As imagens do momento em que Donald Trump e o Papa dão o primeiro aperto de mão da manhã desta quarta-feira, mostram um Francisco frio, carrancudo e pouco disposto a responder da mesma moeda ao sorriso nervoso apresentado pelo presidente norte-americano. Afinal, os dois líderes foram protagonistas de uma troca de recados, em plena campanha eleitoral norte-americana, e o líder da Igreja Católica não aparentava ter-se esquecido.
Em fevereiro do ano passado e após uma visita ao México, o Papa sugeriu que os que pensam “em construir muros e não pontes”, “não são cristãos”. Decidido na defesa da necessidade da construção de uma barreira barreira física na fronteira sul dos EUA, o então candidato não gostou da indireta e catalogou as declarações do Papa como “vergonhosas”. “Nenhum líder – especialmente o líder religioso – tem o direito de questionar a religião ou fé de outro homem. Se o Vaticano for atacado pelo Estado Islâmico, que toda a gente sabe que é o seu derradeiro troféu, o Papa bem pode rezar para Donald Trump ser o presidente”, contestou o magnata, numa ação de campanha.
O embaraço inicial dissipou-se, no entanto, quando, no final dos cerca de trinta minutos da conversa privada entre os dois, no Palácio Apostólico do Vaticano, os jornalistas puderam captar a oferta de presentes de parte a parte – Trump presenteou Francisco com um conjunto de livros de Martin Luther King e o Papa ofereceu uma oliveira esculpida ao presidente americano, como que a dizer que as desavenças do passado são águas passadas, representadas naquele símbolo de paz. “Obrigado, não me vou esquecer do que me disse”, prometeu Trump, enternecido, no momento da despedida.
Mais tarde, durante um encontro com o primeiro-ministro italiano Paolo Gentiloni, o líder americano terá confessado, segundo a CNN, que o encontro “foi fantástico” e que foi “uma honra estar com o Papa”. “Ele tem qualquer coisa”, disse Trump.
Os comunicados divulgados pela Casa Branca e pela Santa Sé não são totalmente esclarecedores quando ao conteúdo exato da conversa entre os dois, mas sugerem que os temas debatidos foram o terrorismo, a paz e as alterações climáticas. Foi até da Santa Sé que saíram mais detalhes sobre o encontro. O seu comunicado assinala que, durante “cordiais conversações”, foi manifestada satisfação pelas “boas relações bilaterais existentes entre a Santa Sé e os EUA, bem como pelo compromisso comum em favor da vida e da liberdade religiosa e de consciência”.
Trump e Francisco manifestaram ainda o “desejo de uma colaboração serena entre o Estado e a Igreja Católica nos Estados Unidos, comprometida com o serviço à população nos campos da saúde, educação e assistência aos imigrantes”. O Vaticano acrescentou ainda que o encontro permitiu um intercâmbio de pontos de vista sobre alguns temas relacionados com a atualidade internacional e com a promoção da paz no mundo através da negociação politica e do dialogo inter-religioso, com especial referência “situação no Médio Oriente e à tutela das comunidades cristãs”.
Em declarações ao jornalistas a bordo do Air Force One, Rex Tillerson também revelou que o Papa e outros responsáveis religiosos apelaram, junto de Trump, ao abandono da intenção de os Estados Unidos saírem do acordo de Paris sobre as alterações climáticas. Sobre este tema, o secretário de Estado norte-americano esclareceu, no entanto, que “o presidente ainda não tomou uma decisão final”.
Certo é que Donald Trump saiu do Palácio Apostólico resoluto na sua missão de pacificador, já apregoada durante a visita anterior, a Israel e à Cisjordânia. “[Foi] a honra de uma vida conhecer Sua Santidade o Papa Francisco. Saio do Vaticano mais determinado do que nunca para procurar a PAZ no nosso mundo”, escreveu o presidente norte-americano no Twitter. A próxima paragem da comitiva presidencial é em Bruxelas, para um encontro da NATO.