“Sinto-me mais perto dela quando estou na Praia da Luz [no Algarve]”, revelou Kate McCann, mãe de Madeleine, num documentário emitido ontem no canal australiano Chanel 7 sobre o desaparecimento da menina britânica, em maio de 2007.
Kate e Gerry McCann concordaram em ser entrevistados para recordarem o que aconteceu no dia 3 de maio e reagirem às várias teorias e acusações que são feitas ao casal.
Muitas pessoas passaram a ter uma má opinião relativamente ao casal inglês devido à frieza mostrada ao longo do tempo, mas, segundo Clarence Mitchell, antigo representante dos McCann, foi a própria polícia britânica que avisou os pais de Madeleine para não mostrarem fragilidade na televisão porque isso poderia ser excitante para os presumíveis raptores.
No programa transmitido ontem, os pais de Maddie garantem que não vão desistir de encontrar a filha: “Não acredito que alguma vez cheguemos ao ponto em que possamos dizer que já fizemos tudo o que podíamos. A Maddie está aí algures e precisa de nós para a encontrarmos”.
No documentário, são avançadas várias hipóteses para o desaparecimento de Madeleine.
Gonçalo Amaral, antigo inspetor da Polícia Judiciária, reafirmou aquilo que defendeu nos últimos anos: Kate e Gerry poderão estar envolvidos na morte da filha; a analista criminal Pat Brown partilha da mesma opinião, dizendo que a morte da criança pode até ter sido um acidente, mas que os pais estiveram envolvidos no desaparecimento do corpo; já Dave Barclay, investigador forense, fala na possibilidade de a menina ter sido raptada para entrar no mundo do tráfico de seres humanos.
Outra das hipóteses avançadas por vários dos intervenientes é o facto de o corpo ter sido deitado a um poço abandonado – “existem cerca de 600 poços abandonados na zona da Praia da Luz”, diz o editor do jornal “Portugal News”, Paul Luckman.
A investigação australiana revela que, meses antes do desaparecimento de Maddie, houve um aumento do número de roubos naquela zona – semanas antes da chegada dos McCann ao Algarve, houve dois assaltos no bloco de apartamentos onde a família britânica ficou hospedada.
“Provavelmente as autoridades portuguesas gostavam que os números dos assaltos na Praia da Luz e noutras aldeias do Algarve não fossem revelados. O facto de haver pedófilos a vaguear pelas ruas e a levar as crianças das suas casas de férias poderia levar a uma quebra no número de pessoas que escolhe aquela zona para passar férias”, afirma Dave Barclay.
“Entre 2004 e 2010, num raio de 60 quilómetros do local onde Madeleine desapareceu, houve 12 crimes em que um intruso entrou em propriedades de famílias britânicas”, revela a jornalista Rahni Sadler, a investigadora e autora do programa.
“Estou certo de que a razão deste caso durar há tanto tempo, e continuar a atrair tanto interesse dez anos depois, é porque todas as explicações que foram adiantadas são implausíveis, mas uma delas será a certa”, afirma Dave Barclay.
Um local difícil de investigar A investigação australiana contabilizou 8685 casos de avistamentos de Madeleine McCann em 101 países. Dave Barclay acredita que só se conseguirá chegar a uma conclusão em relação a este desaparecimento, que aconteceu quase há dez anos, quando as autoridades conseguirem encontrar o corpo da criança britânica.
Esta tarefa é, dizem os especialistas, algo muito difícil de concretizar: “É quase impossível encontrar um corpo [naquela zona] sem ter os meios próprios e conhecimentos específicos daquela área”, afirma o antigo investigador da Scotland Yard, Colin Sutton. “É uma zona enorme, com muitos poços velhos e abandonados, com áreas onde as pessoas não vão há vários anos. Seria muito fácil esconder algo ali e ter a certeza de que não seria encontrado”, diz o especialista.