Salgado acusa o seu contabilista de tentativa de chantagem

Ex-presidente do BES diz que Machado da Cruz o pressionou para que assumisse a dívida do banco

O ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, acusa o seu antigo contabilista da Espírito Santo International de tentativa de chantagem. De acordo com Salgado, Francisco Machado da Cruz tentou forçar o ex-presidente do banco a assumir a dívida total da instituição bancária, que ascendia a 1,3 mil milhões de euros.

A acusação foi feita ontem durante a audiência em tribunal, uma semana depois de Machado da Cruz ter assumido que omitiu à consultora KPMG a dívida do banco para “proteger” Ricardo Salgado, por quem tinha “muita estima” e de forma a evitar a queda imediata do Grupo Espírito Santo. É que, à data da omissão à KPMG, o ex–presidente do BES já tinha enviado uma carta ao Banco de Portugal a dizer que havia um “erro” nas contas da Espírito Santo Finantial Group (ESFG).

Carta enviada aos administradores

Ontem, conta a Lusa, o advogado Adriano Squilacce, que representa Ricardo Salgado, confrontou Machado da Cruz com uma carta enviada a vários administradores do GES, reivindicando “uma compensação financeira razoável” por ter trabalhado 22 anos no grupo e por se encontrar numa situação de desemprego, após ter saído da ESI, em abril de 2013.

No documento, a que Adriano Squilacce chamou “a carta da chantagem”, Machado da Cruz alegava estar “desesperado” e “preocupado” com as quantias que teria de pagar a advogados para o defenderem nos processos relacionados com as irregularidades nas contas da empresa.

Para o advogado Adriano Squilacce, não restam dúvidas: o antigo contabilista “pretendeu fazer uma chantagem”.

Machado da Cruz entende que estas acusações são uma tentativa de “descredibilização”, tendo negado qualquer tentativa de chantagem e afirmado em tribunal ter “recusado assumir a responsabilidade [da omissão] em troca de dinheiro”. Isto conta o contabilista, citado pela Lusa, apesar de Ricardo Salgado lhe ter “proposto pagar 250 mil euros através da sua conta pessoal” para que “assumisse tudo”.

Mas Machado da Cruz garante que não recebeu “nada” e que não quer “o dinheiro de ninguém, e, na minha mente, esse assunto está mais do que resolvido”.

Omissão da dívida ordenada por Salgado

O contabilista reiterou que a omissão da dívida de 1,3 mil milhões de euros foi “ordenada por Ricardo Salgado”, a quem, acrescentou, no GES “não se dizia que não” e que “mandava em tudo o que era relevante tanto na área financeira como na não financeira”.

Salgado pede Nulidade de parte da inquirição Francisco Machado da Cruz depôs como testemunha pela quarta sessão consecutiva no julgamento que ontem terminou com a interposição de dois requerimentos por parte da defesa de Ricardo Salgado. O primeiro pede a confrontação entre o antigo contabilista e as testemunhas Carlos Calvário e Isabel Almeida, por considerar haver “contradições” entre os respetivos depoimentos. O segundo requerimento pede a nulidade de uma parte da inquirição por a juíza do processo o ter impedido de seguir uma linha de questionário sobre as remunerações auferidas pela testemunha enquanto funcionário do GES.

O julgamento que se iniciou em 6 de março no Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (TCRS), em Santarém, tem audiências agendadas de segunda a quinta-feira até 28 de junho. Na próxima terça-feira será ouvido Guilherme Morais Sarmento.