A crise financeira e económica já teve muitas explicações, mas nenhuma tão original como aquela que foi encontrada pelo presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, que acusou os países do Sul de gastarem o dinheiro em “álcool e mulheres”.
A declaração do ainda ministro das Finanças holandês, que sofreu uma pesada derrota nas eleições, levou o Bloco de Esquerda a apresentar um voto de repúdio na Assembleia da República e foi alvo de críticas de deputados de quase todos os partidos. O governo português já pediu o afastamento do presidente do Eurogrupo.
A nível europeu, o líder do grupo dos socialistas e democratas europeus, Gianni Pittella, considerou “chocantes e vergonhosas” as declarações feitas por Dijsselbloem. “Foi longe demais ao usar argumentos discriminatórios contra os países do sul da Europa. Não há qualquer desculpa ou razão para o uso de uma linguagem assim, especialmente de alguém que se supõe ser progressista”, disse Pittella.
Dijsselbloem, em entrevista ao jornal alemão “Frankfurter Allgemeine Zeitung”, garante que como social-democrata atribui à solidariedade “uma importância extraordinária”, mas quem pede ajuda também tem obrigações. Não se pode gastar o dinheiro em copos e mulheres e logo depois pedir ajuda”.
A afirmação do ministro holandês gerou uma onda de indignação. Os socialistas portugueses também alinharam nas críticas. O eurodeputado Carlos Zorrinho defende, em declarações ao i, que “as declarações são inaceitáveis e demonstram uma enorme arrogância”. Zorrinho diz que Dijsselbloem “não tem um perfil compatível com os valores da União Europeia”. O eurodeputado Manuel dos Santos defende também que a declaração feita pelo presidente do Eurogrupo é “lastimável. Foi uma atitude muito criticável e irá ter consequências”.
Governo pede afastamento
O governo português pediu o afastamento de Jeroen Dijsselbloem da presidência do Eurogrupo. “Hoje, no Parlamento Europeu, muita gente entende que o presidente do Eurogrupo não tem condições para permanecer à frente do Eurogrupo e o governo português partilha dessa opinião”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros. Augusto Santos Silva considerou que “são declarações muito infelizes e, do ponto de vista português, absolutamente inaceitáveis”.
As afirmações polémicas do ministro das Finanças holandês vão ser discutidas no parlamento. O Bloco de Esquerda apresentou um voto de repúdio para que o parlamento condene “afirmações xenófobas e sexistas”, que são “inaceitáveis e um insulto a todos os cidadãos do sul da Europa”.
O PS já escreveu ao presidente do Partido Socialista Europeu (PSE) a pedir a condenação “imediata” da declaração feita pelo presidente do Eurogrupo. Ana Catarina Mendes defendeu que estas afirmações “merecem uma forte e imediata condenação”, porque são “ofensivas, mesmo xenófobas, e não podem ser toleradas por nenhum partido político europeu”.
Confrontado, no Parlamento Europeu, com a entrevista que deu ao jornal alemão, Dijsselbloem recusou pedir desculpa e garantiu que apenas quis frisar a importância de a solidariedade europeia ser acompanhada por “compromissos e esforços”.