Os jovens portugueses querem poder sonhar com um futuro no seu país, sem terem de procurar trabalho no estrangeiro, sem terem de abandonar as suas famílias, sem terem de dizer adeus aos sonhos que foram construindo ao longo dos anos. No fundo, sem terem de passar por aquilo que Filipa Leal tão bem descreve no seu poema: «Ser digna na partida, na despedida, / Dizer adeus com jeito, / Não chorar para não enfraquecer o emigrante. / (…) Ajudá-lo a pesar a mala que não pode levar mais que 20 kg. / Quanto pesará o coração dele? / (…) E não pensar que nunca mais seremos pequenos outra vez, / Cheios de emprego no quarto ao lado, / Quando ainda existia Portugal. / É tanto o que se pede a um ser humano no século XXI. / Que morra de medo e de saudade no aeroporto Francisco Sá Carneiro. Mas que não chore.» É, realmente, tanto o que se perde, quando se sabe, como constata José Craveirinha: «Como um homem treme, / Como chora um homem!»…
Também os adultos querem poder sonhar que o seu país lhes dá as condições necessárias para serem felizes, fazendo aquilo de que gostam, com condições de vida dignas, onde todos possam ter, no mínimo, o essencial para continuarem a sonhar.
Do mesmo modo, as pessoas mais idosas querem poder sonhar que continuam rodeadas por aqueles de quem gostam, recebendo carinho, o tal que alivia as dores do espírito e apazigua as dores físicas.
Sonhar é essencial à vida. Já dizia António Gedeão que «O sonho comanda a vida». É o sonho que nos inspira e faz com que todos os dias nos levantemos com a esperança de que vale a pena viver, de que tudo faz sentido e que a nossa passagem pela terra torna o mundo diferente.
Sonhar é, no fundo, como diz Agostinho Neto: «o meu desejo transformado em força». É alimentar a esperança de que os nossos sonhos se vão tornar realidade, é ter a certeza de que, quando sonhamos, estamos a construir o nosso presente e o nosso futuro. Sem sonho não conseguimos projetar um mundo melhor, um mundo onde valha a pena lutar pelos nossos ideais, por aquilo que mais ansiamos, pelos planos e projetos que vamos construindo.
E quantas vezes não sonhamos que vamos ser felizes para sempre?
Maria Eugénia Leitão