Emmanuel Macron. O afortunado
Durante largos meses, o antigo ministro da Economia de François Hollande vestiu o papel de outsider na corrida presidencial francesa. Reiteradamente associado à impopularidade histórica do atual governo socialista e colocado à margem do duelo entre o centro-direita e a extrema-direita, Emmanuel Macron, de apenas 39 anos, saltou repentinamente para o topo das preferências dos franceses. Para além de estar taco a taco com Le Pen na luta pela maioria dos votos na primeira volta das eleições, é agora o grande favorito à vitória final. Para tal, o ex-banqueiro e líder do movimento independente En Marche! bem pode agradecer ao escândalo que se abateu sobre François Fillon, que empurrou o candidato d’Os Republicanos para lugares secundários nas sondagens e permitiu a ascensão meteórica do jovem liberal, progressista e pró-integração. Quando criou a plataforma política pela qual concorre, Macron apresentou-a como um movimento com “novas ideias, nem de esquerda nem de direita”, mas a verdade é que aquela promete sugar o protagonismo aos partidos da esquerda tradicionais. O ex-primeiro-ministro Manuel Valls ou o ex-comunista Robert Hue já declararam o seu apoio a Macron, assim como os ministros alemães do SPD, Sigmar Gabriel e Wolfgang Schäuble
Marine Le Pen. A pretendente
Galvanizada pelo resultado do referendo britânico à União Europeia, pela vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas e pela consolidação da Frente Nacional na arena política francesa – com a vitória nas eleições europeias de 2014 e o bom resultado nas regionais francesas do ano seguinte –, a candidata da extrema-direita parte para a corrida ao Eliseu com ligeiro favoritismo sobre os restantes candidatos no que toca à primeira volta: Marine Le Pen surge nas sondagens com cerca de 22% das intenções de voto do franceses, um pouco abaixo do independente Emmanuel Macron. Assumidamente anti-UE, antiglobalização e anti-imigração, a filha do fundador da Frente Nacional (FN) tem liderado, desde 2011, um processo de transformação da organização fascista e xenófoba que herdou de Jean-Marie Le Pen numa máquina partidária de índole nacionalista e protecionista, orientada para um eleitorado mais vasto. Esta tentativa de revestimento da base ideológica do partido pode ser suficiente para vencer a primeira ronda das presidenciais, mas não parece poder vir a convencer os restantes eleitores. De acordo com as sondagens, Le Pen será derrotada na segunda volta, contra Macron, por 60% da totalidade dos votos.
François Fillon. O amaldiçoado
A candidatura de François Fillon à presidência de França passou por todos os estados de espírito. Na altura das primárias de novembro do partido conservador Os Republicanos, no ano passado, o antigo primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy era visto como terceira opção, atrás do ex-presidente e de Alain Juppé, mas acabou por vencer. O triunfo surpreendente fê-lo saltar imediatamente para o topo das intenções de voto dos franceses, numa eventual segunda volta contra Marine Le Pen, mas o estado de graça durou pouco. No final de janeiro, o candidato ultraliberal e defensor dos valores da família e da tradição viu o seu nome – e a sua candidatura – ser lançado para a lama, devido às acusações de que terá oferecido empregos fictícios à mulher e aos filhos, remunerados pelos cofres do Estado. A perda de apoios e a queda abrupta nas sondagens – alguns estudos colocam-no atrás de Jean-Luc Mélenchon, na quarta posição, com apenas 18% das intenções de voto – não demoveram Fillon, que só admite “ser julgado pelos franceses”. Embora a sua candidatura esteja aparentemente amaldiçoada, o conservador continua a ser bem visto e ouvido. Segundo os dados revelados pelas autoridades audiovisuais de França, Fillon e os seus apoiantes lideram o tempo de exposição nas rádios e televisões do país.
Jean-Luc Mélenchon. O combativo
O candidato apoiado pela Frente de Esquerda, que agrupa comunistas e dissidentes socialistas, é um velho conhecido da política francesa – aderiu ao Partido Socialista em 1976, fez parte do governo de Jacques Chirac no início do século, foi senador, candidato presidencial e deputado europeu – e embora tenha sido repetidamente rotulado como um outsider, insiste em manter-se debaixo dos holofotes. Consciente da importância de roubar votos aos impopulares socialistas e de chegar ao insatisfeito eleitorado da esquerda, Jean-Luc Mélenchon, de 65 anos, tem-se feito valer da experiência política para subir nas sondagens e aproveitou dois excelentes desempenhos nos debates televisivos para mostrar que está na luta. Candidato à frente do movimento ‘A França Insubmissa’, o principal representante da extrema-esquerda francesa quer acabar de vez com a austeridade, ao mesmo tempo que propõe uma reforma fiscal, um novo plano ecológico para o país e um manifesto de renúncia às armas nucleares. Um dos momentos mais altos da campanha de Mélenchon aconteceu em fevereiro, quando participou em dois comícios ao mesmo tempo, em Lyon e Paris. Como? Através da projeção do seu holograma nas duas cidades, separadas por 400 quilómetros de distância. No dia 18, voltou a repetir a façanha: o número repetiu-se mas, desta vez, em seis cidades.
Benoît Hamon. O condenado
Benoît Hamon já teve a sua vitória: derrotou o ex-primeiro-ministro Manuel Valls nas eleições primárias do Partido Socialista e deu a estocada final no mais impopular governo de que há memória em França e que ainda se encontra em funções. Depois de tal façanha, pouco mais há a ganhar para o socialista, colocado num humilhante quinto lugar nas sondagens, com cerca de 8% das intenções de voto dos franceses. Descrito por colegas partidários e pela imprensa como um “socialista utópico”, Hamon alicerça o seu programa eleitoral em quatro medidas principais: a implementação de um rendimento básico incondicional; a taxação de empresas que tenham “máquinas inteligentes”, em vez de pessoas, a realizar certo tipo de trabalhos; a defesa da laicidade como mecanismo de integração religiosa, e não o seu contrário; e a proposta de um novo plano de desenvolvimento sustentável. Face à posição débil em que o Partido Socialista se encontra, não resta a Hamon outra solução senão lutar pelo resultado menos embaraçoso possível para o maior partido de esquerda de França. A decisão inédita do presidente Hollande de não se candidatar a um segundo mandato é reveladora do estado de espírito dos socialistas.