Donald Tusk conseguiu ontem o feito inédito de ser reeleito para a chefia de um dos braços europeus com a oposição do seu próprio país. O presidente do Conselho Europeu foi reconduzido a um novo mandato de 20 meses com o voto favorável de 27 Estados-membros e o único contrário da Polónia, onde foi primeiro-ministro do partido adversário do atual governo nacionalista do Partido Direito e Justiça (PIS). Varsóvia argumentava ontem que Tusk foi para além dos seus poderes como presidente do Conselho ao criticar o rumo do governo polaco e que, por isso, não podia ser reeleito. Beata Szydlo, a primeira-ministra, tentou evitar a reeleição, apresentar um candidato alternativo, adiá-la e juntar outros países na oposição, mas não foi capaz de impedir a reeleição de Tusk, da qual poucos duvidavam.
Tusk, que comanda o órgão que junta os chefes de Estado da comunidade europeia e decide parte da sua estratégia, será uma das principais figuras em Bruxelas na negociação do Brexit. Chegou-se a pensar que os britânicos pudessem querer juntar-se à oposição polaca para conseguir apoio no processo de diálogo, mas isso não se verificou. O governo húngaro, em muito semelhante ao executivo polaco, na defesa de uma democracia liberal, nacionalista, anti–imigração e do que diz ser a identidade cristã europeia, também não acedeu aos apelos polacos. “Estou grato pela confiança e avaliação positiva do Conselho Europeu”, escreveu o líder polaco no_Twitter. “Farei o melhor para fazer a UE melhor.”
O cisma entre governo polaco e Tusk explica-se, em parte, pelas críticas de Tusk e Bruxelas ao rumo nacionalista polaco, e, em parte, pela época em que Tusk e o PIS_pertenciam a dois lados opostos dos corredores do poder em Varsóvia. O_líder do partido do governo e, em muitos aspetos, o verdadeiro detentor do poder na Polónia, Jaroslaw Kaczynski, responsabiliza-o “politicamente” pelo desastre de avião que matou o seu irmão gémeo, Lech, em 2010, quando Tusk era primeiro-ministro. Para muitos seguidores da formação nacionalista, o presidente do Conselho Europeu não fez o suficiente para investigar o acidente, que atribuem a mão russa.
A eleição de Donald_Tusk foi o momento político mais relevante do primeiro dia da cimeira europeia desta semana, que termina hoje, com a reunião informal de 27 Estados-membros – menos o_Reino Unido – em que se discutirá o futuro da comunidade depois da saída britânica. O encontro, porém, será acima de tudo uma demonstração de unidade ou o início da discussão sobre uma Europa a duas velocidades, tese muito criticada no leste europeu, até a esta semana no congelador e reavivada segunda-feira pelos líderes francês, alemã, espanhol e italiano.