Depois de Paris, Bruxelas, Berlim, Nice ou mais longínquo, Madrid, Londres e Nova Iorque, surge um ataque como ato gratuito e sem outro objetivo que espalhar terror e atingir inocentes. Mais de duas dezenas de jovens morrem e mais de meia centena estão feridos, para que uma organização demonstre que pode atingir onde quer, alienando e radicalizando alguém em nome do nada.
Estes ataques não nos podem deixar indiferentes. E importa mais do que uma simples opinião ou a manifestação de solidariedade. Importa uma tomada firme de ação concertada, de poderes públicos nacionais no espaço interno e conjunta no espaço externo para impedir a proliferação de mais violência, mais mortes, mais ódio.
Temos perdido tempos infinitos em discussões, publicações e reflexões intermináveis. E as autoridades andam na maioria dos casos a correr atrás do prejuízo, acossadas pela opinião pública que reage a acontecimentos deploráveis que ceifam vidas, quando podiam se dotadas de meios antecipar situações.
A sociedade deve habituar-se a que os mecanismos de proteção tem de ter a mesma dimensão dos que poem em causa a segurança dos cidadãos, dos que destroem a estabilidade e dos que violam a lei. Dar ao protetor a mesma capacidade de resposta do agressor, proporcionando acesso a informação e meios para a gerir.
Não podemos correr o risco de um dia acordar com o trânsito parado, os hospitais bloqueados ou a polícia confusa, porque repentinamente um ciber ataque paralisou a nossa vida. E por vezes estamos mais próximos disso do que imaginamos.
Isto não é catastrofismo. É apostar na antecipação de movimentos, porque temos a tática mas não temos o equipamento, ou temos receio de assumir uma ação mais vigorosa, presos a preconceitos de que apenas nos libertamos quando somos atacados.
Em França foi necessário mais do que uma ameaça para agir com determinação. Mas depois de Paris, houve múltiplos incidentes, uns concretizados, outros abortados que têm de prender a nossa atenção e que devem motivar a nossa determinação em agir. Perdemo-nos em discussões sobre a legitimidade de acesso a determinado tipo de informação genérica, até sermos atingidos por um projétil ou teto desabado.
A prevenção é cada vez mais determinante por pouco que se veja – e menos que se saiba. Quanto menos se souber da ação, mais eficazes serão as ações. Mas para tanto importa conceder meios e proporcionar mecanismo para que se jogue no mesmo tabuleiro dos que não aceitam regras, nem respeitam princípios, o mais elementar dos quais, a própria vida humana.
António Rodrigues