Ana, 23 anos, Lisboa
Em outubro de 2016, estava na reitoria da faculdade a tratar da bolsa de estudo e ele estava lá. Era estrangeiro e queria saber se podia pedir também a dele. A senhora da faculdade não sabia falar bem inglês e eu servi de intérprete. Depois ofereci-me para o ajudar porque tínhamos percebido que a bolsa da Direção Geral de Ensino Superior não abarcava estrangeiros. Trocámos contactos e eu disse-lhe que ia procurar bolsas de estudo para estudantes paquistaneses em Portugal. Depois enviei-lhe as coisas. Ele começou a falar cada vez mais e mais, a mostrar-me ligeiramente obcecado comigo. Mesmo insistente, a falar a toda a hora. Enviava-me fotos que tinha encontrado no Facebook do meu irmão, disse que o tinha adicionado, etc, etc.. Comecei a não achar piada à brincadeira e bloqueei-o do Facebook. Começaram as mensagens e as chamadas a toda à hora. Sempre que bloqueava um número no telemóvel, ele ligava com outro. Até hoje, foram 8 números no total, sete portugueses e um paquistanês. Recebia mensagens e chamadas a toda a hora que iam para o filtro de assédio do telemóvel. Bloqueei-o também no whatsapp, e ele continuou, também por lá, a enviar mensagens de diferentes números. Na última conversa, na semana passada, eu disse que aquilo era stalking e perguntei se queria que fosse à polícia. Ele respondeu: “Falas da polícia, achas que isso é a maneira certa de falar? Ouve, menina, eu venho de uma família com muito boa reputação no meu país e também em Portugal” e terminou por aqui. Pelo menos, até agora.
Sammy, 23 anos, Braga
Não sendo detentora de um corpo ideal e tendo sido "diferente" na adolescência as chamadas anónimas às quatro da manhã eram constantes. Atormentavam me constantemente por chamada e as vezes por mensagem anónima.
Ou sabes lidar com isso e vives na boa, ou finges que sabes mas afeta. É horrível. Hoje faço voluntariado no Instituto Português da Juventude na área da "Segurança da Internet e Violência no Namoro" e falo muitas vezes do cyberbullying e de exemplos meus e a verdade é que é uma constante no dia a dia dos adolescentes de hoje. Isto contribui muitas vezes para depressões, ansiedades e, enfim, as pessoas muitas vezes não se apercebem do mal que fazem e os há mesmo gente que criticando outros online se sente melhor. A mim o que me assusta é a componente do anonimato.
Enquanto que no bullying tradicional sabemos quem nos atormenta (e também sofri disso), no cyberbullying por vezes nem sabemos quem é: ou porque tem um perfil falso ou porque é mesmo anónimo, o que nos faz sentir ainda mais inseguras. Na verdade, o que acontece é que quando toco no assunto com os miúdos, geralmente há um silêncio e trocas de olhares. Percebe-se perfeitamente que existem situações e outra coisa curiosa é que a maioria dos agressores já foram vítimas. O que eu tenho encontrado muito é coação com fotografias. Mas vá, nem tudo é mau. No jardim de infância onde estagiei como psicóloga, quando os miúdos foram para o primeiro ano, os pais foram os primeiros
a pedir que lhes dessemos informação sobre o bullying/cyberbullying. As pessoas estão cada vez mais conscientes.
Diogo, 26 anos, Barcelos
Enquanto utilizador frequente das redes sociais, todos os dias me deparo com situações de cyberbullying principalmente em caixas de comentários de notícias. Basta uma leitura na diagonal para perfeitamente identificar os comentadores que nem se quer se deram ao trabalho de abrir o link para a notícia. Impulsionados pelos comentários anteriores e/ou pela necessidade de acenar uma bandeira a dizer “eu também tomei conhecimento disto”, aquela caixinha e o teclado passam a ser o saco de pancada durante dois minutos. A pessoa exorciza os seus males e as suas frustrações de uma forma aleatória e desinformada, tira mais três minutos para se sentir apoiada e ouvida através dos coleguinhas que lhe dão o like e depois segue a sua vida.
As mesmas pessoas que criticam os actos de outras, sem se informarem devidamente e darem o benefício da dúvida, usam o cyberbullying como auto-terapia para as suas frustrações, invejas e faltas de atenção. Muitas vezes são as mesmas pessoas que partilham como forma de julgamento vídeos de adolescentes a violentar outros adolescentes, e que depois também o fazem mas escondidos atrás de um teclado.
