Wolfgang Schäuble não perde uma oportunidade para lançar avisos a Portugal e ao governo da geringonça sobre os cuidados que devem ser tomados para o país não precisar de um novo resgate financeiro como o de 2011, em que recebeu das instituições financeiras e do FMI um total de 78 mil milhões de euros. Num ambiente de otimismo governamental e presidencial, apesar de os dados económicos e financeiros aconselharem muita cautela, as palavras de ontem de Schäuble caíram como uma pedrada no ambiente político e económico de Portugal. Aliás, de uma maneira geral, tudo o que contradiz o governo e o Presidente da República é muito mal recebido e mesmo alvo de fortes críticas. Foi assim com a presidente do Conselho de Finanças Públicas e foi assim com a UTAO. Teodora Cardoso ironizou com o milagre do défice de 2,1% em 2016 e foi até ameaçada pelo PCP de ficar sem emprego e sem ordenado. Mas não só. O governo chumbou os nomes propostos para o organismo independente, uma forma de paralisar a sua atividade de fiscalização das políticas orçamentais e económicas.
Acontece que Portugal cresceu apenas 1,4% em 2016, muito à custa do consumo privado, com as importações a superarem as exportações e o défice comercial a agravar-se mês após mês. Por outro lado, a dívida pública não para de aumentar e o milagre do défice de 2016 é mesmo um milagre de cativações, cortes, aumentos de impostos e receitas extraordinárias.
Pressões funcionaram Mas vamos a Schäuble. O ministro alemão falava ontem aos jornalistas sobre as vantagens dos resgates que ocorreram em vários países da zona euro nos últimos anos. Salientou que os programas de ajustamento ajudaram estes países, como Portugal, a regressar ao crescimento económico e a cimentar as suas finanças públicas, mostrando que a pressão exercida por estes programas “funcionou”.
Ainda em outubro do ano passado, em Bucareste, o ministro alemão considerou que “Portugal estava a ser muito bem-sucedido até entrar um novo governo, depois das eleições […] declarar que não iria respeitar os compromissos com que o anterior governo se comprometeu”, disse o responsável, já depois de ter deixado o aviso de que, se o executivo português liderado por António Costa não honrasse os compromissos assumidos, o país estaria a arriscar um novo pedido de ajuda internacional.
Foi precisamente a 29 de junho que o disse. “Portugal está a cometer um erro grave se não cumprir os compromissos assumidos.” “Os portugueses não querem [um segundo resgate], e também não precisarão dele se cumprirem as regras europeias.” Mas “têm de cumprir as regras europeias; caso contrário, enfrentarão dificuldades”, salientou. Os avisos e alertas do ministro das Finanças acontecem num ano particularmente difícil para a Europa e para a zona euro. Tão difícil que Portugal só está à tona de água porque tem a mão do BCE bem por baixo.