Os Guns N’Roses fizeram as pazes e voltaram. Os Led Zeppelin reencontraram-se. Em 2007 e só por uma noite, mas aceitaram. Os Pink Floyd reviveram memórias no Live 8. Foram só quatro canções, mas dignas de um abraço coletivo. Dos Police aos Faith No More ou Soundgarden, dos Genesis (sem Peter Gabriel), aos Jesus & Mary Chain, Bauhaus, Pixies ou os contemporâneos LCD Soundsystem, uma parte importante da história do rock já foi reconstruída em palco. Quando esse não foi o pretexto para voos mais ambiciosos…
Ainda restam alguns desejados. Talking Heads, Kinks, White Stripes, Oasis, Heróis do Mar e Da Weasel, em Portugal, fariam arregalar os olhos dos promotores com cifrões, mas nenhuma outra reunião é tão alvitrada como a dos Smiths, a banda que fez 30 anos a 12 de dezembro e partiu sem deixar recado dos palcos, ainda a tempo de estrear uma “Shoplifters of the World Unite” acabada de sair do forno e posteriormente editada em “Strangeways Here We Come”. O álbum de despedida dos Smiths viu a luz do dia a 28 de setembro de 1987 e, desde então, os fãs contam os dias para a tão aguardada notícia. Que quase foi real em 2008.
Um ano antes, um representante de Morrissey confirmava ter chegado uma proposta de 75 milhões de euros (mais de 70 milhões de euros) para uma digressão dos Smiths no biénio 2008/2009. Recusada. A possibilidade era demasiado remota. Se não fosse por dinheiro, era pelo quê?
Nem num festival “100% vegetariano”, gracejava Morrissey ao jornal australiano “The Herald Sun”, em 2012, quando o promotor de Coachella prometeu banir a carne do recinto se aceitasse reunir-se com Johnny Marr. “Surpreendentemente, eles deixaram bem claro que essa reunião não requeria as presenças do baixista ou do baterista dos Smiths”, contou então.
O que não se sabia até outubro era que Morrissey e Marr conversaram sobre “a hipótese muito real” de os Smiths regressarem, para gáudio dos fãs e de gerações nascentes de seguidores. Que cresceram com o mito e nunca testemunharam a realidade. Em 2008, os dois estavam em Manchester e decidiram encontrar-se longe do olhar público num pub. À distância, os dois já tinham trabalhado na coletânea “The Sound of the Smiths”, editada em novembro desse ano. Beberam e dialogaram sobre o tema. “Conversámos, como sempre fizemos, sobre os discos de que gostamos e acabámos por falar sobre aquele assunto”, relata o guitarrista na autobiografia. “De repente estávamos a conversar sobre a possibilidade de reunir a banda e, naquele momento, parecia que, pelas razões certas, isso podia acontecer e em grande”, explicou. “Eu continuava a tocar com os Cribs e o Morrissey também tinha um disco para sair.”
As conversas avançaram. A logística foi tratada. Os Smiths teriam de encontrar outro baterista, uma vez que a relação de Morrissey e Marr com Mike Joyce era inexistente desde que este os tinha processado em 1996, devido a distribuição de direitos. “Estava genuinamente satisfeito por ter voltado a contactar com o Morrissey”, escreveu Marr. “Durante quatro dias, foi uma hipótese muito real. Teríamos de arranjar um baterista, mas se os Smiths quisessem voltar, muitas pessoas ficariam felizes, e com toda a nossa experiência acumulada poderíamos até ser melhores do que antes”, relatou com entusiasmo.
“Morrissey e eu continuámos o diálogo e combinámos encontrar-nos novamente”, recordou Marr. “Fui ao México com os Cribs e, de repente, fez-se um silêncio. A nossa comunicação terminou ali e as coisas voltaram a ser como eram antes e como eu imagino que vão sempre ser”, resumiu o guitarrista.
E a reunião voltou à estaca zero. A imprensa a especular, os fãs a suspirar, Morrissey a gozar e Johnny Marr a observar. Há uma luz que nunca se apaga. Será?