Campeonato. Contar cedo demais com o ovo da galinha de Alvalade

O FC Porto como que desmentiu, na Luz, a recente ideia de ascendente sobre o Benfica. Timorato depois do empate, parece agora contar mais com o Sporting do que consigo próprio…

A forma como os jogadores do FC Porto festejaram o empate conquistado no Estádio da Luz, no último sábado, foi uma das imagens fortes de um clássico que até acabou por deixar no ar algumas conclusões surpreendentes. Claro que, perante as oportunidades desperdiçadas pelo Benfica no segundo tempo, algumas delas com o contributo mágico de Casillas, poder-se-iam interpretar os festejos num cenário de alívio por uma derrota evitada. Cada um fará agora, ao longo da semana, as leituras que bem entender, é para isso que existe a liberdade de opinião e de expressão. Por isso, vale tanto a minha como a de outrem, só que a minha ocupa este espaço perante a complacência de quem faz o favor de me ler.

Ponto inicial, o de se tentar perceber quem saiu a ganhar com o empate entre os dois primeiros classificados do campeonato. O Benfica, que desta forma continua numa teimosa liderança? O FC Porto que, não perdendo, conta com o fantasma de Alvalade para assombrar o sonho do título dos encarnados?

Bom motivo para regressar à festa. A tal festa azul-e-branca no final do encontro que deixa no ar a sensação de uma convicção profunda de que o resto do campeonato será favorável à equipa de Nuno Espírito Santo. Será mesmo? Com sete jogos no horizonte, não é possível estabelecer com rigor quanto valerão os pontos do dérbi que se aproxima. Há um facto para mim claro: o Benfica está na frente e falta-lhe menos uma jornada para o fim da prova. É essa a sua iniludível vantagem. Contar com o ovo no traseiro da galinha de Alvalade não será absoluta estultícia, mas encerra certa dose de petulância.

Desmentido Estavam, antes do jogo da Luz, os portistas em visível ascendente. Melhor futebol, melhores resultados, golos em quantidade e qualidade, um onze estabilizado com vitórias indiscutíveis. Por seu lado, o Benfica parecia estremecer. E revelar uma dificuldade estranha na concretização de oportunidades ofensivas, algo que não corrigiu no clássico. Sábado, esse ascendente foi desmentido. O Benfica foi melhor, mais forte em quase todos os capítulos do jogo e fisicamente mais resistente para manter a toada dos acontecimentos. Nesse aspeto, a equipa de Nuno Espírito Santo foi dececionante e o próprio Nuno não foge a essa desilusão, com substituições demasiado conservadoras logo após ter chegado ao empate e dar ideia de que estava à beira de encostar a águia às cordas. 

Toda a atitude da equipa serviu para oferecer ao adversário uma crença que pareceu, por momentos, não ter. A saída de Soares como que descansou os defesas benfiquistas, que passaram a preocupar-se em exclusivo com a alacridade de Brahimi.

Foi tempo então de existir apenas Benfica no aspeto positivo do encontro. Rui Vitória conseguiu que os seus rapazes se firmassem melhor e durante mais tempo no meio-campo do FC Porto e essa pressão foi dando frutos. Como que me arriscaria ao paradoxo: frutos infrutíferos. Porque às hipóteses de finalização corresponderam atrapalhações que impediram a vitória. Não retiro um milésimo de milímetro à qualidade e ao mérito de Casillas. Mas um pouco mais de frieza, um tudo-nada de mais concentração dariam outro resultado ao jogo. Não deram. E a realidade é esta: nenhum dos contendores tirou vantagem anímica da partida que poderia ter sido, apenas nesse aspeto, decisiva. 

Apesar da festa portista, não vejo razões para cânticos de vitória. Sobretudo porque o FC Porto deu de si mesmo uma imagem que nos últimos tempos não se tinha visto. A de equipa amedrontada e sem confiança para jogar de peito aberto. Veremos que importância vai ter, no final, o ovo da galinha de Alvalade.