A poucas semanas das eleições legislativas britânicas os trabalhistas estão entre 12 pontos a 20 pontos de distância dos conservadores nas sondagens, pelo que o líder do partido, Jeremy Corbyn, perdido por cem, perdido por mil, resolveu apresentar uma programa de rutura aos eleitores. Corbyn não brincava quando, depois da convocatória das eleições antecipadas, disse que estas seriam a oportunidade ideal de colocar sobre a mesa novas políticas. «Nem tudo é o Brexit», assegurou. O ‘vazamento’ para a imprensa do esboço do programa trabalhista confirmou essa afirmação e conseguiu suplantar, pelo menos por uns dias, o Brexit como assunto político principal no Reino Unido, com um texto que rompe com o neoliberalismo e com as políticas de ‘terceira via’ de Tony Blair, que eram apanágio dos principais partidos britânicos.
O programa dos trabalhistas propõe então a nacionalização do caminho de ferro, dos correios e de parte das empresas energéticas e a abolição das propinas, que triplicaram durante o governo de coligação entre conservadores e liberais-democratas, o aumento do investimento em saúde e a transferência de mais verbas para o poder local para construção de habitações sociais.
Os autores do programa comprometem-se, no entanto, a não agravar o défice público, e a não aumentar os impostos a quem tenha rendimentos inferiores a 94 000 euros anuais, dando a entender que grande parte das receitas fiscais serão obtidas nos mais ricos e nas grandes empresas.
As críticas da direita e do patronato britânico não se fizeram esperar. Paul Johnson, director do Instituto de Estudos Fiscais (IFS), disse, em declarações ao The Guardian, que «se trata da intervenção mais profunda do Estado no sector privado desde 1970 ou até desde 1940». Josh Hardie, subdirector da CBI, uma das principais empresas de negócios do Reino Unido, advertiu para o desastre que seria a implementação deste programa para os patrões e para o país. Num comunicado assinado por este responsável patronal, fala-se sobre os custos que este tipo de medidas que teriam para a prosperidade e para o emprego.
Opinião diferente têm os sindicalistas, citados pela comunicação social, que afirmam que o novo programa trabalhista «devolver o poder às pessoas».
Um grupo muito pequeno de pessoas participou na redacção do programa. Alguns trabalhistas acusam a ala mais direitista do partido, que tentou derrubar várias vezes Corbyn, sem sucesso, de estar por detrás da divulgação à imprensa deste esboço. O partido anunciou uma investigação para apurar responsabilidades, cujo os resultado só será conhecido depois das eleições, para não prejudicar a campanha eleitoral do Labour Party.
O esboço do programa trabalhista, com 45 páginas, foi vazado para a comunicação social nas vésperas da reunião do comité executivo nacional do partido, que o discutiu e aprovou na passada quinta-feira. À saída da reunião, Corbyn anunciou que o programa tinha sido «aprovado por unanimidade». O líder tranalhista fez notar que o documento havia sido enriquecido na reunião da direcção dos trabalhistas, com vários contributos, emendas e alterações, e que daqui a alguns dias os britânicos poderiam conhecer a totalidade do mesmo. Segundo Jeremy Corbyn, a intenção deste documento é oferecer uma «nova visão do país» em que «ninguém é ignorado, nem deixado para trás».
O Reino Unido vai voltar às urnas no próximo dia 8 de junho, passados apenas dois anos desde as últimas eleições legislativas. A proposta de Theresa May pela realização de eleições antecipadas foi justificada pelo estado de desunião vivido dentro do Parlamento britânico, numa altura em que o país inicia o seu caminho de afastamento da União Europeia.