quanto o ensino tradicional e quebrar um preconceito instituído”, assume. E com bons resultados, já que a 1 de fevereiro concluiu o 15.o curso universitário.
Férias escolares? Nem pensar. O tempo é limitado, e o saber infinito. A idade avançada não condiciona planos e, apesar de reconhecer o cansaço, nova licenciatura está na calha: a 16.a, em Ciências da Alimentação, que se prepara para tirar em silêncio, no seu escritório, durante a madrugada, entre as três e as cinco da manhã. ”É a hora a que o meu cérebro está disponível para assimilar conhecimento e que me permite manter uma vida familiar normal.”
Na pequena vila de Velletri, Baietti é um herói local e tem um cartaz gigante afixado na rua, com fotografia e mensagem de agradecimento. A imprensa de todo o mundo está espantada com a capacidade de resistência. Universidades estrangeiras, como a de Moscovo, enviaram mensagens a congratulá-lo. Os títulos pessoais, dedica-os, no entanto, à “bella Italia” que sempre o “estimulou a chegar mais longe”. Como um atleta que entrega a medalha ao país.
Os Diplomas do Recorde
• Educação Física
• Sociologia
• Humanidades
• Direito
• Psicologia
• Filosofia
• Ciência Política
• Literatura
• Ciências Estratégicas
• Ciências de Investigação
• Criminologia
• Ciência Militar
• Ciências do Desporto
• Turismo