Na minha opinião, as redes sociais vieram transformar um direito nosso – a liberdade de expressão – em uma simples ferramenta, algo que a pessoa não tem como seu por direito mas que usa como um trunfo, naquele preciso momento. Mas a liberdade de expressão não pode existir sem informação, sem aquisição de conhecimento e enquanto a usarmos só como ‘arma honorária’ nunca a vamos poder reclamar como um direito.
Tomás, 29 anos, Lisboa
Em 2008 andei por uma plataforma online onde se discutia cenas sem regras, ou seja, bullies por todo o lado.
Os chefões dos bullies eram tipo os gajos cuja vida girava à volta de três coisas: fascismo, culturismo e filosofia
só falavam em whey e em como eram a raça superior
Os alvos deles eram toxicodependentes e pessoal que ouvia música electrónica e usava "skinny jeans", eu estava do lado dessa malta. Eles (bullies) eram especialistas em "stalk" e "trolling", conseguiram descobrir fotos e informação de toda a gente.
O único que sabia lidar com eles e levar uma discussão até ao fim era um tal de "G",
só que ele não defendia ninguém, ao contrário dos bullies que se defendiam uns aos outros acerrimamente (bullying em equipa). Eles puxavam pela insegurança de cada utilizador para levar as humilhações avante.
Quando discutiam entre eles, às vezes, começavam a falar em crioulo e a usar expressões como "bu sta brinka" e "puro ghetto drama".
O pior deles todos era o HP. Era uma hate machine como não há memória, daqueles que chegou a prometer porrada a meio fórum, era obcecado por bullying. Gozava com o mário (nome fictício) por ter uma monocelha ou com o nélson (outro nome fictício) por ser virgem e surdo-mudo.
Horrível, até que um dia levou as coisas longe de mais e fingiu ser uma rapariga para fazer sexting com um miúdo gordo do hi5. Nunca mais ninguém o levou a sério depois disso.
Isto passou-se entre 2008 e 2010 e esse G era outro bully, mas os seus alvos eram mulheres. A ana (ficticio) era "um aborto e um ET", a catarina era uma "attention whore", a juliana era "estrábica e suicida", por aí fora.
Fábio Fonseca, 22 anos, Porto
Num domingo fui tirar fotografias com o meu telemóvel (iPhone 5s) para o Porto como faço habitualmente. E como também é habitual eu gostava e gosto de fotografar e encontrar enquadramentos entre a paisagem que a cidade oferece com as gaivotas. Publico uma das fotos, que modesta à parte está perfeita em enquadramento e composição, recebi muitos muitos elogios e tal, até que foi partilhada por algumas páginas do Instagram.
Quando foi escolhida pelo P3 foi o fim da brincadeira que de brincadeira não teve nada. Pelo menos para mim. Um rapaz faz um comentário: “Foto montagem é válido?”. Juro que o primeiro instinto foi não responder, mas não consegui controlar e respondi a dizer que não havia montagem na fotografia. E foi a pior coisa que fiz naquele momento. Aquilo não ficou por ali e eu defendi o meu trabalho e profissionalismo.
Como por norma edito todas as fotos com o mesmo tom, o mesmo contraste, luminosidade, efeitos é natural que duas gaivotas pareçam iguais. Então alguns dos meus seguidores ao verem tal aparato, tentaram defender-me. Nisto começo a ver amigos do tal rapaz a fazer comentários ainda piores e eu já a arder de nervos porque nunca tal coisa tinha acontecido
Do Instagram à minha página do Facebook foi muito rápido, até chegarem ao evento de uma exposição minha que estava para decorrer. Entretanto, mais seguidores meus comprovavam com factos que não havia montagem na foto e é por aqui que surgem perfis falsos que continuavam a “atacar”.
Até que decidi parar de responder a qualquer tipo de provocações e bloqueei na minha página todos aqueles que me estavam a chamar de mentiroso e a acusar-me de plágio. Podem dizer-me muita coisa, mas insultos e chamarem-me plagiador não. Eu só quero divulgar o meu trabalho e sei que tenho exposição pública devido a isso”.
André, 28 anos, Braga
Vinte e cinco anos fresquinhos e eu acabava de sair de uma relação de três anos. A meio de uma conversa de café entre homens falam-me do Tinder. Fiquei curioso e decidi instalar a aplicação: todo um mundo novo, diferente de todas as redes sociais. Sem nada a perder, lá decido deixar-me levar por aquilo.
