Já muito se conjeturou sobre o novo Presidente francês. Conseguirá ele aplicar o seu programa? Qual o seu real posicionamento ideológico? Será isto o fim do surto populista? De uma coisa podemos ter a certeza: o alívio generalizado que a eleição de um europeísta convicto, pro-globalização provocou em vários agentes económicos e políticos mundiais. Esse mesmo alívio, na conjuntura de crescimento atual, irá influenciar os próximos passos nalguns planos relevantes, com especial destaque para a estratégia do BCE, as negociações do Brexit e a transição económica na China.
BCE. Dada a relevância de França, o BCE estava particularmente atento ao resultado da eleição pelos riscos acrescidos que poderia trazer. Uma vitória extremista obrigaria o banco central a tomar decisões difíceis e a colocar-se na desconfortável zona cinzenta entre política e economia. Dissipadas as nuvens, a instituição poderá voltar a concentrar-se na gestão do ciclo monetário em função do momento económico e do seu objetivo de inflação. Ora nesse plano a evolução tem sido positiva, o que permitirá a Draghi começar a desenhar já neste verão a (gradual) estratégia de saída dos seus programas de estímulo.
Brexit. Outra derivada desta eleição serão as implicações que terá sobre a dinâmica negocial no divórcio UE-Reino Unido. Perante a postura de Macron, quer a Alemanha eleja Merkel ou Schulz iremos certamente ter uma frente europeia mais unida e com menos incentivo para ceder a May. Esta última – mesmo que saia reforçada das eleições que convocou para junho – não terá grande escolha senão aceitar aquilo que a nova frente europeia estiver disposta a oferecer. O Reino ‘Unido’ dificilmente sairá vencedor deste processo mas por interesse próprio evitará o suicídio económico dum não-acordo. Uma libra enfraquecida deverá no médio prazo amenizar as perdas deste erro anglo-saxónico.
China. O terceiro ângulo de consequência económica é consideravelmente menos comentado mas porventura aquele que poderá causar mais impacto a nível mundial. As autoridades chinesas estão há vários anos a gerir a transição de modelo económico e o necessário abrandamento desde os anos de crescimento fulgurante. Existem vários indícios de um progressivo apertar de regulação no mercado de crédito chinês numa clara tentativa de reduzir o problema de alavancagem na segunda maior economia mundial. Trata-se de um equilíbrio delicado entre a necessidade de crescimento presente e o evitar de problemas maiores no futuro. O risco é de que o alívio desta eleição leve a um excesso de confiança por parte dos decisores chineses, levando-os a optar por uma gestão mais draconiana que arrisque despoletar um abrandamento brusco. Se este processo se descontrolar teria implicações ao nível de crescimento e inflação global podendo, na sua forma mais extrema, abrir a porta à próxima recessão. Não é certo se o Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês – marcado para o outono deste ano – irá funcionar como catalisador ou inibidor deste processo, mas convém ficar atento aos desenvolvimentos.
O dominó pós-Macron já está definitivamente em marcha.
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