A antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque foi ontem ao parlamento criticar o governo de António Costa por ter tomado a decisão de deixar o Estado com uma fatia de 25% do Novo Banco.
Numa audição na Comissão de Orçamento, a ex-ministra de Pedro Passos Coelho considerou mesmo “incompreensível que o Estado não tenha vendido 100% do Novo Banco” na operação que colocou a instituição nas mãos do fundo norte-americano Lone Star.
Para a antiga governante, “é negativa a decisão do governo de manter uma posição no capital” do banco.
“Isso vai servir apenas para responsabilizar o Estado para problemas futuros”, disse, acentuando não acreditar em ganhos futuros com aqueles 25% que ficaram nas mãos do Estado e não foram alienados ao fundo norte-americano.
E atirou: “Se calhar vão é permitir perdas futuras”, insistindo na tese defendida pelo PSD de que “manter capital no Novo Banco é um passivo para os contribuintes”.
Nas palavras de Maria Luís, há uma forte probabilidade de aqueles 25% resultarem “mais em perdas do que em ganhos”, ao contrário, lembrou, do que disse o primeiro-ministro.
Perante os deputados, e quando questionada nesse sentido, a vice-presidente de Passos Coelho no PSD escusou-se a comentar se haveria melhores propostas do que a da Lone Star para a compra do Novo Banco, invocando não ter informações que lhe permitam “saber se isso é verdade”.
Todavia, a deputada exigiu que sejam apuradas “quais as propostas disponíveis” e porque é que a escolha recaiu sobre a Lone Star.
“Não se pode permitir que fiquem suspeitas de que houve uma venda que não defendeu as melhores condições”, atirou Maria Luís Albuquerque.
Já sobre a tese acenada por alguns setores que defendem que a participação do Estado no banco se destinou a dar credibilidade a toda a operação (incluindo ao Novo Banco e à Lone Star), Maria Luís foi categórica: “Ou o comprador tem credibilidade suficiente para comprar um banco desta importância ou não tem.”
O debate em comissão registou ainda alguns momentos mais acesos que se enquadram no âmbito de um combate político que, nesta matéria – sistema financeiro português –, tem oposto os partidos da antiga maioria PSD/CDS-PP ao atual governo socialista.
Perante uma intervenção do deputado do PS João Galamba em que este acusou o anterior executivo – no qual Maria Luís Albuquerque foi ministra das Finanças – de ter deixado problemas na banca, a ex-governante não se conteve: “É uma grande falta de vergonha acusar-nos de não resolvermos os problemas todos que nos deixaram.”
A ex-ministra fez mesmo uma comparação entre heranças de governos em 2011 (do governo José Sócrates para Passos Coelho) e em 2015 (de Passos Coelho para António Costa).
“O atual governo tem muita sorte por só ter herdado alguns problemas. Em 2011 herdámos todos. Um país na bancarrota e que só não faliu porque teve um programa de ajustamento e, por essa razão, não podia ter um sistema financeiro saudável”, acentuou.
A antiga titular das Finanças insurgiu-se ainda contra aquilo que classificou como um atraso na operação de troca de obrigações seniores destinada a melhorar o capital do Novo Banco.
“Acho que esta operação, que implica o envolvimento voluntário de obrigacionistas num processo que vai gerar perdas, devia ter sido uma prioridade absoluta de quem está a vender o banco, que neste caso também envolve o governo. Estranho que ainda esteja atrasado e temo que seja sinal de algum tipo de problema que venha a não ser resolvido”, alertou.
A antiga ministra deixou ainda uma resposta que assumiu a forma de desafio, ao referir-se a uma eventual operação de aumento de capital do Novo Banco no futuro, além do que ficou acordado com a Lone Star: “Se for um governo liderado pelo PS, posso fazer uma aposta que acompanham e arranjarão argumentos para acompanhar.”
Anteriormente, Maria Luís tinha comentado ao “Público” os números do PIB – crescimento de 2,8% no primeiro trimestre do ano, em termos homólogos –, insistindo na tese do PSD: são um resultado da “boa herança” deixada pelo governo onde foi ministra das Finanças e também da “boa conjuntura internacional”. ”Genuinamente, é a nossa convicção: ficamos satisfeitos com os números positivos e com os motores do crescimento, mas o receio é que eles possam levar a uma falsa sensação de que não é preciso fazer mais nada”, afirmou.