François Fillon, o candidato do centro-direita francês às eleições presidenciais, foi esta terça-feira indiciado pelos crimes de “desvio de fundos públicos”, “cumplicidade e ocultação do desvio de fundos públicos” e “cumplicidade e ocultação do abuso de bens públicos”, o que indica que as suspeitas em torno dos empregos fictícios alegadamente dados à sua mulher e filhos têm substância para chegar a tribunal.
A notícia não é propriamente surpresa, visto que o coletivo de juízes no caso convocou Fillon há já duas semanas para comparecer em tribunal – quase de certeza para ouvir os crimes pelos quais é investigado. Uma investigação formal ao candidato do centro-direita, porém, assegura que não se dissipará o escândalo que o afundou nas sondagens e parece condená-lo a uma derrota na primeira volta das eleições, já a 23 de abril.
Fillon prometera em janeiro abandonar a corrida presidencial caso acabasse indiciado pelas suspeitas de que, ao longo de mais de dez anos – primeiro como deputado e, mais tarde, como ministro do governo conservador – assegurou-se de que a sua mulher recebeu 900 mil euros por um emprego de assistente parlamentar de que ninguém se recorda e sobre o qual não parecem existir provas de que ela o tivese desempenhado.
Mas o candidato voltou atrás com a palavra há duas semanas, argumentando que o caso é uma fabricação da esquerda francesa, que os juízes são cúmplices num “homicídio político” e que o veredito cabe às urnas, não aos tribunais. Ao fazê-lo, Fillon encostou o seu partido à parede: não se afastou pelo seu próprio pé, convocou as suas bases conservadoras para uma grande manifestação e demonstrou ao Les Republicains que apoiar um outro candidato a poucas semanas das eleições lhe custaria dezenas de milhares de votos.
O Les Republicains – a mais recente encarnação do partido Gaulista, antes UMP – decidiu na última semana, “por unanimidade”, apoiar a candidatura de Fillon, pedindo-lhe nos bastidores que moderasse as acusações aos juízes e voltasse a um terreno mais central. A manobra, porém, de pouco servirá: as sondagens continuam a não dar mais do que 20% a Fillon, muito atrás do independente centrista Emmanuel Macron, pelos 25%, e da líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, na frente, com 26%.