Turquia. Erdogan não gostou de manchete e o jornal pediu desculpa

Notícia sobre mal-estar no exército turco contra o governo levou ao afastamento do chefe de redação.

A primeira página da edição do passado sábado do “Hurriyet” não agradou nem um bocadinho a Recep Tayyip Erdogan. De acordo com aquele jornal turco de grande tirada, as críticas e o constante clima de especulação, que teimam em pairar sobre o exército, desde a tentativa falhada de golpe de Estado, em julho do ano passado, estariam a causar inquietação e desconforto junto da cúpula do Estado-Maior da Turquia, pelo que as palavras escolhidas para dar título à notícia iam no sentido da revelação de um sentimento de mal-estar, partilhado pelos mais altos oficiais militares, contra Erdogan.

O presidente turco, que tem liderado uma vaga nunca vista de detenções no país, justificada pelo estado de emergência ainda em vigor, não gostou e disse mesmo que a manchete do “Hurriyet” demonstrava “indelicadeza” e “falta de caráter”.

“Nem a direção do jornal, nem os seus funcionários, tinham o direito de escrever aquele título”, disse Erdogan aos jornalistas, na terça-feira, citado pela Al-Jazeera. “Já foram tomadas medidas legais (…) porque ninguém tem o direito ou a autoridade de colocar instituições estatais umas contra as outras”, acrescentou.

Dada a reação negativa do chefe de Estado, a resposta do jornal surgiu em jeito de pedido de desculpas. Embora tenha explicado, através de um comunicado, que a notícia se “baseara totalmente num briefing institucional” do Estado-Maior, a direção do “Hurriyet” admitiu que as palavras escolhidos para a primeira página ofereceram um entendimento diferente do que o pretendido – diz o jornal que a ideia nunca foi noticiar a apreensão dos militares contra o governo – e, para além de confirmar o afastamento do seu chefe de redação, o veterano Sedat Ergin, confessou, com todas as letras: “Pedimos desculpa”.