Quem quiser avaliar o desempenho do governo de coligação VVD-PvdA, liderado desde 2010 pelo primeiro-ministro Mark Rutte, do partido de centro-direita, dificilmente conseguirá apontar-lhe grandes críticas baseadas em resultados económicos. A Holanda reagiu de forma bastante positiva à crise financeira e tem apresentado um interessante crescimento económico anual, próximo dos 2,5%, e exibido, de forma consecutiva, uma das mais baixas taxas de desemprego das últimas décadas. Mas a verdade é que os liberais estão com dificuldades em descolar do PVV nas sondagens e os 40 deputados que têm no parlamento arriscam-se a ser cortados para quase metade nas eleições de hoje.
Apanhado na curva pela popularidade junto do eleitorado trazida pelas questões propaladas por Geert Wilders sobre a imigração ou o peso da comunidade islâmica na sociedade holandesa, Rutte tem vindo a afastar-se cada vez mais do centro e a colar-se à direita. Provas disso foram, por exemplo, a proibição da utilização de véus islâmicos que cobrem a cara toda em espaços públicos, decretada em novembro, ou a carta aberta que escreveu em janeiro na qual propôs aos que “assediam gays, assobiam às mulheres ou chamam racistas aos holandeses comuns” para “se portarem bem ou irem embora” do país.
O recente imbróglio diplomático com a Turquia, motivado pelo impedimento da realização de ações de campanha em território holandês com vista à preparação para o referendo turco que poderá ditar o aumento dos poderes presidenciais, organizadas por ministros, obrigou o líder do executivo a despender mais tempo em reuniões com os seus ministros do que propriamente em campanha, mas o posicionamento firme que manteve durante todo o processo pode valer -lhe mais alguns votos do eleitorado mais próximo de Wilders.
Rutte catalogou o ato eleitoral de hoje como uma “escolha entre o otimismo e o pessimismo” e espera que o VVD consiga derrotar o PVV, de forma a legitimar a sua pretensão de liderar uma nova maioria governamental.