No jantar oficial do Portugal-Ucrânia para a Taça Davis, que ontem começou e amanhã termina no CIF, no Restelo, o selecionador nacional, Nuno Marques, teve um detalhe precioso no seu discurso.
Depois das intervenções necessariamente institucionais dos presidentes da Federação Portuguesa de Ténis, Vasco Costa, do seu homólogo ucraniano, Eugene Zukin, e do secretário de Estado do Desporto e Juventude, João Paulo Rebelo, era fundamental que alguém recordasse que está entre nós um campeão como Andrei Medvedev.
E logo quando, aos 42 anos, assume pela primeira vez o cargo de selecionador nacional da Ucrânia.
Conheço o Andrei há 24 anos, desde que, miúdo, com apenas 18 anos, venceu o Estoril Open, no Jamor, e esse era já o quarto título de uma carreira precoce, que incluiu uma vitória no torneio de sub-18 de Roland Garros.
No jantar fez logo questão de dizer-me que «tinha um significado especial» estrear-se «como capitão da Taça Davis em Portugal, um país do qual guarda boas memórias».
Andrei foi um dos mais mediáticos jogadores da sua geração por vários motivos:
A estatura de 1,93 metros e 91 quilos, a fazer justiça ao seu apelido que quer dizer urso. Era um falso lento.
Um jogo mais agressivo em terra batida, com trajetórias mais planas, quando a moda ainda era o exagerado top-spin de Sergi Bruguera e demais espanhóis.
O sentido de humor que o deixava a sorrir quase permanentemente, provocando uma boa disposição nas conferências de imprensa.
A capacidade de surpreender com pensamentos profundos de alguém que lia Dostoiévski e Hemingway, e ouvia Mozart e Pavarotti.
Um jovem de convicções que depois da Perestroika continuou a defender a Grande Rússia, recusando o nome ucraniano de Andriy para persistir no russo Andrei.
A sensibilidade que o levava, nas conferências de Imprensa do Estoril Open, a sentar ao colo um miúdo de cinco anos, que ele dizia muito talentoso, filho do seu treinador, o Sasha que hoje todos conhecemos como Aleksandr Dolgopolov, o melhor tenista ucraniano da atualidade.
E ainda um romantismo juvenil encantador. Perguntei-lhe: «Lembras-te da Marta». Respondeu: «Claro». A Marta, uma morena da equipa do Centro de Media do Estoril Open a quem ele se declarou em plena conferência de Imprensa, oferecendo-lhe flores.
É este bom gigante, que foi finalista em Roland Garros, ganhou quatro Masters 1000 e um total de 11 títulos do ATP World Tour, que nos visita até domingo.
Nuno Marques fez bem em chamar a atenção. É uma honra receber de novo em Portugal Andrei Medvedev.