Theresa May surpreendeu tudo e todos. Depois de meses e meses de constante reprovação de um cenário de eleições antecipadas, a primeira-ministra do Reino Unido decidiu avançar para um novo ato eleitoral e propôs que o mesmo se realize daqui a menos de dois meses. Numa comunicação surpresa ao país, hoje, a partir do Nº 10 de Downing Street, em Londres, a líder do executivo criticou o comportamento de várias fações – partidárias e não-partidárias – dentro do parlamento britânico, no que toca ao processo de aprovação do acordo final para o Brexit, e anunciou que irá pedir à Câmara dos Comuns para aprovar amanhã a proposta de realização do ato eleitoral no próximo dia 8 de junho
“Depois de o país ter votado para sair da UE, o Reino Unido necessitava de segurança, estabilidade e de uma liderança forte. E desde que me tornei primeira-ministra [julho de 2016] foi precisamente isso que o governo garantiu”, começou por dizer May, destacando a estratégia apresentada pelo executivo para o abandono do país da União Europeia e o trajeto que levou à formalização do pedido de saída, a Bruxelas, no final de março. Um percurso que, no entanto, “provocou ainda mais divisões” no parlamento britânico. “O país está a unir-se, mas Westminster não”, lamentou a primeira-ministra.
De acordo com Theresa May, trabalhistas, liberais democratas, nacionalistas escoceses e diversos membros não-eleitos da Câmara dos Lordes têm vindo a dar sinais de que podem vir a ameaçar a aprovação do acordo final para o Brexit, uma situação que, a confirmar-se, em nada beneficia o Reino Unido. “Se não fizermos esta eleição agora, o seu jogo político irá continuar e as negociações com a União Europeia chegarão à sua fase mais difícil, nas vésperas das próximas eleições gerais [previstas para 2020]”, explicou. “Cheguei assim à conclusão de que a única forma de garantir certeza e segurança para os próximos anos, é através da realização desta eleição”, concluiu a líder do executivo.
O anúncio de May foi totalmente inesperado e, para além de ter apanhado a comunicação social britânica e a oposição ao Partido Conservador de surpresa, foi igualmente recebido com espanto junto de diversos tories. Citado pelo “The Guardian”, o lorde Robert Hayward, representante dos conservadores na câmara alta do parlamento britânico, confessou que o anúncio de hoje de manhã foi uma “enorme surpresa para todos” e admitiu que May apenas terá discutido o mesmo junto dos que lhe são mais próximos.
Quanto à eleição, Hayward acredita que vários deputados do Labour Party “devem estar preocupados”, tendo em conta o resultado desastroso nas últimas legislativas (2015) e o constante clima de contestação interna a Jeremy Corbyn – pese ter sido eleito líder dos trabalhista por duas vezes, no curto espaço de dois anos.
Mas se Corbyn recebeu com agrado a decisão de May, “por oferecer aos britânicos uma oportunidade de votarem num governo que irá colocar os interesses da maioria em primeiro lugar”, os testemunhos de diversos membros do partido ao “Guardian”, vão na direção da “preocupação” apontada pelo lorde Hayward. Um antigo ‘ministro-sombra’ do Labour confessou que ele e outros membros estão “em pânico” e receiam poder vir a perder os seus lugares. “A eleição pode vir a sempre um enorme desastre”, admite o político, falando sob anonimato.
Do lado da União Europeia e tendo em conta que existe uma agenda por cumprir, para que as negociações da saída levem a um acordo antes do dia 29 de março de 2019, o clima é de aparente tranquilidade. Citado pela BBC, um porta-voz de Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, disse que as eleições “não vão alterar os planos dos 27” e garantiu que a UE espera dar início às negociações a partir do dia 22 de maio.
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