Não filma desde 2014, e até ali construiu uma carreira pela qual muitas actrizes da sua geração matariam. Com um singular percurso, indo aos ziguezagues entre excelentes filmes que lhe granjearam respeito entre os seus pares – fitas como "Nós controlamos a noite" (que define como sua melhor interpretação), "Como um trovão" (em que conheceu Ryan Gosling) e "Holy Motors", de Leos Carax -, e os papéis em grandes êxitos de bilheteira que fizeram dela uma actriz conhecida pelo seu estonteante corpo, interpretando variações da bomba latina com linhas que fazem o coração dar a batida extra: desde "Hitch – A Cura para o Homem Comum" a "Ghost Rider", passando por "Velocidade + Furiosa".
Mas quando era criança Eva Mendes chegou a sonhar ser freira. Casar com Deus. Teria sido um deslumbrante altar, com curvas para o Todo Poderoso desejar voltar à carne. Só que depois soube que as freiras não ganhavam dinheiro. A devoção só tinha como recompensa um calor interior e promessas de céu. Quando ainda se chamava Eva de la Caridad Méndez e era uma adolescente a viver em Los Angeles, não desesperava com a falta de dinheiro para se encher de luxos mas para ajudar a mãe com as contas.
Na altura não via no espelho ninguém que fizesse parar o trânsito. Tinha uma série de complexos. Entre eles a boca, que lhe parecia grande demais. Também não era magra como mandavam as tendências. As linhas voluptuosas ainda não tinham tido a revolução morena, as coxas panorâmicas e o traseiro-ataque-cardíaco eram então tidos como colesterol mau.
Mas os anos vieram em seu auxílio, e Eva tornou-se o desenho do pecado original. Aquelas características que ela sentia como fraquezas, deram-se bem no mercado de valores da sedução, e acabaram por tornar-se o seu passaporte para se afirmar como um símbolo sexual em Hollywood. A par dos blockbusters, foi mostrando as aspirações artísticas com papéis em que revelou ter estofo não só para cativar a atenção do público mas também para segurar cenas de grande tensão dramática. Para lá do sucesso no grande ecrã, ter conseguido amarrar aquele que se tornou o grande galã da nova geração, Ryan Gosling, só levou a cimentar a sua posição enquanto uma das actrizes mais invejadas em Hollywood. Mas, desde então, sumiu-se.
Numa altura em que o namorado parece ter alcançado o cume da fama, e depois de ter levado a irmã pelo braço à cerimónia dos Óscares em que "La La Land" era recordista em número de nomeações, muitos questionaram-se sobre o que teria ficado a fazer a mãe das suas filhas.
Desde o início o casal adquiriu um estatuto distinto, vivendo uma relação discreta, sem alimentar a curiosidade dos consumidores da vida cor de rosa. No seu discurso ao ganhar um Globo de Ouro, Gosling serviu uma pista em relação ao novo papel principal de Eva, agradecendo-lhe por ter ficado a tomar conta das filhas. O período da rodagem do musical terá sido particularmente difícil para ela, com o companheiro fora, enquanto lidava com o golpe de ter perdido o seu irmão. Mas se foram muitos os que viram na vontade de Mendes aceitar o papel tradicional que fora reservado às mulheres como um acto de amor, outros acusaram a opção como retrógrada, e viram no agradecimento de Gosling um exemplo de machismo. Alguns notaram inclusivamente o facto de a actriz ter feito exctamente o oposto do que fez a personagem de Emma Stone em "La La Land", renunciando aos seus sonhos para que ele brilhasse? Mas esta talvez fosse apenas um sinal da tendência dos pretensos defensores da igualdade entre homens e mulheres para se meterem na vida dos outros, colocando Mendes como a mulher oprimida ao invés de assumir que talvez os seus sonhos passem antes de tudo por construir uma família e passar a maior parte do seu tempo junto das filhas enquanto ainda são muito pequenas.
De resto, Mendes tinha dado já sinais de que não se deixa arrumar nas convenções. Sendo fiel a si mesma, e tendo antes afirmado que era alérgica ao casamento, não casou com Gosling, da mesma maneira que não o fez antes na sua outra relação duradoura, com o produtor peruano George Augusto.
Certo é que tem opiniões fortes sobre a forma como quer que as suas filhas cresçam e sejam educadas. Decidiu que não iam crescer nos braços de amas. Fiel ao exemplo que recebeu da sua família, com duas avós e várias irmãs quis ser ela a protagonista e o exemplo na educação das filhas. Decidiu também que elas falariam espanhol, e seriam habituadas desde o berço aos ritmos fortes da cultura latina, aos boleros e à salsa, e teriam muito claro as origens do seu sangue, que é cubano.
Se alguns a atacham de antiquada, Mendes talvez seja menos uma mulher à moda antiga do que uma mulher que sabe de si e que deixa claro que ninguém tem nada a ver com isso. “Não tenho certeza se me retirei, mas quero aproveitar este momento de maneira especial. Não gosto que me tirem do mapa, mas isso é essencialmente o que acontece com o trabalho (quando se toma essa decisão). Acho que pode ser muito saudável se for algo que tu sentes que vale a pena. Neste momento sinto-me privilegiada por estar em casa com as minhas filhas e quero aproveitar as vantagens que tenho”, afirmou à revista "Latina" numa das poucas entrevistas que concedeu nos últimos anos e a primeira após ter tido a segunda filha.
O que é evidente também nas suas palavras, é que impôs o matriarcado no lar Gosling-Mendes. Prova disso mesmo é o facto dos nomes das filhas não apontarem para qualquer influência canadiana (o país do pai): Esmeralda e Amada. E o que deseja para elas é que tenham a mais normal das infâncias. “Gostemos ou não, a privacidade será muito difícil para Esmeralda”, disse ao blog Violet Grey. “Acho que é injusto, mas é a nossa realidade. Então o Ryan e eu decidimos bem cedo dar-lhe toda a intimidade possível enquanto pudermos”, acrescentou.