O gabinete que investiga acidentes com aeronaves tem apenas duas pessoas para fazer esse trabalho. Os dois investigadores estiveram ontem no terreno, em Tires, dedicados à investigação da queda de uma aeronave que provocou a morte dos quatro ocupantes – três franceses e um suíço – e de uma pessoa que se encontrava no parque de descargas do supermercado Lidl, local onde o aparelho se despenhou.
Recorde-se que o início deste ano marcou a fusão dos gabinetes de Investigação de Segurança e de Acidentes Ferroviários (GISAF) e de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA) num organismo único. Ou seja, apesar do organismo abranger agora novas áreas, mantêm o mesmo número de investigadores que já era apontado como insuficiente quando o trabalho se centrava apenas nas aeronaves.
Numa entrevista dada ao i no ano passado, o então presidente do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves, Álvaro Neves, falava já na existência de dois investigadores, aos quais esperava juntar mais dois desde o início de 2015. “A atual tutela ainda não me deu qualquer estimativa de quando receberei a autorização para completar o quadro de pessoal técnico”, explicava. Entretanto, Álvaro Neves, que sempre se mostrou crítico em relação ao “estrangulamento financeiro” do organismo, foi exonerado do cargo por desrespeito do Estatuto do Pessoal Dirigente [do Estado]. Nelson Rodrigues de Oliveira, que desempenha as funções de diretor do GISAF desde outubro de 2013, ficou a assegurar o cargo.
Cinco mortos em Tires
Além das cinco mortes confirmadas, quatro pessoas acabaram feridas e nove ficaram desalojadas devido aos danos causados numa habitação e num anexo provocados pela queda da aeronave.
Segundo o GPIAAF, a aeronave descolou do aeródromo de Tires, tendo-se despenhado cerca de dois mil metros depois da descolagem. Fonte da Autoridade Nacional de Proteção Civil disse à Lusa que “tudo indica que ocorreu uma explosão no ar”. As testemunhas no local descrevem duas explosões, uma que ocorreu ainda em voo da aeronave, e uma segunda já no solo. A bordo, seguiam o piloto e três ocupantes, que seguiam de Tires para Marselha.
O i teve acesso à gravação das últimas comunicações entre a aeronave e a torre de controlo. O piloto da avioneta suíça não emitiu, segundo estas comunicações, qualquer comunicação de emergência.
O controlador aéreo verifica que após a descolagem, o avião que terá caído segundos depois, inicia uma volta pela esquerda, desviando-se da rota autorizada pelo controlador aéreo, que dá depois ordem imediata para que volte para a direita, retomando a rota previamente autorizada. Fontes ligadas ao aeródromo, explicaram ao i que a queda poderá ter sido provocada pela avaria de um dos motores, justificando assim o descontrolo da avioneta.
No local esteve o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a acompanhar as operações de socorro, que mobilizaram 93 operacionais e 33 viaturas.
Investigações por concluir
O acidente de ontem vem juntar-se à lista que o gabinete de prevenção e investigação elabora desde 2010. Através de relatórios anuais, que fazem uma síntese dos acidentes e incidentes com aeronaves civis, é possível perceber que são dezenas as investigações que nunca chegaram a ser concluídas. Neste caso, fala-se em acidente quando resulta em morte, ferimentos graves ou falha ou desaparecimento da aeronave. Os incidentes são ocorrência que, não sendo acidente, afetam a segurança da viagem.
Desde 2010, aconteceram 175 acidentes/incidentes, dos quais 100 continuam por concluir. Só do ano passado, há registo de 17 ocorrências do tipo, com apenas três a ter a investigação concluída. Mas os exemplos multiplicam-se, mesmo recuando nos anos. De 2010, ainda 4 estão em investigação, e, de 2011, são 14 os casos sem conclusão. “É humanamente impossível produzir sem matéria prima, e enquanto este organismo de extrema importância para a prevenção de acidentes aéreos, não for reconhecido com a importância que merece, continuaremos a ter dezenas e dezenas de processos sem qualquer intervenção por incapacidade técnica na sua resolução”, podia ler-se na entrevista de Álvaro Neves.