Um estudo lançado esta semana mostra que um em cada cinco reclusos sofre de Perturbação da Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA)
“De forma geral, este estudo aponta para uma prevalência superior de PHDA na população prisional em comparação com a população em geral. A investigação indica ainda maior comorbilidade psiquiátrica entre os reclusos com PHDA, como altos níveis de perturbação obsessiva-compulsiva, depressão, ansiedade e sintomas de paranoia, bem como início precoce da criminalidade e reincidência”, explica o autor do estudo, o médico Joaquim Cerejeira, psiquiatra, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e presidente da Associação Cérebro & Mente.
Para a realização da investigação – trata-se do primeiro estudo português sobre PHDA numa população prisional -, foram analisados 101 reclusos do Estabelecimento Prisional de Coimbra, com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos e com uma inteligência ‘normal’ (QI superior a 85). O especialista chegou à conclusão que 16,8 por cento dos presos sofre de PHDA.
“O estudo revelou ainda que o grupo de reclusos com PHDA apresenta mais experiências adversas na infância, maior consumo de estupefacientes previamente à reclusão, maior taxa de reincidência criminal e níveis mais elevados de psicopatologia atual e traços psicopáticos”, acrescenta Joaquim Cerejeira.
“A PHDA é uma doença neuropsiquiátrica crónica que se caracteriza pelo excesso de atividade motora, impulsividade e/ou desatenção, em maior frequência e gravidade do que habitual, perturbando negativamente a capacidade para estudar, trabalhar ou ter relacionamentos familiares e sociais. As pessoas com PHDA habitualmente demonstram, na vida adulta, uma atividade mental incessante, dificuldade em manter a atenção na leitura ou na televisão, fraca concentração e procura constante de sensações fortes e de gratificação imediata, o que pode resultar em comportamentos ‘viciantes’, como abuso de drogas, álcool, jogos e internet”, explica o comunicado enviado à redação.