“1X2”. A equação faz parte do imaginário dos portugueses, até dos poucos que não seguem atentamente as lides do futebol, mas sabia que o jogo Totobola foi lançado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para financiar a reabilitação dos cidadãos portugueses com deficiência física?
Estávamos nos anos 60 e uma das grandes preocupações eram os mutilados da guerra colonial. A 2 de julho de 1966, foi oficialmente inaugurada uma unidade de resposta inovadora no país para situações de lesões medulares, com o contributo dos muitos apostadores que o jogo conquistara nos cinco anos anteriores. Passado meio século, o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA) continua a reinventar-se. Além dos tratamentos de reabilitação, que hoje contam com ferramentas tecnológicas como um exoesqueleto que ajuda os doentes a recuperar força muscular e postura, há treinos dentro de água e também investigação.
Em 50 anos, houve avanços na medicina mas os doentes também mudaram, explicou ao i o fisioterapeuta Tiago Teixeira. Quando havia uma menor preocupação com a segurança no trabalho e até mais acidentes de viação, as lesões medulares provocadas por desastres. Hoje em dia, 60% dos utentes são internados devido a AVC, doença associada ao envelhecimento mas também aos estilos de vida.
O centro dispõe de 150 camas e está dividido em três serviços. O Serviço 1 – Serviço de Reabilitação de Adultos (SRA1) é composto por 66 camas e destina-se ao internamento de utentes com Lesões Vertebro-Medulares (LVM) e outras patologias neurológicas; O Serviço 2 – Serviço de Reabilitação Pediátrica e de Desenvolvimento (SRPD) apresenta 16 camas para crianças e jovens até aos 18 anos de idade, com patologias neurológicas, osteoarticulares ou medulares e o Serviço 3, com 68 camas, recebe utentes com sequelas de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE), amputados e outras.
Além disso, garantem sessões de fisioterapia aos doentes externos que procuram a instituição. Uma das marcas distintivas do CMRA é colocar o utente no centro de todo o processo de reabilitação, do diagnóstico à integração social, seja o regresso à escola no caso das crianças ou a adaptação ao trabalho nos adultos. No ano passado, as Unidades Habitacionais Modulares Assistidas – onde se promove a recuperação de autonomia – foram o último passado na adaptação do centro aos novos tempos.
Os números falam por si. Em 2016, estiveram internados no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão 773 doentes. Houve ainda um total de 8739 consultas externas, 285 mil sessões de fisioterapia, 8.155 de hidroterapia ou 264 mil de terapia ocupacional.