O domingo começou cedo, com as mesas de voto a abrirem às 8h da manhã. “Não podíamos ter feito mais, vamos esperar e acreditar que as pessoas venham votar. Cada abstenção é um voto para Le Pen”, disse Carlos de Sousa, um dos responsáveis da campanha de Emmanuel Macron.
À porta de uma das mesas de voto de Neuilly-Plaisance, a pouco mais de 20 km do centro de Paris, existiam vários cartazes a indicar que ali se podia votar. Placas com “Bureau de vote”, que quer dizer “local de voto”, estavam espalhadas por toda a localidade, com setas a indicar as direções para cada mesa de voto. À boca das urnas, a afluência era muita, havia filas. “Assim dá gosto”, ouvia-se de um dos responsáveis daquela mesa de voto.
“A voté”: a expressão mais ouvida naquela sala, em silêncio, quando cada envelope entrava na urna. Mais uma decisão.
Louvre. A expectável vitória
Ainda havia franceses a votar e os apoiantes do movimento “En Marche!” já festejavam. As últimas sondagens davam conta de uma vitória de Emmanuel Macron. Perto do Museu do Louvre, local onde Macron iria discursar para o país e para o mundo independentemente dos resultados, começaram muito cedo a juntar-se apoiantes do centrista.
A duas horas do fecho das urnas, às 18 horas, já centenas esperavam ansiosos para entrar nos jardins do museu onde está o original de “Mona Lisa”. “Macron Président”: este e outros cânticos soavam enquanto os minutos passavam. A hora que todos queriam estava a chegar – as 20 horas – , a hora a que fechavam a maior parte das mesas de voto e já havia uma “quase certeza” do vencedor.
Cerca de meia hora antes, começaram a entrar os primeiros apoiantes de Macron nos jardins do museu. Foram sujeitos a sete controlos de malas e mochilas, assim como do que tinham no interior dos bolsos. Ninguém podia correr – quem o fizesse era prontamente mandado parar pela polícia e pelos seguranças de uma empresa privada.
A animação era enorme, músicas conhecidas tocavam no palco e milhares de bandeiras francesas eram agitadas pela população. O vento frio ajudava à moldura.
Marine Le Pen também apareceu naquele local, através dos ecrãs gigantes. Cada vez que se ouvia o nome da extremista, todo o Louvre gritava a fim de o abafar.
Oito da noite, hora a que nos ecrãs gigantes apareceu uma fotografia de cada candidato. Segundos depois surgiram as primeiras percentagens: 65,5% para Macron e 34,5% para Le Pen. Vitória clara de Emmanuel Macron e estava escolhido o novo presidente da República Francesa.
Lágrimas, sorrisos, pessoas ajoelhadas e, claro, os milhares de bandeiras multiplicaram-se e juntaram-se também bandeiras da União Europeia, bandeiras LGBT e dos mais diversos países, como Iraque, Síria, Marrocos e Egito.
Macron só chegou, escoltado pela polícia, depois das 22h30, hora a que estava marcado o seu discurso ao mundo. Entrou sozinho pelo enorme portão trabalhado do museu, ao som do hino da União Europeia, mais conhecido como “Ode à Alegria”. Fez o seu discurso com a famosa pirâmide do Louvre como pano de fundo.
O discurso acabou, mas os festejos não. A festa, para os apoiantes do centrista, continuou pela noite fora, no interior e exterior do Louvre. No metro ouviam- -se cânticos e as buzinas dos carros na estrada ecoavam pelas ruas parisienses. Rulotes de venda de comida era imensas – comida de todo o mundo.
A primeira manifestação
Trabalhadores e sindicatos prometeram contestação social às reformas laborais anunciadas por Macron. Prometeram e cumpriram. A manifestação com vários sindicatos na Praça da República iria acabar na Praça da Bastilha.
Pedro, português e estudante de doutoramento em Paris, é também membro da CGT. Justificou a manifestação com a necessidade de alertar a população para as medidas que o presidente eleito pretende tomar. Se Marine Le Pen tivesse sido eleita, a manifestação não seria desconvocada, “muito pelo contrário”.
Apesar do forte contingente policial, os confrontos foram inevitáveis. Os manifestantes gritavam “Le Pen extremista. Polícia extremista”. Foi usado gás-pimenta e criada uma caixa de segurança para afastar um grupo de manifestantes do resto do desfile, que decorreu sem mais incidentes. Foram pessoas detidas e duas tiveram mesmo de receber tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras por parte dos manifestantes – uma delas, um jornalista da Reuters.