François Fillon insiste em navegar pelas águas agitadas das eleições presidenciais francesas e esta quarta-feira prometeu manter-se na corrida, apesar de estar agora sob investigação formal pelo pagamento de dezenas de milhares de euros à mulher e filhos por empregos que parecem não ter desempenhado.
O candidato do centro-direita foi convocado durante a manhã pelos juízes encarregados do processo, o que o forçou cancelar uma visita à Feira Agrícola de Paris. Os magistrados disseram-lhe que está sob investigação formal e que no próximo dia 15 terá de aparecer em tribunal, onde provavelmente será acusado.
A sua equipa respondeu organizando uma conferência de imprensa urgente, apenas horas depois da reunião com os juízes, em que discursou um Fillon combativo. “É um assassinato político”, lançou, insistindo em desvalorizar as acusações e atribuí-las à esquerda francesa. “Não cederei, não me renderei, não me retrairei”, afirmou.
Fillon vive por estes dias um perigoso ato de funambulismo. Por um lado, resiste aos apelos do seu próprio partido, o Les Republicains, que tenta convencê-lo a desistir, embora, por outro lado, também não pareça ter candidatos de peso para ocupar o seu lugar – Fillon venceu as primárias para surpresa de muitos e os dois classificados seguintes recusam agora concorrer.
As sondagens indicam que a maioria dos franceses prefere ver Fillon de fora das eleições, cuja primeira volta acontece no final do próximo mês. Marine Le Pen vai provavelmente vencer a primeira ronda, mas é na segunda volta, em maio, que as eleições ficarão decididas. Fillon e Emmanuel Macron lutam pelo lugar de adversário da líder da Frente Nacional.
O candidato de centro-direita, que, até ao escândalo dos pagamentos indevidos, era o grande favorito ao Eliseu, disse no trilho de campanha que exigiria dos seus ministros a demissão caso estivessem sob investigação formal, indicando que faria o mesmo. Agora que ele próprio é investigado e está na iminência de ser acusado, porém, a promessa parece ter-se dissipado.
François Fillon diz que é inédito abrir-se uma investigação contra um candidato presidencial a poucas semanas das eleições e que isso demonstra a intenção política do caso. O candidato procura agora decidi-lo, em parte, nas urnas. “Só o sufrágio universal, e não um procedimento ad hoc lançado contra mim, pode determinar quem é o presidente da República”.
A polémica explodiu no final de janeiro, quando o jornal satírico "Le Canard enchaîné" revelou que Penelope Fillon, a mulher do candidato, desempenhou o cargo de sua assistente parlamentar ao longo de vários anos, pelo qual recebeu qualquer coisa como 500 mil euros, apesar de na altura ser também colaboradora da publicação "Revue des deux Mondes" e de não existirem relatos de que alguma vez tenha assistido o seu marido quando este era deputado.