As épocas de transição deram sempre que falar. Da viragem do século XVII ao século XVIII, temos Kant a descobrir a iluminação que só as ideias e a razão podem trazer ao mundo: “O iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! – esse é o lema do iluminismo”.
A geração que nasceu e acompanhou a despedida do século XX e o início do XXI é, também ela, marcada pela intensa claridade que a informação e as ideias trouxeram a um mundo que, por muito que custe admitir, não estava oticamente preparado para olhar de frente para o sol.
Os nascidos no final do século saíram das trevas diretamente para a alvorada do saber. Os millennials nasceram de olhos virados para o sol sem pestanejar. Podem usufruir, como jamais nenhuma outra geração teve oportunidade, de um mergulho de cabeça numa dimensão em que o intelecto e a vontade de saber jamais sofrerão de problemas de secura.
Das ideias aos Projetos
Em 2016 um estudo mostrava que 62% dos millennials considerava iniciar os seus próprios negócios e 72% achavam que as startups são “essenciais para novas inovações e empregos”, de acordo com a The Millennial Economy, uma pesquisa a 1.200 inquiridos entre 18 e 34 anos encomendada Pela EY (anteriormente Ernst & Young LLP) e pelo Grupo de Inovação Económica (EIG). Ao mesmo tempo, 42% disseram não ter os meios para serem empreendedores.
Inovação a norte
Em Braga, há um grande frenesim de ideias a virarem negócios. Inês Faria, 24 anos, a trabalhar na incubadora e aceleradora de empresas, a Startup Braga, comenta que a cidade “está a ficar um ecossistema mesmo consistente”. A Startup Braga apoia mais de 80 pequenas empresas de base tecnológica, mas a cidade atrai também grandes companhias, como é o caso da Accenture, que recentemente criou um centro de desenvolvimento na cidade nortenha. Inês explica que “há uma vantagem que é a da proximidade de entidades do ecossistema, como a Escola de Medicina e o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia e as grandes empresas da cidade”. Para a jovem de Barcelos, há uma oportunidade na descentralização – "há projetos que claramente podem ganhar muito em estar aqui por causa de toda a ajuda que lhes pode dar esta rede. ao nível do conhecimento técnico e de negócio".
Apesar de nem toda gente ter a capacidade de iniciar o seu próprio negócio, ou de encontrar uma incubadora que lhe abra as portas, são vários os jovens que se unem em plataformas de inter-ajuda para cooperação em produções artísticas e culturais, como é o caso de João Pedro Soares, de 25 anos, residente em Vila Nova de Gaia, que estudou cinema mas é fã da sociologia e da História da civilização mundial. Para ele, é normal que haja este movimento ciclone, de uma geração mais nova, que leva tudo à frente e tende a não desistir de levar as suas ideias avante. Para João Pedro, as discussões à mesa entre gerações provam que se vivem hoje momentos únicos: “Há sempre um grande choque na civilização quando se passa de um século para o outro. Acho que isto está a repetir-se, no final do século XX e início do século XXI há dois tipos de gerações que são abismalmente diferentes”. Pedro considera que a geração dos seus avós, em Portugal, é ultra conservadora e ultra católica: “Os nossos pais estão ali presos num género de limbo, foram educados por uma geração ultraconservadora e deram à luz uma ultraprogressista”, o que para ele explica o facto de nem sempre os pais dos millennials, por muito que se esforcem, consigam acompanhar o espírito aventureiro, empreendedor e competitivo dos filhos.
Para o jovem do Porto, este tipo de dinâmica cria um ambiente “pesado” para todos e é mesmo “difícil equilibrar tudo” porque, por exemplo, a nível de comunicação são várias as barreiras geracionais: “Eu nunca posso partilhar com os meus avós aquilo que eu faço, eu tenho de normalizar o discurso sempre, porque eles não entendem nenhuma mecânica deste século”. Para Pedro, a relação que mantém com os avós é “sempre puramente emocional e afetiva, porque se lhes tento explicar a minha forma de ver o mundo ou o que ando a fazer, eles não vão perceber nada”.
Demasiada iluminação pode cegar
Francisco, 23 anos, estudante em Lisboa, está em fase de escrever a sua tese de mestrado. O excesso de informação ajuda? “Depende, não é sempre negativo ou positivo. Tenho realmente momentos em que me distraio e protelo o trabalho. Há sempre mais um vídeo de Youtube para ver. Por outro lado, encontras aquilo que procuras muito rapidamente. Ao pesquisar durante 1 hora, arranjei quase 20 papers importantes sacados diretamente para o meu PC prontos para serem lidos. Antigamente perdias duas horas numa biblioteca ou em contactos para arranjares material”.
A intensidade da luz “dificulta a concentração mas facilita a nível de quantidade de informação que tens disponíve”. “Não é linear, pelo menos não para mim”.