Sobre a habitação, há que dizer que os preços dispararam. Estudos do setor imobiliário mostram que «em 2016 os preços das casas novas oscilaram entre 250 mil euros e 1.5 milhões de euros, e as usadas custaram até 780 mil euros».
Acrescentam: «Observou-se, nos imóveis para venda, uma elevada concentração em valores de oferta superiores aos 500.000 euros». Dizem ainda que «não é indiferente a procura associada aos designados ‘golden visa’ e/ou regime fiscal de residentes não habituais». A zona prime vai da Baixa ao Marquês de Pombal, passando pelo Príncipe Real.
Quanto às obras, à medida que a poeira for assentando diminuirão os decibéis e as queixas. Fernando Medina está a construir uma cidade para ser bonita para os estrangeiros. As obras do eixo central, do Marquês ao Campo Pequeno, passando pela Fontes Pereira de Melo, servem para encher o olho ao turista, com árvores e passeios a imitar a Avenida da Liberdade, uma das mais caras da Europa.
Aliás, basta andar um bocado na Av. da Liberdade e na Av. da República para vermos que só os prédios antigos estão a ser reabilitados: para apartamentos de centenas de metros quadrados, que custam milhões de euros. O mais recente exemplo é um prédio branco na Av. da República que faz gaveto com a Av. Miguel Bombarda, com uma placa de venda com carateres… em chinês.
Tudo isto existe, tudo isto é fado.
Mas numa cidade que está a ser embelezada para os turistas, vale a pena perguntar: e que impacto tem o turismo? E o que acham os lisboetas disso?
A Associação de Turismo de Lisboa, presidida pelo também presidente da CML, Fernando Medina, divulgou um estudo que diz: «O setor do turismo na região de Lisboa gerou 8,4 mil milhões de euros em 2015, em áreas como a hotelaria e a restauração, e possibilitou a criação de 150 mil postos de trabalho». Segundo o estudo, realizado pela consultora Deloitte para a Associação Turismo de Lisboa, na hotelaria verificou-se um aumento de receitas na ordem dos 240 milhões de euros, e na restauração o encaixe financeiro subiu 200 milhões. Isto, de 2005 a 2015.
Quanto ao grau de satisfação dos lisboetas, o mesmo estudo mostra que estão muito felizes com o boom turístico.
Quanto às receitas da cidade, é fácil perceber quais são: receitas e impostos gerados pela venda de imóveis; impostos sobre o património; e receitas e impostos sobre o turismo.
As obras que estão a ser feitas são exclusivamente para servir quem gera receita e impostos.
De 800.000 habitantes em 1981, Lisboa passou para os 550.000 habitantes em 2011. E assim não vai recuperar. A classe média não tem lugar na capital. Tem como fado viver nas cidades satélite e vir à capital trabalhar no turismo: em restaurantes e hotéis.
É este o modelo socioeconómico do PS e de Fernando Medina. E dizem eles que são de esquerda.