São oito e meia da manhã, e o i está finalmente de pés assentes em terras do gelo. Está frio, como era de esperar. O silêncio e a organização do aeroporto Internacional de Keflavik não enganam: estamos no Norte da Europa. Não se ouve senão o vento e os aviões que chegam e vão. O silêncio marca todos os que por cá passam, como é o caso da dinamarquesa de 23 anos, chamada Louise: “Mudei-me para cá porque a minha vida em Copenhaga não me dizia mais nada. Eram demasiadas festas, muito ‘clubbing’, muitas drogas com os meus amigos e eu só precisava de uma mudança. Amo viver aqui por causa das pessoas e do ritmo que é muito mais silencioso e relaxado do que na Dinamarca”.
Estamos no país que é famoso não só pelas erupções do Eyjafjallajökull, ou pelas estradas que foram projetadas para não intereferirem com os habitats dos elfos, que muitos islandeses acreditam existir. A Islândia é conhecida pelo mundo todo não só pelas paisagens de cortar a respiração, ou pelos santuários naturais de veneração à natureza. A Islândia dá que falar e faz com que seja destino de sonho para muitos millennials, também por se demarcar em posições invejáveis no que a estatísticas e rankings diz respeito.
País das Maravilhas, Porquê?
Se a Alice fosse millennial, provavelmente era na Islândia que investiria os seus trocos como destino de sonho para beber chá e trocar ideias com seres misteriosos em contextos estranhos. Principalmente se Alice fosse portuguesa e não estivesse muito satisfeita com os níveis de desemprego e precariedade que os restantes jovens da sua geração partilhariam. Mas o que faz da Islândia uma opção? Abel Torres, 27 anos, vai mudar-se em breve para lá e explica que são vários os pormenores que tornam o país especial: “A parada LGBT é algo indescritível, por exemplo, tens literalmente netos, pais e avós todos juntos naquele momento. É algo mesmo único. Toda a gente tem um respeito brutal (não tem nada que ver com, na minha opinião, as restantes paradas da Europa), por exemplo a Reykjavik University ao lado da bandeira nacional tem o ano todo um bandeira LGBT para apoiar todas as minorias. No mês da parada, a rua principal de Reykjavik fica pintada. Também é impressionante que nos supermercados, pessoal com idades inferiores a 18 anos já esteja a trabalhar em todo tipo de funções”. Abel completa a linha de pensamento a explicar que “é uma cultura impressionante. Ganham outra sensibilidade. Não tem que ver com exploração, tem que ver com promover uma cultura saudável de trabalho. E é de lembrar que não são mal pagos”.
O país para onde Abel se vai mudar é, na verdade “um lugar incrível para todas as idades”. É assim que a Iceland Magazine descreve o país que tem um dos maiores níveis de esperança média de vida da Europa. De acordo com os dados disponíveis do centro estatístico da Islândia, a esperança média de vida na Islândia, em 2015, rondava os 83,6 anos para as mulheres, enquanto que os homens alcançavam, em média, 81 anos, sendo, nesse ano, o mais alto de toda a Europa.
O pódio é partilhado com a Suíça, onde os homens conseguem viver, em média, 80 anos, entre o período de 2005-2014 estudado, seguindo-se a Suécia e o Liechtenstein (79.4) A esperança média de vida mais baixa dos homens na Europa é a da Rússia (61.6). No caso das mulheres, é em França e em Espanha que as mulheres vivem, em média, até mais tarde (no mesmo período de análise) – 85.1 anos, seguidas das mulheres que vivem na Suíça (84.7) e Itália (84.6). Na islandia vivem até aos 83.7 anos de idade.
No pódio da felicidade
O World Happiness Report de 2016, classificou 156 países pelos seus níveis de felicidade, usando dados da Gallup World Poll. Segundo o mais recente relatório sobre os níveis de felicidade em todo mundo, publicado pela Nações Unidas, a Islândia tem o terceiro lugar no pódio mundial da felicidade. Em primeiro lugar está a Noruega, seguindo-se a Dinamarca. Portugal encontra-se no lugar 89º, muito atrás do Brasil (22º) ou Espanha (34º). A sondagem pediu que os entrevistados pensassem numa escala, em que a melhor vida possível equivalia a um 10, e a pior vida possível seria um 0. Foram então convidados a avaliar a sua própria vida atual na escala de 0 a 10. O relatório deste ano apontou, dentro de outros dados, as circunstâncias e as políticas que permitiram que alguns países navegassem contra a recessão, em termos de felicidade.
A Islândia é um exemplo de país que conseguiu navegar durante um período de recessão económica extremamente profunda, causada pela crise financeira, conseguindo ainda manter níveis muito elevados de felicidade. Um fator considerado chave no relatório é a “desigualdade de felicidade”: as pessoas são mais felizes vivendo em sociedades onde há menos “desigualdade de felicidade”, ou seja, onde a felicidade é menos distribuída desigualmente entre a população. A Islândia, segundo o relatório, viu uma redução significativa da desigualdade de felicidade desde os anos imediatos pós-crise.
Sistemas alternativos
Janush, tem 31 anos e é da Eslovénia. Ao i aponta vários motivos que não a fazem sair desta ilha: “Desde a condução mais calma, ao sistema de saúde em que podemos todos comunicar via email (e até nos podem passar prescrições de medicamentos), o nível de segurança e os corações enormes desta população são alguns dos factores que me fazem ficar cá”.
Os millennials sem Deus
Entre outros fatores curiosos sobre a população islandesa, é de referir que, apesar da tradição mitológica da sociedade nórdica, um estudo da empresa Maskína, cujos resultados foram divulgados em 2016, mostrou que menos de metade dos islandeses se consideram religiosos. Mas mais interessante ainda é notar que 40% dos jovens millennials islandeses se consideram ateus. Na verdade, 93.9% dos islandeses menores de 25 anos acreditam que o Big Bang é a explicação mais credível para a criação do universo, enquanto 6.1% dizem não ter qualquer opinião sobre a matéria. Mas para os millennials da Islândia, que usufruem de um sistema de educação único, não há Pai:
0.0% acredita que o mundo foi criado por um deus. Dos mais novos 25.93.9% dizem que o mundo foi criado através do Big Bang, 77.7% dos adultos entre 25 e 44 anos de idade acreditam que o mundo surgiu do Big Bang enquanto que 10.1% acreditam na criação do mundo por parte de um deus.