Os oito procuradores vão pedir mais um mês, na quarta-feira, a Joana Marques Vidal para fechar a acusação a José Sócrates, no âmbito da Operação Marquês, sabe o i.
Foram já várias as vezes que os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) pediram, de modo informal, mais tempo para fechar a investigação. Mas, agora, o pedido será feito através de um requerimento durante a reunião agendada entre os investigadores envolvidos no caso com a procuradora-geral da República. Joana Marques Vidal deverá aceder ao pedido dos procuradores e já aproveitou para lembrar que Bernard Madoff “andou a ser investigado por autoridades fiscais, tributárias e judiciais, durante oito anos”.
Um dos argumentos dos investigadores para pedir mais um alargamento do prazo para fechar a acusação – inicialmente previsto para dia 17 de março – passa por aguardar pelas cartas rogatórias de duas instituições estrangeiras, uma da Suíça e outra de Singapura. São documentos essenciais, com informação bancária sobre os mais de 40 milhões de euros que Bava e Granadeiro, alegadamente, terão recebido através do saco azul do GES, a Espírito Santo Enterprise.
Outro dos argumentos dos procuradores passa pela confrontação dos arguidos e testemunhas do caso com novas provas. É que, neste segundo round de interrogatórios, os procuradores vão usar pela primeira vez um dos grandes trunfos do Ministério Público: documentos que foram apreendidos em julho de 2016 durante as buscas à Portugal Telecom (PT) e a alguns dos seus administradores.
Nestes documentos estão referidas todas as pessoas que alegadamente receberam luvas dos 96 milhões de euros dos negócios da PT, nomeadamente José Sócrates, sendo o mandante para a distribuição desse dinheiro, que será Ricardo Salgado. O i sabe que o antigo presidente do BES também será novamente ouvido durante o segundo round de audições de testemunhas e arguidos.
E após a realização de todas as audições com as novas provas, os procuradores vão precisar de mais um mês para ultimar a acusação.
Terão sido estas as provas com que José Sócrates terá sido, ontem, confrontado durante o interrogatório no DCIAP, que durou mais de seis horas. No entanto, à saída, o ex-primeiro-ministro – ouvido pela terceira vez – voltou a desvalorizar a investigação dizendo que o Ministério Público “não foi capaz de apresentar nada a não ser uma escuta aqui e ali”. José Sócrates diz-se ainda “espantado” porque “não há novas provas” ao fim de “três anos e meio de investigação, frisando que as “alegações são absurdas e estapafúrdias”.
Quanto ao alargamento do prazo para fechar a acusação, o ex-líder do PS diz apenas que não o “espanta nada que adiem outra vez”, considerando “escandaloso” que o Ministério Público “não cumpra os prazos” tendo em conta que “a lei é igual para todos”.
O i sabe que serão ouvidos praticamente todos os arguidos do processo. Na próxima quarta-feira será ouvida a ex-mulher de José Sócrates, Sofia Fava. No mesmo dia será interrogado também Diogo Gaspar Ferreira, antigo presidente da empresa gestora do empreendimento Vale do Lobo.
Na quinta-feira será a vez de Joaquim Barroca, fundador do Grupo Lena, que será confrontado com documentos que revelam o alegado pagamento de 2,8 milhões de euros do Grupo Lena a José Sócrates.
O ex-primeiro-ministro e antigo líder do PS está indiciado pelos crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Além de Granadeiro, Zeinal Bava, Sócrates, Ricardo Salgado e Joaquim Barroca, entre os arguidos estão ainda Armando Vara, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos e antigo ministro socialista, Carlos Santos Silva (ouvido novamente na passada sexta-feira), empresário e amigo de Sócrates, João Perna, antigo motorista de Sócrates, Paulo Lalanda de Castro e o empresário luso-angolano Hélder Bataglia.
Até ao momento, o caso conta com 25 arguidos, dos quais 19 são pessoas e seis são empresas.