Olhando para os números que nos são trazidos pelas projeções dos resultados das eleições legislativas holandesas, saltam à vista dois factos evidentes: a vitória do Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD), do primeiro-ministro Mark Rutte e a consequente derrota da extrema-direita, encarnada no Partido da Liberdade (PVV), do excêntrico Geert Wilders.
Há, no entanto, um outro facto importante deste ato eleitoral, que tem que ver com o excelente desempenho dos partidos ditos antissistema, percussores de visões e programas políticos alternativos e em clara rota de afastamento do apregoado pelos partidos tradicionais.
A começar pelo próprio PVV. Mesmo confirmando-se que o partido anti-islão e eurocético fica na segunda posição das eleições, com apenas 13% dos votos e a 8% do vencedor, a verdade é que garante mais 8 deputados no parlamento, um feito que mereceu os festejos de Wilders no Twitter. “Ganhámos lugares! Primeira vitória!”, escreveu o antigo deputado do rival VVD e agora líder do partido assumidamente anti-establishment, naquela rede social.
After early exit polls, Geert Wilders says Dutch PM Rutte 'has not seen the last of me.' https://t.co/MNdcPzy8Ud pic.twitter.com/xkMJr91NrF
— Reuters Top News (@Reuters) March 15, 2017
Em igualdade percentual com o PVV, está também o D66, outro pequeno partido que, no caso das sondagens estarem corretas, consegue o seu melhor resultado numa eleição, desde 1994. Numa entrevista recente ao jornal i, o politólogo holandês Cas Mudde apontou esta plataforma liberal progressista, criada em 1966, como um dos primeiros partidos europeus que trouxe para o debate público a discussão sobre a “existência de um fosso entre a elite e a população”. “Trouxeram esta discussão do establishment e anti-establishment para a política holandesa, há mais de 50 anos, que agora está a ser recuperada”. Segundo as projeções, o D66 conseguirá chegar aos 19 deputados, tornando-se num caso sério para uma solução governativa.
Um outro caso de sucesso de um partido situado fora do quadro político mais tradicional na Holanda é o do GroenLinks. Liderados pelo jovem e carismático filho de imigrantes, Jesse Klaver, os verdes estão prestes a conseguir o melhor resultado de sempre da sua história – existem desde 1989 – com a possível eleição de 16 deputados, correspondentes a 11% dos votos. A vitória em Amesterdão, com mais de 19%, confirma o bom desempenho dos ecologistas.
Netherlands (#Amsterdam), result:
GL (G/EFA): 19.3%
D66 (ALDE): 18.2
VVD (ALDE): 15.2
PvdA (S&D): 8.4
DENK (*): 7.5
PVV (ENF): 7#TK17— Europe Elects (@EuropeElects) March 15, 2017
No outro lado da medalha, o da derrota do establishment holandês, o seu principal representante é o (PvdA). Os trabalhistas – fazem parte da coligação governativa – caíram a pique na confiança dos eleitores e podem vir a perder até 29 deputados, uma vez que não parecem vir a conseguir reunir mais de 6% da totalidade dos votos.
Rutte, claro, também entra nestas contas. É certo que, ao que tudo indica, venceu as eleições por 21%, mas não deixa de perder quase 10 deputados, de acordo com as projeções. Se quiser voltar integrar o governo e juntar os necessários 76 deputados para tal, o ainda primeiro-ministro terá de ouvir o que têm a dizer os partidos antissistema. E afastar-se um pouco dele.