Tough week. Ou, em português, semana difícil. O Presidente norte-americano tentava ainda lidar na terça-feira com os estilhaços que sobravam de ter demitido o seu diretor do FBI uns dias antes, quando o New York Times revelou que, de acordo com um documento de duas páginas escritas em fevereiro por esse mesmo diretor do FBI, Donald Trump tentou convencê-lo a abandonar a investigação às ligações russas do seu antigo conselheiro para os Assuntos de Segurança Nacional. A notícia alastrou-se rapidamente por outros jornais norte-americanos e pelo mundo. De imediato, quem se queixava desde a semana anterior que a demissão de James Comey do lugar de topo do FBI podia significar que o Governo estava a tentar encobrir a investigação aos seus laços russos começou a falar de obstrução de justiça e a perguntar se não há já bases para um impeachment ao Presidente dos EUA, apenas quatro meses depois de ter tomado posse. A resposta é não: não há provas materiais de que Trump tenha realmente pedido a Comey, quando este ainda era diretor do FBI, que deixasse «passar» a investigação ao seu antigo conselheiro; a Casa Branca e o Presidente negam que isso alguma vez tenha acontecido; a maioria republicana no Congresso não se juntou aos apelos de impeachment (embora dois congressistas conservadores tivessem admitido que há razões para pensar nisso); e, além disso, só pode ser considerado obstrução à Justiça confirmando-se que houve intenção de o fazer – uma tarefa difícil para os procuradores. Nas redes, Donald Trump queixou-se de estar a ser alvo da «maior caça às bruxas na História da América».
Em todo o caso, o burburinho em torno de um caso para impeachment começou a engrossar-se na terça-feira. A suspeita de que Trump estaria a influenciar diz respeito a Michael Flynn, o seu primeiro conselheiro de Segurança Nacional, demitido 22 dias depois de tomar posse, ao descobrir-se que tentara ocultar contactos telefónicos com o embaixador russo nos Estados Unidos. A investigação, no entanto, está relacionada com o mais vasto processo de descobrir se a campanha eleitoral de Donald Trump esteve ou não em contacto com agentes russos responsáveis por interferir na campanha, como aconteceu com os assaltos informáticos aos emails do Partido Democrata e servidores da equipa de Hillary Clinton. O burburinho silenciou-se ao final da tarde do dia seguinte, quarta, quando o procurador-geral-adjunto convocou um conselheiro especial para supervisionar a investigação, Robert Mueller, ele próprio ex-diretor do FBI e antecessor do mesmo James Comey que Trump demitiu e tentou influenciar no sentido de abandonar a investigação – alegadamente. Uma aparente vitória a curto prazo, uma vez que silencia os apelos a um procurador especial ou comité independente e dissipa os receios de que o Governo pode estar a tentar influenciar a investigação – Mueller é uma das figuras mais respeitadas nas autoridades americanas. A longo-prazo, porém, a investigação independente pode tornar-se um incómodo para a Administração.
Viagem para desanuviar
Com Washington em tumulto, Trump iniciou ontem a sua primeira viagem de Estado, aterrando na capital saudita, Riade, onde está agendado um discurso seu sobre o Islão, tema especialmente espinhoso para um Presidente que tentou proibir voos de vários países muçulmanos e fez campanha com o termo ‘terrorismo radical islâmico’ sempre que se referia a grupos como o Estado Islâmico. A maior parte dos meios muçulmanos preferem o termo ‘extremismo violento’ – usado também por Obama -, uma vez que não sugere uma ligação direta à religião, que, reivindicam, está a ser usurpada por extremistas. A viagem prosseguirá para Israel e, depois, Vaticano. Termina com duas cimeiras, em Bruxelas e Sicília, da NATO e G7.