Quando se fala num novo aeroporto em Portugal tiram-se da arca estudos e muitos problemas. O Montijo não foge à regra. Ambientalistas, pilotos e câmaras protestam e surgem estudos para todos os gostos que põem em causa a solução. Uma vez são as aves, outra é o Cristo Rei e até uma igreja no Montijo surge na rota dos aviões.
Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, adiantou ontem, na comissão parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas, que o facto de o aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, estar perto do limite da capacidade obrigou o governo a “tomar decisões rápidas relativas à expansão da capacidade”. No entanto, o que não faltam são posições contra. Foram levantadas questões ambientais, de favorecimento político-partidário, de falta de capacidade para juntar uso militar e uso comercial. Mas, a somar a tudo o que já vem sendo dito, existe ainda o facto de o Cristo Rei ser um obstáculo e até o nível do mar parece comprometer a solução Portela+Montijo.
O ministro acabou por sublinhar, mais uma vez, a falta de estudos e garantiu que os que existiam tinham sido realizados pela concessionária. A verdade é que, passados anos a estudar a matéria, o governo volta a destacar que “faltavam estudos do lado do Estado” e “este não podia prescindir de avaliar de modo próprio, e exclusivamente com o interesse público em mente, as opções estratégicas para o país”.
O governo já tinha falado várias vezes sobre os estudos que tinham sido feitos no ano passado, mas só agora é que foram enumerados os pontos que mereceram atenção. De acordo com Pedro Marques, foram executados “estudos de procura; de avaliação das alternativas e a sua articulação com a gestão do tráfego aéreo; estudos de capacidade e análises de compatibilização das soluções com as operações da Força Aérea”.
No entanto, apesar de o executivo de Costa garantir que foi feita uma análise à possibilidade de a base aérea do Montijo conciliar o uso militar e comercial, a Força Aérea fez saber, há pouco tempo, que entendia ser necessário que o impacto na operação militar fosse estudado de forma aprofundada e independente. E foi com este propósito que se constituiu um grupo de trabalho para avaliar os impactos, para a defesa, do uso civil e militar da base do Montijo no curto, médio e longo prazo.
Acima de tudo, Pedro Marques sublinhou que a solução Montijo+Portela é a opção financeiramente mais comportável: “O custo pode ser integralmente suportado através das receitas aeroportuárias, mantendo a competitividade destes aeroportos face aos principais aeroportos concorrentes.”
Além disso, o ministro aproveitou ainda para destacar o facto de o Montijo ser uma solução que “permite o desenvolvimento harmonioso da Área Metropolitana de Lisboa porque reparte o desenvolvimento pelas duas margens do Tejo”.
No entanto, a insistência do governo nas vantagens da solução encontrada continua a não afastar críticas e novas questões sobre a mesma.
Análise do nível do mar Uma delas tem a ver com o facto de a base aérea do Montijo ser vulnerável à subida do nível do mar. De acordo com a TSF, “a dúvida já não é se vai acontecer, mas quando e a que velocidade”.
A verdade é que, segundo os investigadores da Faculdade de Ciências, ainda que o Montijo não esteja entre as situações mais preocupantes, há uma parte da base aérea que é vulnerável a esta possível subida do mar.
Em resposta a esta questão, fonte do Ministério do Planeamento e Infraestruturas explica que todas as avaliações que estão a ser feitas têm um horizonte temporal que não ultrapassa os 40 anos. A mesma fonte explica ainda que a possibilidade de subida do nível médio do mar será tratada no estudo ambiental, que vai ser entregue ainda este ano.
Mas esta não foi a única questão levantada esta semana. O dia de ontem ficou ainda marcado por notícias que davam conta de que o Cristo Rei é considerado um obstáculo nas zonas de aproximação e descolagem.
Ainda assim, a ANA Aeroportos minimiza a questão e considera que tanto o Cristo Rei como a Igreja de Nossa Senhora da Atalaia, no Montijo, não “limitam significativamente” a operação.
O certo é que estas questões apenas se juntam a muitas outras que criaram polémica desde muito cedo. Ambientalistas, pilotos, municípios do distrito de Setúbal e até engenheiros contestam a ideia de um aeroporto complementar na Margem Sul.
Depois de muitos ambientalistas colocarem vários contras como a poluição do ar ou a conservação da natureza, foi a vez de os municípios da região de Setúbal contestarem a ideia de um aeroporto no Montijo.
Também os pilotos avisam que a base no Montijo jamais poderá ser usada como alternativa nos voos de longo curso caso uma das pistas do aeroporto de Lisboa seja desativada. A esta posição da Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA) juntou-se também o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC).
Além dos pilotos, o bastonário da Ordem dos Engenheiros já fez saber que os acessos ao novo aeroporto devem ser tidos em conta.