Das quatro pessoas que morreram esta segunda-feira nas praias portuguesas, três eram estrangeiros de visita a Portugal. A quarta vítima mortal confirmada pelas autoridades foi um homem que tentou salvar um casal em dificuldades no mar da Costa da Caparica. Numa altura em que o ministro da Defesa apelou a mais cuidado com o mar, nadadores salvadores de Nazaré e da Póvoa de Varzim, onde aconteceram dois dos incidentes, defendem que é preciso também mais sensibilização para os perigos do mar, em particular junto dos turistas.
Na Nazaré, um casal de idosos espanhóis foi arrastado pelas ondas. Daniel Meco, presidente da Associação de Nadadores Salvadores da Nazaré, explicou ao i que têm notado mais situações de risco associadas a excursões e turistas estrangeiros. “Quando algum turista chega, não tem tanto cuidado. A falta de conhecimento fá-los deslocar para junto da rebentação”, diz o responsável, que alerta também para a necessidade de sensibilizar os mais velhos, com menos “mobilidade”. Neste sentido, Daniel Meco defende que, a par da sensibilização da população, há trabalho a ser feito junto das empresas de turismo que organizam as viagens.
Já Carlos Ferreira, da Associação de Nadadores Salvadores da Póvoa do Varzim / Vila do Conde – onde uma mulher de nacionalidade austríaca foi arrastada para o mar – diz ter a mesma perceção de que é preciso informar melhor os estrangeiros, mas não dispõem de meios. Junto da população local, a associação tem um projeto que patrulha as praias e até disponibiliza um contacto aos habitantes para que, caso desejem ir ao mar fora da época balnear, possam ter nadadores salvadores disponíveis para vigilância. No caso dos turistas, há um vazio. “Não sabemos como agir nesta área”, diz Carlos Ferreira. “Sendo Portugal um país que promove o turismo e as visitas às praias, há que ter a noção que, tal como este turismo é vendido, também devia haver um reforço da prevenção.”
Ter equipas de nadadores salvadores disponíveis todo o ano e não só na época balnear é a proposta de Carlos Ferreira, que Daniel Meco acompanha. Este responsável defende que, sobretudo quando o tempo começa melhorar e quando se sabe que vai haver mais movimento, as autarquias ou os estabelecimentos das praias deviam ter a responsabilidade de assegurar a vigilância do areal. “Devia haver equipas permanentes a fazer a gestão da vigilância nas praias em dias em que isso se justificasse”, defende, dando como exemplo um feriado com bom tempo como o que o país viveu na segunda-feira. Ainda assim, salvaguarda Carlos Ferreira, os cuidados da população são imprescindíveis. “Há que ter noção de que, como não existe um polícia por pessoa, também não existe um nadador salvador por pessoa. São necessárias mais medidas de prevenção a nível nacional e um cuidado reforçado por parte da população.”
“Expõem-se demais”
Pedro Coelho Dias, porta-voz do Instituto de Socorros a Náufragos, integrado na Autoridade Marítima Nacional, afirmou ontem que as quatro mortes no arranque da época balnear não podem ser atribuídas nem ao mau funcionamento dos sistemas de busca nem à falta de campanhas de prevenção, mas à forma “como as pessoas passeiam pelas praias”, disse ao i. “Os acontecimentos de ontem [segunda-feira] devem-se à demasiada exposição por parte das vítimas. Por vezes o que as pessoas não entendem é que o facto de estar bom tempo não implica que o mar esteja calmo.”
Pedro Coelho Dias assegura que as autoridades têm acompanhado o aumento do turismo, com campanhas de divulgação junto de hotéis e empresas do setor de forma a alertar para os riscos. O porta-voz reconhece, porém, que este tem sido um trabalho lento e que ainda há falta de informação junto dos turistas. Ainda assim, no caso da praia da Nazaré, a polícia marítima estava no areal na altura do afogamento, só que noutra zona.
A época balnear só arranca na maioria das praias em junho. Em Cascais, porém, a autarquia iniciou a vigilância este mês. Em Albufeira também já haverá nadadores salvadores na praia na segunda quinzena do mês. A decisão de antecipar o início da época balnear cabe às autarquias. Pedro Coelho Dias diz que não seria uma opção “viável nem sustentável” ter nadadores salvadores nas praias durante todo o ano, lembrando que os concessionários podem sempre optar por fazer esse investimento.
No ano passado registaram-se 17 mortes relacionadas com a prática balnear entre 1 de maio e 30 de setembro, 13 por afogamento e quatro casos de morte súbita. Sete mortes aconteceram em praias vigiadas e seis em zonas marítimas sem vigilância. Registaram-se quatro mortes em praias fluviais. Seis vítimas eram de nacionalidade estrangeira e a maioria tinha mais de 50 anos.
Um homem de 31 anos que terá tentado salvar um casal na Costa da Caparica morreu na segunda-feira, vítima de paragem cardiorespiratória. O casal foi transportado para o Hospital Garcia de Orta em estado de hipotermia. Um casal de espanhóis, que se encontrava a passear junto à rebentação na praia da Nazaré, acabou por ser arrastado para o mar. O alerta foi dado às 14h35. A mulher tinha 75 anos e o homem 77. Foram resgatados sem vida. Um casal de 60 anos, de nacionalidade austríaca, foi levado pelo mar ao final do dia na Póvoa de Varzim. Foram ambos resgatados, mas a mulher não sobreviveu às lesões.