A corrida ao Novo Banco parecia ter mais uma carta no baralho depois de a Aethel Partners ter avançado com uma proposta de quatro mil milhões de euros para a compra da instituição. Mas o interesse é tardio: a oferta chegou numa altura em que a negociação de venda está a ser feita exclusivamente com a Lone Star.
O i sabe que tanto o Banco de Portugal como o Ministério das Finanças receberam uma carta de intenções, mas esta não altera nada. “Há negociações exclusivas com a Lone Star e, por isso, não há nenhuma alteração”, avança fonte próxima, sublinhando que apenas podem ser tidas em conta outras propostas caso as conversações com a Lone Star não cheguem a bom porto. Ainda assim, teriam de ser considerados todos os outros possíveis interessados.
Proposta de 4 mil milhões A proposta por parte da Aethel Partners, que é de Ricardo Santos Silva e Aba Schubert, tem o apoio de investidores institucionais não identificados, e a ideia é que a Aethel Partners fique no capital do banco durante pelo menos cinco anos. O valor da oferta ascende aos três mil milhões de euros, mas deixa espaço para um aumento de capital na ordem dos mil milhões.
Esta não é, no entanto, a primeira vez que a Aethel Partners joga as cartas de forma a conseguir ficar com o Novo Banco. Já em janeiro tinha sido tornado público o interesse da empresa na instituição, mas também se ficou a saber que, por essa altura, a Aethel Partners apenas poderia entrar na corrida se conseguisse juntar-se aos fundos que já lá estavam, a Apollo/Centerbridge ou a Lone Star.
A verdade é que, para concorrer ao Novo Banco, a Aethel Partners criou, há cerca de dois meses, uma outra sociedade (a Aethel Limited), à margem da Pivot SGPS, onde há uma parceria com Miguel Relvas – uma empresa que foi escolhida para comprar um banco do universo BPN.
Quem é a Pivot e a Aethel? Estávamos em 2015, quando o Estado mostrou estar muito perto de vender o banco Efisa – banco de investimento do ex-BPN – à Pivot, detida pela Aethel Partners. Entre outros investidores, a Pivot contava com Ricardo Santos Silva (cofundador da Aethel, ex-BBVA e ex-BESI, hoje Haitong), Aba Schubert (ex-Eton Park) e Mário Palhares (ex-presidente do Banco Angolano de Investimentos e antigo vice-presidente do Banco Nacional de Angola).
Em julho de 2015 era divulgado um comunicado a dar conta de que a Aethel se orgulhava de confirmar que era “assessor financeiro exclusivo da Pivot SGPS no processo de venda do Banco Efisa”.
Em dezembro desse ano, a venda era dada como efetuada. Multiplicaram-se então notícias a dar conta de que o banco Efisa tinha sido vendido por 38 milhões de euros.
Na altura deste negócio, a Aethel Partners funcionava ainda como assessor financeiro da Pivot SGPS. “Congratulamo-nos pela tomada deste passo importante para o futuro do Banco Efisa e estamos ansiosos por começar a trabalhar no sentido de tornar o banco numa instituição de referência nos mercados em que irá operar”, explicava Ricardo Santos Silva em comunicado.
No entanto, o ano passado tornou-se amargo para os envolvidos no processo. Já estávamos no final do ano e a Pivot continuava a não ter autorização do Banco Central Europeu para comprar o Efisa. Nesta altura, a empresa tinha ano e meio de vida, mas já perdera sócios. Na estrutura continuavam então Ricardo Santos Silva, Aba Schubert e Miguel Relvas, tendo sido a presença do ex-ministro na Pivot que fez correr muita tinta.
Miguel Relvas chegou a ser chamado ao parlamento para explicar a ligação ao Efisa. Principalmente porque o governo, do qual fez parte até 2013, injetou cerca de 90 milhões de euros neste banco antes de o vender, o que acabou por acontecer num negócio de apenas 38 milhões.
Polémica de Relvas e da Pivot A meio do ano passado e já com muita polémica pelo meio, Miguel Relvas acabou por admitir que a Pivot apenas tinha sido criada para comprar o banco Efisa.
Por esta altura, o ex-ministro admitia que a empresa Pivot, da qual pretendia ser acionista, tinha sido propositadamente criada para o negócio do Efisa. Mas o facto de ter pertencido ao governo na altura da recapitalização, num valor que foi superior em muito à venda, não deu tréguas nas páginas dos jornais.
Miguel Relvas acabou por reagir, justificando que não teve qualquer ligação aos processos ligados ao Efisa. “Não fui responsável pelo processo de reprivatização do Banco Efisa”, afirmou, sublinhando ainda que as sociedades estatais Parvalorem e Parparticipadas, que detinham e acabaram por vender o banco Efisa, pertenciam à tutela do Ministério das Finanças.
Já quando questionado sobre a constituição da sociedade Pivot a 3 de julho de 2015, exatamente no dia em que terminava o prazo para concorrer à compra do banco de investimento do ex–BPN, Relvas disse apenas que se tratava de prática comum “a criação de sociedades com o intuito de prosseguir fins específicos”.