Brexit e Trump abrem novas portas a portugal

Muito se tem falado dos efeitos da saída do Reino Unido da UE e também das novas políticas dos EUA. Mas o que para uns parece mau, para Portugal pode significar oportunidades de atrair investimento estrangeiro. 

A saída do Reino Unido da União Europeia vai trazer, entre 2017 e 2021, perdas de milhões aos países da zona euro.

A conclusão faz parte de um estudo recente da seguradora de crédito Solunion, que adianta ainda que em questão está o facto destas economias estarem perto de um cenário que implica a perda de cerca de 24 600 milhões de euros só em exportações de bens, aos quais se somam perdas na ordem dos 5500 em exportações de serviços. Na linha da frente para aproveitar os efeitos do Brexit está Portugal. Para isso, o Governo, que quer atrair para o país as empresas que vão deixar o Reino Unido, criou uma unidade de missão que têm como objetivo criar condições de investimento a estas empresas.

A criação do Portugal In foi aprovada em reunião de Conselho de Ministros e é presidida por Bernardo Trindade, antigo secretário de Estado do Turismo, que escolheu a restante equipa, composta por três membros da Comissão Executiva, não assalariados, e uma outra equipa de três técnicos.

Ao SOL, Bernando Trindade explica que a Comissão Executiva da nova Estrutura de Missão para o Investimento Estrangeiro, cujo mandato termina em dezembro de 2019, é composta por Chitra Stern e Gonçalo da Gama Lobo Xavier e sublinha que a escolha foi feita com base nas valências territoriais e setoriais de cada um dos elementos.

A ideia é que a estrutura criada, e já a funcionar no Palácio Foz, possa «dinamizar a capacidade empresarial nacional e a criação de emprego, reafirmando o compromisso com o projecto europeu».

Apesar de não haver ainda uma meta em relação ao investimento que pode ser desviado para Portugal, a ideia é transformar o país numa plataforma para as empresas que pretendam continuar a funcionar na União Europeia. António Costa sublinha mesmo que o objetivo do Portugal In é «termos um quadro atrativo para a localização em Portugal de empresas que desejem manter-se na União Europeia e que, por força da legítima decisão dos cidadãos britânicos, não queiram ficar fora da União Europeia».

Mas esta não é única estratégia para atrair investimento estrangeiro. Também a possibilidade de Donald Trump pôr fim ao acordo comercial entre os EUA e o México produziu desde logo os seus efeitos. Em março, iniciaram-se as negociações entre Bruxelas e o Governo mexicano para relançar as relações económicas entre os dois blocos. Uma janela de oportunidades para Portugal, já que o «efeito Trump» vai trazer empresas mexicanas a Lisboa já em setembro deste ano.

Interesse mexicano

De acordo com Alfredo Pérez Bravo, embaixador do México em Portugal, quando os analistas e os comentadores começaram a desenhar um cenário negro em torno dos efeitos que a nova presidência norte-americana poderia ter no mundo e, em particular, no México, muitos empresários acabaram por ficar receosos com o que poderia estar para vir: «Fomos obrigados a avaliar tudo e somos um grande país». Uma avaliação que trouxe um motor de arranque para o que deve ser o futuro. «Trabalho há 41 anos em relações exteriores e sempre ouvi dizer que o México tinha de diversificar as ligações porque estava muito focado nos EUA. Agora, chegou mesmo a hora de diversificar».

E é nesta sequência que dezenas de empresas mexicanas se preparam para visitar Portugal já em setembro deste ano. Com incertezas sobre o acordo comercial entre EUA, México e Canadá (NAFTA), intensificaram-se projetos para apostar em novas relações e Portugal surge em destaque com um projeto liderado pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Mexicana e apoiado pelos governos dos dois países.

Acima de tudo, para o México, «Portugal surge como um ator muito importante» e estima-se que, entre 2017 e 2018, serão movimentados mais de três mil milhões de euros em projetos desta parceria.