Eleições. Socialistas portugueses apostam em Macron

Perante a previsível derrota do candidato apoiado pelo PS francês, os socialistas portugueses depositam todas as esperanças em Macron

Os socialistas portugueses olham com preocupação para as eleições francesas, numa altura em que o candidato oficial do PS francês, Benoît Hamon, tem menos de 10% das intenções de voto. Ao mais do que previsível desastre eleitoral junta-se a divisão entre os socialistas franceses, com figuras com peso no partido, como Manuel Valls, a apoiar a candidatura de Emmanuel Macron.

“A situação do PS é absolutamente trágica, com um candidato que parece que não vai chegar aos 10%”, afirma ao i o eurodeputado Francisco Assis. Perante este cenário, o socialista admite que, apesar de “a figura” de Macron não o entusiasmar, neste momento, tendo em conta a oferta existente, é “a melhor solução, a solução mais equilibrada para a França”.

Macron, ex-ministro da Economia de Valls, saiu do PS e apresenta-se nas presidenciais francesas pelo movimento “En Marche!”. Distingue-se de Hamon e de Jean-Luc Mélenchon, apoiado pelos comunistas e dissidentes do PS, com um programa mais moderado que não é “nem de direita nem de esquerda”.

No PS português há opiniões para todos os gostos, mas não falta quem assuma a preferência por Macron. “Não me revejo em Hamon. É claramente um candidato perdedor. A maioria dos partidos socialistas que optaram por soluções como esta perderam sempre. Não é uma novidade. É também o que está a acontecer com Corbyn no Reino Unido”, diz ao i Eurico Brilhante, que pertence ao secretariado nacional do PS. O também deputado socialista considera que o erro de Hamon foi ter colocado “o partido com um discurso quase mimético do candidato Mélenchon e, entre a cópia e o original, as pessoas preferem o original”. Em contrapartida, conclui Brilhante, Emmanuel Macron tem “uma agenda do século xxi”.

A dirigente socialista Edite Estrela também considera que a escolha de Benoît Hamon “não foi a mais feliz”. A deputada socialista defende que, no atual contexto político, seria melhor o PS ter optado por “um candidato mais ao centro para poder combater mais facilmente a popularidade de Marine Le Pen. A esperança de muitos democratas europeus, neste momento, é que seja eleito Macron”.

Segunda Volta

As sondagens apontam quatro candidatos possíveis para passar à segunda volta nas eleições marcadas para dia 23 de abril: Marine Le Pen, Emmanuel Macron, François Fillon e Jean-Luc Mélenchon. Perante este cenário, o eurodeputado Carlos Zorrinho diz que “poderia ter alguma tendência para votar, na primeira volta, em Benoît Hamon, mas neste momento estou a torcer para que seja Macron a ganhar, porque é a solução que pode reconfigurar o centro e a esquerda francesa numa lógica pró-europeia”.

A fraca popularidade do candidato apoiado pelo PS é explicada por Pedro Alves com “uma vontade de uma percentagem significativa do eleitorado de escolher, mais do que o candidato que prefere, aquele que reunirá melhores condições para assegurar a derrota de Marine Le Pen na segunda volta ou uma derrota de Fillon”.

O ex-líder da JS, que é conhecido por assumir posições mais à esquerda dentro do partido, assume que tem dúvidas entre Hamon e Macron. “Tenho simpatias por várias coisas que encontro no programa de Benoît Hamon, mas também por algumas ideias que se encontram no programa de Macron.” O socialista tem, porém, a certeza de que, se pudesse votar nas eleições francesas, não escolheria Mélenchon por este assumir “uma retórica populista e, nalguns aspetos, perigosa”.

Aconteça o que acontecer nas presidenciais francesas, o PS ficará numa situação que “não é nada fácil”, admite Carlos Zorrinho, eurodeputado socialista. Francisco Assis pensa que a anunciada hecatombe do PS nestas eleições vai conduzir a uma recomposição da esquerda. “Entre Macron, Hamon e Mélenchon, a esquerda francesa vai entrar num processo de reestruturação. Vai sofrer uma mudança profunda. Julgo, aliás, que a França poderá ser uma espécie de laboratório do que poderá acontecer em vários países europeus, com uma recomposição das forças da esquerda”, diz Assis.

“A figura em si não me entusiasma particularmente, mas neste momento, tendo em conta a oferta existente, é a melhor solução. A solução mais equilibrada para a França é o Macron”