Um dia passado e após ver muitas caras, lá recebo uma notificação de ter sido correspondido: um “match”. Foi o pânico. Era a Ana e tinha dezoito anos. Dezoito. Conversa puxa conversa trocámos de números e passados uns dias marcámos um café. Já não me sentia assim nervoso há muito tempo. Pensava para mim" tens 25 anos e vais tomar café com uma miúda de 18 anos?" Chegado ao local marcado, passam cinco minutos e chega uma miúda totalmente diferente de mim: cabelo vermelho, maquilhado, lábios vermelhos, alargador e piercings. Saio do carro, cumprimento-a, trocámos olhares e rimo-nos. Convido-a a entrar, conversámos e, engraçado ou não, a miúda de 18 anos e eu estávamos muito à vontade.
O café ficou para outro dia. A atração foi enorme e tivemos uma tarde de sexo no carro em frente à praia, como nunca pensei que uma miúda de 18 anos me pudesse dar. Durante um mês tivemos encontros meramente sexuais, regularmente. Depois disso, nunca mais nos falámos. Apenas somos amigos no Facebook, sei que ela tem uma namorada, e eu já estou num relacionamento há quase três anos. Graças ao Tinder tive uma aventura, estranha, num momento engraçado da minha vida, mas no momento certo.
Luís, 26, Tavira
Sempre fui bastante descomplicado no que toca a conhecer pessoas, aliás gosto muito de conhecer pessoas, sobretudo porque gosto de uma boa conversa, gosto de trocar experiências e aprender com elas. Confesso que instalar o Tinder teve essa finalidade mas só superficialmente, pois instalei quando senti uma ligeira crise afetiva depois de terminar uma relação de três anos. Senti que tal como eu, haveriam mais pessoas a sentirem algum tipo de necessidade semelhante. A verdade é que existem várias finalidades e no meu caso varia consoante o momento. Acredito que as redes sociais cada vez mais são um veículo para conhecer mais gente, no entanto, o problema reside no facto de muitas vezes se trocar uma conversa presencial com algo virtual.
Eu por exemplo tento ao máximo levar a conversa para um café, o que nem sempre é bem interpretado. Isto porque não tenho paciência para estar agarrado a um teclado. Gosto de olhar nos olhos, gosto de ver um sorriso e ouvir uma gargalhada. Já conheci pessoas muito interessantes e tornei-me anfitrião e "guia turístico" através do Tinder.
Acredito que as coisas devem acontecer naturalmente, não posso dizer que tenho um propósito meramente de procura de parceira sexual, porque sexo só por sexo não é para mim, no entanto aconteceu no verão que passou, quando recebi uma proposta diretíssima para ir ao encontro de uma rapariga para nos envolvermos. Senti algum receio, estranheza por alguém ser tão direta comigo. Parte de mim queria ir, outra parte sentia "mas que raio é que estás a fazer"? Fui. Cedi à tentação e fui com a adrenalina à flor da pele, com o carro a mil a sentir medo misturado com excitação, afinal a rapariga era gira.
Tive o cuidado de a procurar no Facebook antes e exigi que me telefonasse. Cheguei ao meu destino. A rapariga estava de férias, tinha acabado de chegar e não tinha perdido tempo, pensei eu. Estava longe de imaginar o que aí vinha: Comecei a ver ao longe uma rapariga meia “hipster”, com um ar meio inocente. Tentei dizer “boa noite”, mas a rapariga pegou-me no pescoço e beijou-me na boca como se estivesse faminta e no curto espaço entre os beijos disse: "isto é tão estranho, estranhamente bom".
Fui completamente apanhado de surpresa. Nesse momento senti me de certa forma "el garanhon", uma espécie de Zezé camarinha do Sota-vento algarvio. Fomos para a praia, era tarde, 2 e tal da manhã. Senti aí nesse momento que toda aquela ânsia da rapariga não era mais do que carência afetiva, insegurança e medo, parei a meio. Disse que achava que aquilo não era correto e que ela era linda, não tinha de agir daquela forma só para provar alguma coisa a si própria ou a alguém.
Estava uma noite incrível, carregada de estrelas, senti que a rapariga precisava acima de tudo de um abraço forte e de beijos na testa e festas no cabelo. Precisava de um amigo, de conversar, de falar sobre as suas inquietações. E foi isso mesmo que fizemos até ao nascer do sol, deitados numa espreguiçadeira da praia, nus, enrolados numa toalha.. Tornamo-nos amigos e ainda hoje ela agradece o facto de eu ter sido o único a não me ter aproveitado das suas fragilidades.
Penso que com o Tinder se perde toda a magia de um encontro inesperado, da célebre queda dos livros com troca de olhares. Perde-se o romantismo, o desejo de conhecer alguém pela existência de uma troca de olhares, tal como aconteceu com os nossos pais e felizmente com muitos de nós (espero).
