Mudanças

Pelo que se vê e se lê, parece que a Europa vai ficar dependente do ‘monarca do Eliseu’

O mundo é feito de mudanças. Mas se há mudanças relevantes, há igualmente dados da História que importa conhecer.

Vivemos os 100 anos das aparições de Fátima e os 100 anos da Revolução Russa. E vivemos, ainda, os 100 anos da Primeira Guerra Mundial.

Li por estes dias – e uma vez mais – um interessante livro de Aquilino Ribeiro, com o sugestivo título É a Guerra – Diários. Herdei este livro com uma amiga dedicatória do autor ao meu bisavô José Júlio Cesar.

O texto, delicioso, dá -nos conta das impressões diárias de Aquilino a partir de Paris, desde o primeiro dia de agosto de 1914. Lá se escreve: «Está o dia ardente, sim, mas tão clarinho e espanejado de luz que o espetro da guerra chega a diluir-se na sua branquidão e alegria».

Mais uma vez a França prende a nossa comum atenção. Parece que tudo na Europa depende da França e da sua liderança.

Como se, antes, não houvesse as eleições parlamentares britânicas – e, no Outono, as eleições alemãs. Pelo meio, ainda há as legislativas francesas.

Como se os Parlamentos não fossem a sede do poder nestes Estados, e determinantes para a formação dos Governos. Como em Portugal bem se percebeu… a partir das últimas eleições parlamentares.

Pelo que se vê e se lê, parece que a Europa – esta Europa – vai ficar dependente do ‘monarca do Eliseu’. Se em 1962 Cunha Leal escreveu um interessante livro com o título A Pátria em Perigo, parece agora que o tema é ‘a Europa em perigo’. Como se o futuro da Europa – desta Europa após saída do Reino Unido – não dependesse, sim, de uma nova visão europeia face aos múltiplos desafios que a condicionam e limitam, a dominam e a dividem.

Face à burocracia excessiva de Bruxelas – e de Estrasburgo – uns, numa ilusão perturbante, defendem «uma convenção democrática europeia», cujas sínteses poderiam ser sujeitas a referendo! E tal ‘convenção’, sonha-se, seria um passo importante para «a reconstrução da Europa».

Daqui a uma semana saberemos quem ganhou a Presidência da França. Depois teremos a nova composição da Câmara dos Comuns no Reino Unido. E, a seguir, a ‘terceira volta’ das eleições francesas – que serão as legislativas, com o seu singular sistema eleitoral.

E aqui, acredito, com as tradicionais forças políticas francesas a tentarem ‘ressuscitar’, após terem sido ‘crucificadas’ na primeira volta destas eleições presidenciais.

Eleições que não têm, acreditem, um vencedor antecipado.

Recordo sempre, como o fazia com os meus alunos, um texto de Werner von Siemens (que viveu entre 1816 e 1892) que dizia que a Europa – sim, já a Europa nesse tempo! – «deveria abolir o maior número possível das barreiras alfandegárias intereuropeias que limitam o campo da venda, encarecem o fabrico e diminuem a capacidade de concorrência no mercado mundial». E daí que «os problemas de poderio e de interesses intereuropeus terão, por isso, que ser orientados para fins superiores»!

Os meus alunos diziam sempre que este texto seria da segunda metade do século XX. Eu sorria. E sempre lhes dizia que há mudanças que perturbam. Mesmo sabendo que ela, a mudança, é a lei da vida. Mas como nos ensinou Aristóteles, «o tempo consome as coisas, e tudo envelhece com o tempo»! Como acontece com esta Europa. Basta reler Von Siemens. Nome que conhecemos bem em alguns aparelhos que temos em nossas casas… Mesmo que tenhamos andado em (e com) mudanças!!!