A cena passou-se em Richmond, na capital inglesa. O ladrão mostrou mais confiança do que talento, e depois de se estampar ao ignorar o sinal vermelho, percebeu que o seu azar só tinha começado. A rua onde estava era pequena demais para ele e um outro gajo que testemunhara a sua tentativa de roubar a mota. O actor Tom Hardy vive por ali, e estava a passar quando as circunstâncias gritaram acção.
Com a mota desfeita, o ladrão pôs a correr rua acima. E Hardy largou atrás dele. Uma perseguição à filme, ainda que a pé. Saltavam pelas cercas e sebes dos jardins residenciais, mas o actor que se têm mantido numa boa forma que assusta, como se um pedaço de carvalho talhado à faca, não demorou a meter a mão no colarinho da camisa. Estendeu-o na relva, revistou-o rapidamente para assegurar-se que não ia ter surpresas com armas, e levou-o de volta ao local do crime. "Cacei este filho da puta", foi explicando às pessoas que deram pela altercação. Até a polícia chegar não o largou e depois, sim, foi à vida dele, como se nada.
Isto deu-se no dia 24 de abril, no bairro onnde Hardy vive com a mulher e mãe dos seus dois filhos, a também actriz Charlotte Riley. E serviu de demonstracção de como este o actor que hoje é famoso como um dos durões de Hollywood, com personagens que falam menos do que grunhem, mas conseguindo dar-lhes aquela dimensão torturada de quem nos fundos da alma passa as horas em braços-de-ferro com uma interminável fila de demónios pessoais, está mais do que afim de estreitar a linha entre ficção e realidade.
O seu último grande projecto é a série "Taboo", que não só protagoniza mas que criou e produziu com Ridley Scott. Teve dois papéis de vilões que tão cedo não serão esquecidos, primeiro em no último filme do Batman, "O Cavaleiro das Trevas Renasce", de Christopher Nolan, em que faz o papel de Bane, e em 2015, contracenou com Leonardo DiCaprio em "O Renascido", de Alejandro G. Iñarritu. O filme, que deu finalmente a DiCapriu o Óscar de melhor actor, foi galardoado também pela realização e cinematografia. Hardy ficou de mãos a abanar mas o certo é que não só quem viu o filme como quem acompanhou os duríssimos nove meses de filmagens ficou marcado pela sua capacidade para provocar destruição. Diz-se que passou os longos meses de rodagem em temperaturas subzero a cruzar os cornos com Iñarritu.
Hardy, que em 2015 teve outro êxito retumbante com "Mad Max: Estrada da Fúria", é conhecido por não ser um tipo fácil. Até 2003 viveu com sérios problemas de adição, e se se regenerou, admitiu já em entrevistas que sabe que vive com uma besta de dois metros no seu interior e que só espera uma oportunidade para se escapar e fazer estragos.O actor inglês fica-se pelo 1,75 metros, mas cresce depressa sobre quem quer que o ponha à prova. Diz que não tem amigos, que no seu coração só cabe a mulher, os dois filhos (de nove e dois anos) e os cães. Porque destes sabe com o que conta. O actor diz que já não tem paciência para mais desilusões pessoais.
Hardy é hoje, de longe, o actor mais selvagem de Hollywood. Trocou as drogas por uma ética no trabalho insuperável. Sendo que para se preparar para os papéis assume rotinas maníacas de exercício físico que levariam muitos dos seus colegas ao colapso. Faz questão de ser ele a realizar as suas próprias acrobacias nas cenas de acção, e mesmo se não faz muito para criar bom ambiente nos bastidores, mesmo se entra em conflito com os realizadores, e se abandonou o filme "Esquadrão Suicida" porque achou que o guião não prestava (claramente tinha razão), é a ele que os estúdios recorrem se precisam de ir buscar um tipo que traga algo de autêntico, uma qualidade ameaçadora e inquietante aos seus heróis-vilões.