Por outro lado, fruto de uma vida cada vez mais ocupada, com horários loucos, fica a faltar tempo para a socialização e nesse aspeto aplicações como esta podem ser positivas, desde que o seu uso seja moderado e não seja o único meio de conhecimento de novas pessoas..
Tudo se transformou. Hoje em dia conseguimos adicionar alguém no Facebook que nos interesse e tentamos mais facilmente um início de conversa, uma "aproximação" do que se estivéssemos num café e tentássemos falar diretamente com essa pessoa. Acaba por servir de "manto protetor", atrás de uma máquina, a maioria de nós tem coragem para o que quer que seja.
Marcos, 21 anos, Porto
Comecei a usar o Grindr pouco antes de fazer 19 anos, na altura não dava muita atenção pois, honestamente, fazia-me um bocado de confusão todo o ambiente da aplicação em si. Não procurava nada em concreto, estava numa de descoberta.
A acabei por conhecer o meu primeiro namorado por lá e então desisti, nunca mais usei. Estivemos juntos quase dois anos e quando acabamos, voltei à aplicação, mas de uma forma muito mais abrupta: descobri que o Grindr era uma maneira muito fácil de me poder encontrar com todo o género de homens.
Nunca fui o tipo de rapaz de abordar ninguém na noite ou via redes sociais, então vi que era uma aplicação que me abria todo um oceano de oportunidades desde conhecer alguém só para tomar um copo, até à cena do "sexo casual" à distancia de um clique.
Honestamente, sempre achei deplorável o uso que a maior parte dos utilizadores davam à aplicação – verdade seja dita: o Grindr é muito mais "agressivo" do que o Tinder. O Grindr, como o Hornet, Scruff e outros tantos são só um mostruário de homens que facilita toda a cultura do refúgio e do discretismo. Gerações anteriores à nossa iam para os ditos locais de engate para tentar a sorte de encontrar alguém "como eles", a nossa virou-se para os smartphones e para a cultura do sexo fácil através de uma aplicação.
Não acredito que este tipo de aplicações tenham uma conotação negativa na vida de ninguém, nem na cultura LGBTQI+ mas, de um certo modo, sei que facilita e ajuda a conservar aquilo que muitos de nós se debatem contra: o secretismo, a discrição, a vergonha de serem o que são.
Já conheci imensa gente graças ao Grindr, cá e fora do país. Acaba por ser uma rede social que potencializa o conhecimento e a proximidade do publico homossexual entre si.
Óbvio que nem tudo é um mar de rosas, há gente mesmo muito suja a vaguear por lá, mas o ser humano é mesmo assim, contra mim falo, temos a nossa disponibilidade, à nossa frente uma simples aplicação que me vai ligar a mais de 60 perfis de uma só vez tendo em conta a minha localização.
Defendo que este género de aplicação e plataforma pode ter um impacto bem positivo e benéfico nos miúdos que estão a dar os primeiros passos para iniciar a vida sexual mas, claro que há sempre alguns, senão muitos, cuidados a ter. Mais no Grindr que em outros, o caso é de "trinta cães a um osso". No entanto, não conheço nenhuma aplicação para o público homossexual feminino, o que é uma pena.
Renato, 25 anos, Santiago de Compostela
Uso estas “apps” para várias finalidades, tanto para conhecer raparigas, mas também, por exemplo, no estrangeiro para conhecer áreas e pessoas novas. Quando fui ao Brasil usei o Tinder para conhecer zonas que só pessoas de lá me podiam aconselhar , mesmo que não me tenha encontrado pessoalmente com ninguém.
O meu antigo companheiro de piso conheceu a namorada atual, com quem vive, através de uma aplicação. Eu nunca tive uma relação que saísse dali, apenas sexo. Mas também sei da história de um amigo meu que fugiu pela janela de uma rapariga porque as fotografias não correspondiam em nada com a realidade. Também já falei com uma transexual e comecei a falar imenso com ela e a fazer perguntas sobre o tema, que medicação tomava (terminei agora medicina) de hormonas e sobre as cirurgias que tinha feito.
Um dia também descobri uma situação curiosa. Fiz “match” com uma rapariga, falei com ela, mas descobri que era um perfil falso. Fiz uma pesquisa e encontrei a rapariga a quem estavam a roubar a identidade. Avisei-a que as fotos dela estavam a ser usadas numa conta do Tinder (ela nem sabia o que era esta aplicação) e depois conseguimos bloquear a tal conta. Ainda hoje falo com essa rapariga de vez em quando.
