O comité dos serviços secretos norte-americanos no Senado vai abrir as suas portas para ouvir o que terá a dizer o genro do presidente Donald Trump, no âmbito das investigações que estão a ser levadas a cabo para se esclarecer a natureza dos alegados contactos mantidos entre membros da equipa de campanha republicana e elementos do Kremlin, durante a corrida eleitoral e após a vitória do magnata sobre Hillary Clinton, no chamado período de transição. De acordo com a Casa Branca, a iniciativa de prestar declarações naquela comissão da câmara alta do Congresso norte-americano terá partido do próprio Jared Kushner, que pretenderá esclarecer os encontros que teve com duas figuras de proa da Federação Russa.
O marido de Ivanka Trump e conselheiro do presidente ter-se-á reunido com Sergey Kislyak, embaixador da Rússia nos EUA, e com Sergey Gorkov, presidente do banco russo Vnesheconombank. O primeiro encontro terá sido, na verdade, composto por duas reuniões: uma durante a campanha eleitoral e outra já em dezembro, na Trump Tower, em Nova Iorque, que coincidiu com o anúncio da aplicação de novas sanções à Federação Russa por parte do ex-presidente Barack Obama. Segundo a Casa Branca, as reuniões apenas tiveram como objetivo estabelecer uma linha de comunicação entre a futura administração e Moscovo.
Já o encontro com o banqueiro, conhecido pela proximidade com Vladimir Putin, terá sido um pedido expresso do embaixador e aconteceu igualmente durante a transição. Citado pelo “El País”, um porta-voz de Kushner garante, no entanto, que o genro de Trump “não está a tentar esconder nada e quer ser transparente”, daí o seu pedido de audiência junto do Senado.
Com apenas 36 anos, Jared Kushner é um dos principais conselheiros da nova administração e faz parte do círculo composto pelas pessoas em quem Donald Trump mais confia. Completa, junto com o antigo editor do site noticiosis de extrema-direita, Breitbart News, Steve Bannon, e o chefe de gabinete Reince Priebus, o triunvirato que fala ao ouvido do presidente e define grande parte da estratégia do gabinete presidencial.
Novas responsabilidades
A revelação da audiência de Kushner – ainda sem data marcada, de acordo com a imprensa norte-americana – surgiu no mesmo dia do anúncio da criação de um novo gabinete em Washington, presidido pelo genro de Trump. A novidade, que já tinha sido avançada pelo “Washington Post”, foi hoje confirmada pelo assessor de imprensa dos republicanos, Sean Spicer, e terá como objetivo “corrigir a estagnação governativa”.
Intitulado Gabinete de Inovação Americana, o novo departamento responderá diretamente a Trump e destinar-se-á a trazer a “mentalidade empresarial” para dentro da Casa Branca, arranjando soluções para ultrapassar a burocracia do sistema político federal dos EUA, o principal desafio que o presidente tem encontrado nos primeiros meses de presidência. Para além de liderar o projeto, Kushner terá ainda a missão de criar uma equipa de antigos empresários e ocupantes de cargos executivos que procurarão trazer para a política o “sucesso e a eficiência” de uma empresa.
“Temos de ter excelência no governo. A Casa Branca tem de ser gerida como uma enorme empresa americana”, explicou o genro do chefe de Estado, citado pelo “Washington Post”. “A nossa esperança é que consigamos oferecer sucesso e eficiência aos nossos clientes, os cidadãos americanos”, acrescentou.