Barcelona. “Se pensas que uma derrota nos ensombra, não te iludas e olha o céu!”

0-7 nos dois últimos jogos fora de casa para a Liga dos Campeões fazem recuar até aos anos-70 e às cinco derrotas seguidas dos catalães na Europa, com o FC Porto envolvido no desastre. As críticas chovem sobre a equipa de Luis Enrique que recorre ao seu lema

Barcelona acordou soturna. Um manto de preocupação caiu sobre uma equipa que ainda há pouco prometia lutar até ao fim por todas as competições em que está envolvida. A derrota de Turim foi dura demais, até porque sucede a outra com foros de escândalo, em Paris, frente ao PSG, por 0-4. Não faz parte da história do clube blaugrana sujeitar-se a vergonhas consecutivas como estas. E as críticas choveram em catadupa sobre o conjunto de Luis Enrique que, neste momento, estará aliviado por ter tomado a decisão de partir no final da época.

Victor Muñoz, o Victor dos seus tempos de jogador, sentenciou ontem, na sua coluna de opinião no Mundo Deportivo, principal jornal desportivo da Catalunha, que a eliminação do Barcelona aos pés da Juventus é irremediável: “A Juventus não é o PSG! Defende melhor e tem mais ritmo na luta individual e colectiva pela bola. O Barça tem a obrigação de tentar e fazer o que estiver ao seu alcance. Mas, sejamos realistas. A missão é praticamente impossível”.

Duas derrotas consecutivas fora de casa com um total de 0-7 em golos nunca acontecera na história europeia do Barcelona, que vem do ano antiquíssimo de 1949 quando se estreou na Taça Latina à custa de uma vitória por 5-0 sobre os franceses do Stade de Reims. Na final, em Chamartín, bateu o Sporting dos Cinco Violinos por 2-1 e arrecadou o troféu.

Daí para cá, os sucessos têm sido muito mais do que os fracassos. Sendo o clube com mais jogos internacionais de todos os seus congéneres europeus, O Barcelona conta com 5 Taças/Ligas dos Campeões (curiosamente, em sentido contrário ao da sua grandeza, só venceu a primeira em 1991/92), 4 Taças dos Vencedores de Taças e 3 Taças das Feiras, a precursora da Taça UEFA, além de 2 Taças Latinas. Um registo impressionante para quem tem a presença nas meias-finais desta Liga dos Campeões tão ou mais tremida como chegou a ter a presença nos quartos-de-final.

 

Recordações É interessante ir à procura da fase mais negra dos catalães nas provas europeias, tendo em conta que esta é, seguramente, a pior de todas as mais recentes. Se recuarmos aos anos-70, vamos descobrir que o Barcelona conseguiu acumular cinco derrotas consecutivas na soma das edições de 1971/72 da Taça das Taças e 1972/73 e 1973/74 da Taça UEFA. Com dedo português na equação, como se pode ver: Steua de Bucareste (fora), 0-1; Steua de Bucareste (casa), 1-2; FC Porto (fora), 1-3; FC Porto (casa), 0-1; Nice (fora), 0-3. Depois, finalmente, bateria o Nice em Camp Nou, embora por uns insuficientes 2-0, carimbando eliminações sucessivascom o seu quê de humilhantes.

Nesse aspecto, a presente edição da Liga dos Campeões não tem sido assim tão má, sobretudo depois da recuperação de 0-4 para 6-1 frente ao Paris Saint-Germain.

Os 0-3 de Turim são para todos os analistas uma marca inultrapassável, mesmo tendo em conta as vicissitudes de um jogo habituado a tudo e mais um par de botas, como diz o povinho de Chão de Meninos a Vale do Grou. Rio Ferdinand, antigo central do Manchester United, comentador da BT Sport, atacou duramente o trabalho dos jogadores do Barça frente à Juventus: “Há três anos que olho para vários jogadores do Barça e não lhes vejo categoria para jogarem num clube desta dimensão. Falta-lhes qualidade e intensidade. No meio campo não há ninguém que forneça bolas aos três avançados. Assim a tarefa deles é impossível!”

 

A missão Impossível é uma palavra que os catalães gostariam de ver riscada do seu dicionário. E, para isso, podem recordar-se de algumas reviravoltas que ficaram sublinhadas a dourado ao longo das suas aventuras na Europa. Em 23 de Novembro de 1977, por exemplo, nos oitavos-de-final da Taça UEFA, foram a Ipswich perder por um resultado idêntico: 0-3. Um duelo entre treinadores tremendos, Bobby Robson do lado inglês e Rinus MIchels do lado espanhol. Em Portman Road, uma supresa graças aos golos de Brian Talbot, Eric Gates e Trevor Whymark. Mas, em Camp Nou, Cruyff (2 golos), Rexach (1), Neeskens e o nosso conhecido Paco Fortes atropelaram o Ipwich, garantindo o apuramento nos penaltis. Proeza que não repetiram na meia-final da mesma prova, depois da derrota em Eindhoven, com o PSV (0-3). O 3-1 da segunda mão não chegou.

Na época seguinte, recuperação igual frente ao Anderlecht: 0-3 em Bruxelas – golos de François Van der Elst (2) e de Ludo Coeck – rebatidos na Catalunha com o mesmo resultado – golos de Krankl, Heredia e Zuviria. Foram novamente os penaltis a decidir a passagem do Barcelona à ronda seguinte. 

Em Abril de 1986, nas meias-finais da Taça dos Campeões, a história repetiu-se, como tantas vezes acontece. À derrota dura em Gotemburgo – 0-3, golos de Tommy Holmgren e Torbjörn Nilsson – responderam os espanhóis com outro 3-0, três golos de Alonso e uma exibição magistral de Schuster. E até os penaltis voltaram a funcionar a seu favor.

Como se vê, o Barcelona tem onde se inspirar para a missão-quase-impossível de Camp Nou, no próximo dia 19. E a lembrança da recente noite mágica com o PSG fresca na memória.