Sofia Cunha, 35 anos, Lisboa
Comecei a usar o Tinder depois de um amigo me ter dito que tinha conhecido pessoas muito interessantes na aplicação, ao contrário do preconceito generalizado de que esta aplicação é usada apenas por pessoas que pretendem ter sexo casual. A primeira impressão foi realmente essa, com convites quase instantâneos para ir tomar um copo a casa de alguém, porém, a longo prazo, a minha experiência é de que o Tinder é a melhor forma de se encontrar pessoas interessantes e que, sem isto, não seria possível.
É preciso ter alguns truques (falíveis, obviamente) para encontrar pessoas que pretendam mais do que sexo, ou com as quais o sexo não seja obrigatório, mas pela minha experiência diria que em 95% dos casos das pessoas que conheci, o sexo não acontece por “dá cá aquela palha”.
Com o “boom” de turistas, muitos sozinhos, em Lisboa, através do Tinder é possível conhecer pessoas de vários pontos do mundo. E é aqui que eu acho que este é o melhor ponto de encontro que existe. Através do Tinder já pude conhecer pessoas de quase todo o mundo que me enriqueceram com as suas experiências, ou modos de vida. Já conheci pessoas que vivem em comunidades autossustentáveis, homens de negócios, artistas, alguns trafulhas. A minha vida sexual não melhorou exponencialmente (ou nada), mas a minha experiência interpessoal sim. É quase como ir a um café e apresentarmo-nos a todas as pessoas que lá estão – umas desaparecem, outras não gostam de nós, outras são-nos indiferentes, outras marcam a nossa vida, outras ficam na nossa vida.
António , 22 anos, Lisboa
Usei duas vezes o Tinder: quando começou a ser falado nos USA e posteriormente cá, ainda sem versão premium, e quando viajei pela Europa. Da primeira vez, conheci algumas pessoas e ainda tive relações com duas delas. Acabámos por nos tornar amigos depois disso. Na minha viagem pela Europa, utilizei de um ponto de vista mais "turístico": queria conhecer pessoas locais, e quem sabe arranjar alojamentos. Óbvio que isto não substituiu a velha maneira de conhecer pessoas, que é embebedando-nos em pubs e bares de hostel, mas sempre tinha implícita a intenção, se por acaso conhecesse alguém via Tinder. Em Portugal, no uso corrente, deixei de usar por uma série de razões, entre elas relações mais sérias ou porque simplesmente, a maior parte dos utilizadores estão num comprimento de onda diferente do meu. Na Europa, reparei que o Tinder não tem tanta força entre as pessoas da minha faixa etária. ou então tive só azar. Hoje em dia dificilmente voltaria a usar, mas nunca se sabe. Ah deixa-me dizer esta aplicação que permite fazer um drinking game divertidíssimo.
Maria, 23 anos, Matosinhos
Agora já não uso a aplicação porque estou a conhecer melhor uma pessoa que, por acaso, conheci por lá. Nunca tinha tido grande interesse em instalar, mas tive conhecimento de amigos que usavam e tinha corrido bem, por isso decidi fazer o mesmo. Usei o Tinder para conhecer pessoas novas e tive experiências tanto boas como más. Não queria apenas encontrar alguém para ter relações sexuais e por duas ou três vezes consegui.
Não me encontrei pessoalmente com muitos e, muitas das vezes, a conversa ia ficando desinteressante ou acabávamos por nos interessar mais por outra pessoa, então são muito poucas as pessoas com quem ainda mantenho contacto.
Foram duas as experiências positivas que tive a nível de relacionamentos. Uma durou pouco tempo mas era uma pessoa impecável, adorei conhecê-lo, até tínhamos amigos em comum mas pronto, por vezes as coisas não resultam e cada um seguiu o seu caminho.
A outra já dura há quase um ano, vamos estando juntos, falamos quase todos os dias… Tem corrido bem. Gosto da aplicação, acho que é segura se as pessoas souberem utilizar e ver se realmente a pessoa com quem falam é a mesma que aparece nas fotos. Sempre que me encontrei com alguém, tentei que fosse num sítio público e que eu conhecesse bem. Não ponho de parte voltar a instalar a aplicação daqui a uns tempos se as coisas não derem certo. Quem sabe.
Artur, 28, Bruxelas
Mudei-me para Bruxelas em maio de 2013, por causa do meu ex-namorado. Evidentemente, nessa altura não necessitava de aplicações para conhecer gente – tinha os amigos dele. Após terminarmos, em outubro de 2015, reparei que estava numa capital Europeia onde tinha cerca de dois amigos e as pessoas aqui não são propriamente as mais recetivas a fazerem amigos quando estão num bar.
