O híbrido pianista imperou, com notável inteligência e repugnante desprendimento ideológico, sobre um sistema partidário estilhaçado. Podemos saudar a derrota de Marine Le Pen, mas sem nunca esquecer que este foi o maior resultado de sempre do obscurantismo da Frente Nacional francesa.
Por conseguinte, não partilho da euforia precipitada que constato em alguns especialistas do imediato. Como bem explicava Francisco Seixas da Costa, na sua inquestionável sabedoria, a vitória de Macron não nos garante, de forma alguma, que a prazo o projeto europeu venha a acertar o passo com os seus princípios fundadores.
Indiscutíveis são apenas o número espantoso de votos nulos e brancos e o espartilho definitivo do espectro político Francês. Na última década, dos partidos que hipotecaram a sua matriz ideológica à vã conveniência eleitoral sobram apenas cadáveres despedaçados.
E assim, dou por mim uma vez mais a enaltecer a densidade política de António Costa e importância histórica da solução governativa a que jocosamente chamaram Geringonça. Somos inquestionavelmente um oásis de estabilidade e tolerância, numa Europa em que a desagregação usurpou a cadeira da coesão e da solidariedade entre Nações.
Como gostaria eu de questionar Anthony Giddens se gosta daquilo que sobra "Para além da Esquerda e da Direita"?
Resta-me deturpar um velho escrito português:
“Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é [a França] a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra."
Que me perdoe o poeta e me traia a razão. A França pode ter adiado a escuridão, mas não se livrou da neblina.
André Pinotes Batista
Deputado do PS