Editorial do b.i: Vemo-nos por aí

O jornalismo vive, por tudo isto, momentos negros. Perante o sufoco da crise tem feito pouco mais do que manter-se à tona de água. Não por não desejar mais do que isso. Mas por, muitas vezes, não poder mais.

Corria o ano de 1999 quando tive a oportunidade de participar no Forum for European Journalism Students, naquele ano em Antuérpia. Até à data era uma pouco convicta estudante de Comunicação Social e, de repente, estava reunida com dezenas de outros estudantes da área. Diariamente escutávamos o relato de rádio que um grupo de jovens jugoslavos nos fazia, através de uma emissão ilegal, da Guerra do Kosovo. Quando regressei a Portugal, quase sem me aperceber, comecei a dizer que queria ser jornalista. E foi já com esta convicção que, em 2001, terminado o curso, comecei efetivamente a trabalhar como jornalista, primeiro na rádio, depois na imprensa escrita.

Ao longo dos anos que se seguiram, nas mais variadas experiências, fui descobrindo que jornalista queria ser e, sobretudo, fui permitindo que o jornalismo se instalasse em mim. Sobretudo a partir de 2006, ano em que me juntei a esta equipa e tive a oportunidade de ajudar a fazer nascer um jornal, o SOL. E não há nada que alguma vez possa apagar essa memória de ajudar a criar um novo órgão de comunicação social.

Desde então conheci e entrevistei centenas e centenas de pessoas, conhecidas e anónimas, e tal qual vampiro, roubei-lhes bocadinhos que fui acrescentando em mim. Onze anos depois sou muito mais do que era. E tenho a certeza que sinto o mesmo que a maioria dos jornalistas sente. Porque as histórias dos outros se entranham na nossa.

Infelizmente, nestes mesmos 11 anos, muitos órgãos de comunicação social fecharam portas, muitos jornalistas ficaram sem emprego. Nomes mais ou menos conhecidos. Os mais conhecidos acabam comentados um pouco por todo o lado. Os outros são só números. Mais 20, mais 50, mais 100 jornalistas desempregados.

Nos últimos anos tivemos todos de encarar a ideia de que os jornais e os jornalistas já não são indispensáveis, que as crianças e os jovens de hoje não sabem o que é o cheiro a jornal ou as mãos pretas da tinta que desbotou. O problema adjacente a isto é que, quando não se cresce com estes hábitos, como se pode desejar que estas crianças e jovens sejam, mais tarde, compradores e leitores de jornais?

O jornalismo vive, por tudo isto, momentos negros. Perante o sufoco da crise tem feito pouco mais do que manter-se à tona de água. Não por não desejar mais do que isso. Mas por, muitas vezes, não poder mais. E perante a exaustão de quem se sente a combater uma batalha inglória, muitas vezes, nós jornalistas, ainda temos de nos confrontar com a cruel pergunta: «Por que não fazem mais e melhor?» A resposta é ironicamente simples: porque não podemos. E não podemos porque as pessoas não compram jornais.

Mas não sou uma pessimista. Nunca fui e não tenciono começar a ser agora. Nem posso ser. Continuo a acreditar no jornalismo porque continuo a acreditar nas pessoas e nas histórias que há para contar. Vou acreditar sempre. O jornalismo tem de se repensar, e temos todos, jornalistas e não-jornalistas, de perceber que não há liberdade sem jornais. Mas também não há jornais sem jornalistas.

O desejo que, há 11 anos, me trouxe até esta casa de onde agora me despeço – uma casa à qual entretanto se juntou também o jornal i –, é o mesmo que me continua a mover: a vontade de aprender mais, de me empurrar para fora da minha zona de conforto e, desta forma, alargando-a. E_nada disto muda mesmo deixando a prática diária do jornalismo. Porque há profissões que se exercem. E há outras que fazem de nós o que somos. Essas nunca se abandonam.

Obrigada.

Vemo-nos por aí.