Instalei o Tinder, para começar, deixando claro que estava à procura de amigos. Não funcionou propriamente bem – toda a gente procura alguma coisa mais, para amigos tens os da escola. Mudei então para “dates” (encontros). A partir daí conheci imensa gente, cheguei a uma altura de ter 7 encontros em 4 dias. Fiz imensos amigos, tive os meus”one night stand” e as minhas desilusões. Mas isto também acontece na vida real, portanto, nada de novo.
Depois, veio o Grindr. Claramente, mais agressivo no ponto de vista “só estou à procura de sexo”, o que não impede que haja gente que literalmente só querem conversar e ir beber um copo com alguém numa cidade que não conhece. Uma vez, no Grindr, um rapaz veio falar comigo a perguntar se queria ir beber um copo com ele porque ia-se embora de Bruxelas no dia seguinte. Pensei imediatamente que queria um “one-night stand”, ao que lhe disse que não. Passadas duas horas, cruzei-me com ele na rua e ele disse-me olá. Respondi e aceitei tomar um copo com ele. Passámos cinco horas a caminhar por Bruxelas a ouvir a fascinante história de vida dele. É um dos maiores ativistas ucranianos contra a anexação da Crimeia à Rússia, perseguido por agentes russos, etc. No fim, demos um abraço e ainda hoje mantemos contacto.
Qual é a diferença entre dizer que nos conhecemos no Tinder ou que nos conhecemos no Plano B bêbedos às quatro da manhã? Porque é que é socialmente mais aceitável? Desde que não se fique pelo “online dating” mas que se passe à vida real, eu acho-as extremamente úteis.
Diogo, 28 anos, Haia
Sou um adepto de aplicações e da internet e por isso fiz o “download” destas aplicações de “engate”. Estava sem paciência e sem qualquer tipo de motivação para romances ou para grandes conversas, foi uma fase da minha vida onde queria conhecer pessoas, onde procurava sexo sem compromisso. E não há que ter vergonha disso. A verdade é que uma vez no Tinder, descobri que havia mesmo muitas mais pessoas a procurar o mesmo que eu
e que eram da mesma faixa etária que eu. Usei a aplicação durante uns 2/3 meses, essencialmente no Porto, porque nas outras cidades (Guimarães, Braga, Coimbra) não havia tantos utilizadores. Acho que a explosão do Tinder no nosso país foi mesmo nas grandes cidades.
Durante esse período conheci pessoas desorientadas emocionalmente, que precisavam de falar, outras precisavam apenas de um beijo, de um abraço, outras procuravam sexo.
No final desses dois, três meses apaguei a aplicação, essencialmente porque me comecei a sentir vazio, não porque estivesse desconfortável com o sexo gratuito, mas porque não me preenchia a longo prazo. As pessoas que conhecia, desapareciam. Era quase como se eu estivesse à procura de um conforto momentâneo. É óbvio que tive encontros que repeti. Há pessoas com quem ainda falo, que nem quero perder da minha vida. Mas a verdade é que são mais os remorsos que as alegrias. É estranho, não sei se me faço compreender.
Não tenho nada contra as “one night stand”, é mesmo porque tinha acabado de sair de uma relação e estava à procura de algo que me fosse satisfazer o desejo carnal.
Honestamente, acho que as pessoas da nossa faixa etária têm uma boa noção e também 'know how' do que fazer com as redes sociais. Obviamente que há sempre aquelas pessoas que, por exemplo, usam o Facebook para tudo: posts sobre a vida alheia, sobre o que a amiga veste, sobre o que come, a criticar o país, enfim…um pouco de tudo. Não obstante, acho que 'nós' – e aqui volto a referi-me à faixa etária dos 20 anos para cima – sabemos dar um uso 'clean' às redes sociais: seja para procurar emprego, para conhecer novas pessoas, para partilhar música, para mostrar algo que estamos a viver.
Conseguimos filtrar muito do que nos interessa e viver num "mundo" que nos agrada e que nos cativa. Ao fim ao cabo, acho que não há um adulto que não passe, pelo menos, umas duas a três horas por dia nas redes sociais. Preocupa-me, contudo, que algumas pessoas se percam em termos de identidade e se misturem com tudo o que é moda só "porque sim".
Dou como exemplo, e porque está constantemente no meu “feed”, a mania da nutrição e dos ginásios. Eu sou uma pessoa apaixonada pelo meu corpo e por me alimentar bem. Não quer dizer com isso, que tenha de o partilhar com toda a gente, que toda a gente tenha de seguir o que eu faço, ou que toda a gente tem de comer o que eu como. Além disso, só porque A,B ou C está a fazer uma dieta “Detox”, não significa que tu o tenhas de fazer. O problema, e isto chega mesmo a acontecer, é que há muitas pessoas que acabam por ser influenciadas por estes 'padrões sociais', sem terem noção das alterações que podem estar a fazer nos respetivos metabolismos e corpos.
