«Eu acho que a vida é fixe!»

Esta afirmação, escrita num vidro, à frente de uma porta, é bastante curiosa e, pela linguagem utilizada, parece ter sido escrita por alguém jovem.

À juventude são permitidas certas liberdades de linguagem que aos adultos já não são, até porque soam estranhas quando pronunciadas fora do contexto social da juventude.

Assim, é absolutamente normal um jovem afirmar que «a vida é fixe». Porém, uma pessoa de 50 anos, em princípio, diria que a vida é «extraordinária» ou «magnífica», se bem que o sentido não seja exatamente o mesmo. Nesta idade, é bem possível que pense já, como Jorge de Sena, «que única» é a vida, «a que não volta mais», «a que se encontra se se não procura».

Gostar de viver, encontrar significado para a vida e sentir alegria por estar vivo é um ponto de partida muito favorável para viver. Ter uma atitude positiva perante a vida é quase uma garantia para a usufruir plenamente.

Muitos são os livros de autoajuda (que podem servir para muito, mas pouco servem como ajuda a que alguém transforme verdadeiramente a vida) que «ensinam» a encarar a vida de forma positiva e que demonstram a evidência de uma atitude positiva ser «meio caminho andado» para uma vida feliz e com sentido. E exatamente aquilo que todos pretendemos é viver uma vida feliz, aquela que resulta da concretização do sonho, aquele que, nas palavras de António Gedeão, «é uma constante da vida».

Porém, tais livros mais não são que manuais, mais bem escritos ou mais ilusórios, que de pouco servem, por serem teóricos e genéricos. A vida de cada pessoa só pode ser vivida por ela própria. É única. E o seu grande valor é exatamente este – o de ser única. Portanto, só cada um pode dar sentido à sua existência, só cada pessoa pode, em função das escolhas que faz, conscientes ou não, desvendar o segredo da sua existência e compreender o papel que tem no mundo, mesmo que venha a descobrir, como Fernando Pessoa, «que a vida é nada» e que «Se alguém achou a estrada, / Achou-a em confusão / Com a alma enganada.»

Consoante aquilo que consideramos melhor a cada momento, vamos vivendo a vida, que, mesmo sendo «fixe», contém também sementes de angústia, de desespero, de tristeza. Porque tudo o que nos acontece, e a forma como o interpretamos, faz parte da vida. É a própria vida. Porque a vida não é um só dia…

 

Maria Eugénia Leitão

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services