As desigualdades entre homens e mulheres começam no trabalho e continuam em casa. Segundo um novo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal é dos países em que se nota uma maior diferença entre homens e mulheres no que respeita ao tempo dedicado a trabalho não remunerado, ou seja, tudo o que está relacionado com tarefas domésticas e cuidado dos filhos.
Traduzido em números, esta análise mostra que as portugueses passam quase 5,5 horas por dia (328 minutos) dedicadas a estas tarefas, tempo que se reduz para pouco mais de 1,5 horas (96 minutos), no caso dos homens.
Esta disparidade coloca Portugal no top cinco dos países com uma maior desigualdade entre sexos no que toca a trabalhos domésticos, com uma diferença de 232 minutos entre eles e elas, o equivalente a quase quatro horas.
À frente de Portugal ficam apenas a Turquia, com uma diferença de 261 minutos, o México com 260 e o Japão, com 237 minutos. E estes são valores bem longe da média da OCDE, que põe os homens a dedicar 2,23 horas a tarefas de casa e as mulheres 4,53, o equivalente a uma diferença de 2 horas e meia.
A tempo inteiro
A contrário da Alemanha, país sobre o qual se fez uma análise exaustiva e que serviu de termo de comparação com os restantes países, em Portugal, a maioria das mulheres trabalha a tempo inteiro, o que indicia uma maior sobrecarga.
Tendo como base dados de 2013, que davam conta de uma taxa de empregabilidade de 73,4% para as mulheres, apenas 5,8% o faziam em sistema part-time. Aliás, Portugal assume lugar cimeiro nesta lista, com apenas a Eslovénia, a Irlanda, a República Checa e a Hungria à frente do ranking de países com mulheres que apenas trabalham algumas horas por dia.
Justiça
Um estudo divulgado no ano passado, e que analisou a forma como o tempo é usado por género, mostra que sete em cada dez mulheres portuguesas consideram justas as horas passadas em tarefas domésticas.
Segundo o estudo, realizado pelo Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS) em parceria com a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), em todos os grupos etários são as mulheres que dedicam mais tempo às tarefas domésticas e à prestação de cuidados a menores e pessoas dependentes.
As conclusões desse estudo não atingem os valores divulgados pela OCDE mas, mesmo assim, já espelhavam a disparidade entre sexos. Segundo este estudo, as mulheres dedicam 4,23 horas diárias a estas tarefas e os homens 2,38 horas.
Somando o trabalho pago e não pago, o estudo conclui que, em média, as mulheres trabalham, em cada dia útil, mais 1,13 horas do que os homens.
São as mulheres que vivem com menores de 15 anos que consideram “fazer mais do que é justo”, o que indica que “o sentimento de injustiça face à partilha das tarefas domésticas expresso pelas mulheres” pode ser potenciado pela existência de crianças, pode ler-se no estudo. Também são as mulheres quem mais sente as implicações das responsabilidades parentais no emprego, com mais de uma em cada três a assumir que teve dificuldades em concentrar-se, algumas vezes no trabalho, durante o último ano. Já a maioria dos homens (74,2%, face a 64,9% das mulheres) disse que nunca ou raramente sentiu esta dificuldade.