Jorge, 30 anos, Porto
Usar "aplicações de engate", como são muitas vezes caracterizadas pode ser assustador para muitos, principalmente para os novatos que apenas querem um bom momento e nem sabem muito bem como chegar a ele. Claro que muitos ainda vêm do tempo em que este tipo de aplicações não existia e só se usavam websites, em que as perguntas como "dd teclas", "idd", "q proc", eram uma constante aborrecida de quem usava isso, eu incluído claro. Hoje em dia existem várias aplicações para conseguir preencher aquele vazio que toda a gente já sentiu.
Sempre vi o Tinder como a coisa mais certa para conseguir conhecer alguém verdadeiro, o fato do perfil estar ligado ao Facebook, desencoraja muito boa gente a criarem perfis falsos, mas atenção, eles existem. O Tinder já me deu a conhecer alguns rapazes, com quem tive até pseudo relações, o que para mim é algo muito bom. Recentemente cruzava-me sempre com um rapaz no ginásio, percebi que não era português e isso desencorajou-me de falar com ele, até encontrar o perfil dele no Tinder. Fizemos match, conversámos um pouco e rapidamente combinámos um café. O Grindr já não funciona da mesma maneira.
Enquanto que no Tinder os criadores da aplicação querem que nós utilizadores conheçamos pessoas com interesses em comum, no Grindr é só saber se és passivo, ativo, quão perto estás, fotos XXX, uma ou outra de rosto e pronto, mandar a localização e está a noite feita.
Não posso dizer que não me tenha divertido com o Grindr, já me diverti muito. Contudo já fiz amigos lá também, pessoas com quem me envolvi e fiquei com uma ótima relação, ou então pessoas com quem marquei um café, apercebi-me que não havia nenhuma química sexual, mas sim uma química incrível para construir uma amizade. Recentemente deixei de usar esta aplicação porque estava cansado de pessoas a usarem fotos minhas e etc, também a verdade é que não aquilo não me levava a lado nenhum, portanto dei-lhe um descanso. Como tantas coisas hoje em dia, estas aplicações deram-nos facilidades de fazermos o que antes não conseguimos fazer, o segredo é mesmo saber usá-las de maneira responsável, protegendo o nosso corpo e a nossa mente.
Luís Santos, 25 anos, Porto
As aplicações que proporcionam contacto com outras pessoas são um dos fenómenos sociais que merecem a nossa atenção. Por diversos motivos estas aplicações servem-nos de subterfúgio; criamos inicialmente um perfil, como se na verdade criássemos uma espécie de personagem, tentando fantasiar sempre um pouco a nossa pessoa ou a nossa vida, para que assim consigamos parecer mais interessantes aos olhos das centenas de virtuais pretendentes. De seguida, damos início a todo o processo de escolha de “partner”, que envolve todas as suposições e mais algumas sobre como será a outra pessoa, através das fotografias que coloca no seu perfil e da sua breve descrição. Deste ponto partimos para a seleção de quem nos poderá ser interessante para conversar ou não, e é aqui que se dá o fenómeno mais fascinante proporcionado por estas novas formas de contacto, a indiferença da rejeição. Afinal passamos para um lado ou para o outro as caras que vemos, categorizando as pessoas consoante o nosso interesse, e elas fazem o mesmo connosco. Tornou-se tão banal a rejeição que ninguém vai ficar em casa a deprimir por não ter conseguido fazer o mágico match, pudera, o que não falta são pessoas, todas diferentes e também desejosas (algumas) de poderem fazer match connosco.
As minhas experiências com o Tinder têm sido na sua maioria muito felizes. Fiz algumas amigas, como por exemplo uma artista que veio do Brasil e estava em Portugal a participar num festival internacional de teatro em Fafe, e que coitada, não iria conhecer mais nada de Portugal se não tivesse havido “match” entre nós os dois. Após cerca de dois dias de conversa acabei por ir a Fafe e “raptei” a Raquel para o Porto, onde a levei a apresentar o espetáculo dela no Pinguim e nos Maus Hábitos, mais tarde também aproveitou para conhecer Lisboa. Estivemos juntos cerca de uma semana antes do seu regresso ao Brasil. A Raquel acabou por mudar completamente a imagem que tinha sobre Portugal, e eu fiz uma amiga que está no Brasil à espera que eu lá vá.
Para mim a magia do Tinder é o facto de estar mais implícito um fim, algo em que evitamos pensar sempre que conhecemos alguém.
De um “match” surgiu um relacionamento de poucos meses com uma menina que também não era Portuguesa. Acabamos o relacionamento, pelo motivo pelo que se acabam os relacionamentos, não, ninguém traiu ninguém e mantemos uma boa amizade. Não significa que por se usar esta ou outra aplicação de encontros se seja tarado sexual, muitas vezes são só pessoas que querem efetivamente conhecer outras pessoas. Engraçado é que quando começamos a sair, os dois apagamos a aplicação onde nos tínhamos conhecido, o Tinder.
Eu uso o Tinder como uma maneira de conhecer pessoas diferentes. Normalmente deixo a aplicação instalada cerca de uma ou duas semanas, passado esse tempo acabo por a desinstalar porque simplesmente me canso dela. Volto a instalar passado cerca de uns dois meses quando me apetece conhecer gente, sem o intuito só sexual, mas acima de tudo com o propósito de ir tomar um café com alguém que tem gostos em comum ou que simplesmente me parece interessante.
Felizmente nunca tive nenhuma experiência que possa considerar de negativa até agora. Para além destes dois casos que dei como exemplo, conheci muitas mais pessoas com as quais troquei livros, ideias ou beijos.
De todas as descobertas que fiz nesta aplicação, a que mais me pôs um sorriso na cara foi a de uma menina que conheço há quase 10 anos e por quem eu nutria uma espécie de “crush” (ai este uso constante de termos em inglês), afinal é uma pessoa inteligente, simpática, com pensamento crítico e bonita. Acabei por saber também pelo Tinder que é mútua a atração da juventude, é incrível como passado tanto tempo de nos conhecermos é preciso vir uma aplicação de encontros para que se perca a timidez.
O Tinder surge aqui como uma janela para que as pessoas de uma forma mais informal se possam voltar a conectar. Claro que nesta vida de millennials estamos sempre a trabalhar ou estamos em pontos diferentes do país. Mas é bom saber que existe um carinho mutuo e mesmo que este não se chegue nunca a consumar num amor de perdição, há sempre a hipótese de um dia olharmos os dois para o lado e…
Mariana 24 Lisboa
Comecei a usar o Tinder quando vim para Lisboa. Vivia sozinha e só conhecia as pessoas do trabalho. Essencialmente estava aborrecida, a precisar de conhecer pessoas novas e também não me importava de ter algumas aventuras pelo caminho. Sempre usei o Tinder com uma mentalidade muito aberta e sem esperar nada porque, se na vida real as pessoas se esquecem de se respeitar umas às outras, não estava à espera que no Tinder fosse diferente. Fiz alguns amigos (com quem até fui a festivais de verão), tive amigos coloridos e encontrei o meu atual namorado lá.
No que diz respeito ao que estas aplicações dizem sobre a nossa sociedade, acho que apenas a refletem.
A verdade é que se encontra de tudo: pessoas à procura de amigos, de amor, de sexo, pessoas sem problemas em trair o companheiro, pessoas mais ou menos interessantes, que dão conversam ou não. E isto, bem vistas as coisas, é o que acontece na vida real. A questão do Tinder (que é a única que conheço) é que facilita o contacto porque parece que há menos pressão. É mais impessoal e o fator "ter de dar a cara" não entra em jogo. Acho que os utilizadores no fundo apreciam isso e o facto de que, consequentemente, no universo Tinder é OK não responder porque ali isso faz parte de pertencer à comunidade. Mas se calhar eu também estou bem com a aplicação porque na vida real já rejeitei e fui rejeitada, aceitando e seguindo em frente. Faz parte da vida.
Alexandre, 29 Lisboa
Não tenho assim nenhuma história do “Arco da velha” mas talvez a história mais caricata a usar estas aplicações foi a de uma miúda que conheci através do Tinder (apesar de já a conhecer de vista) que era feirante na Feira da Ladra e que através dessa conexão acabei por a ir ajudar na feira uma vez.
Fiz algumas amigas q preservo ainda hoje que jamais conheceria se não fosse pelo Tinder, simplesmente porque vivemos em mundos diferentes. Tive, no entanto, uma relação de quase 1 ano com uma miúda que conheci por lá. Também já me serviu de conexão no estrangeiro para conhecer pessoal quando viajei sozinho. A opinião que tenho sobre isto, não há de estar longe da opinião generalizada: como qualquer outra coisa na vida, este tipo de ferramentas podem ser usadas para ir direto ao assunto ou para haver um contacto mais descomprometido numa do “deixa lá ver no que isto vai dar”. Claro que há o reverso da medalha que acaba por ser um reflexo da sociedade de hoje em dia, relações descartáveis e demasiada escolha: todos querem mais e melhor e para ontem, é mais uma distracção, mas isso cabe-nos a nós estarmos atentos.