Moçambique tem cerca de 26 milhões de habitantes e o acesso a água potável continua a ser um luxo de quem vive nas zonas urbanas. Um luxo que não o deveria ser e que a associação Eu e os
Meus Irmãos (EEOMI) quer transformar em normalidade.
Nas zonas rurais, cerca de 70% da população não tem acesso a água potável, sendo obrigada a percorrer longas distâncias em busca de fontes de água segura.
O deficiente acesso e a exposição a condições precárias de higiene e saneamento tem impacto negativo na vida das comunidades – causando doenças como cólera, tifoide, disenteria. Mais de nove mil crianças com menos de cinco anos morrem, todos os anos, devido a doenças diarreicas.
Por acreditar que o acesso a água e a saneamento é um direito fundamental, essencial para melhorar a saúde e a educação, a Eu e os Meus Irmãos recorreu, em 2015, ao Novo Banco Crowdfunding. A associação criou uma campanha com o objetivo de facilitar o acesso a água potável em zonas rurais de Moçambique. Conseguiu angariar 3.516 euros, com os quais foram comprados e instalados «dez purificadores de água em cinco escolas primárias», contou ao SOL Carolina Alves, uma das fundadoras da ONGD, que tem a missão de «apoiar, a nível emocional e humano, crianças órfãs, cujos pais morreram de sida».
Já em 2013 a Eu e os Meus Irmãos tinha recorrido à mesma plataforma do Novo Banco, para recolher donativos no valor de 1.000 euros para a compra de quatro bicicletas. O objetivo era facilitar a deslocação das ‘titias’, mulheres locais que acompanham as crianças apoiadas pelo programa de apadrinhamento à distância promovido pela associação portuguesa.
A campanha Clube das Bicicletas foi um sucesso e 26 apoiantes contribuíram com 1.100 euros. É também graças a eles que há «107 crianças apoiadas com apadrinhamento à distância» e que «mais de 2.000 pessoas de duas comunidades rurais beneficiam de acesso a água segura».
Para Carolina Alves, o programa de apadrinhamento consiste num «compromisso moral» que visa a melhoria das condições de vida das crianças e a construção de relações de afeto, ainda que à distância: «Fomentamos uma troca de correspondência entre os padrinhos e os meninos, e o envio de fotografias e desenhos».
Em Moçambique, 1,8 milhões de pessoas tem HIV e as crianças são as mais afetadas. Têm menos hipóteses de sobrevivência e menos oportunidades no futuro. Prova disso é uma reportagem que a jornalista da SIC Cândida Pinto fez em 2010, intitulada ‘Eu e os meus irmãos’, sobre crianças órfãs cujos pais faleceram vítimas de HIV. A peça acabou por inspirar a criação da EEOMI, que nasceu a 17 de Março de 2010. «Três mulheres portuguesas, perfeitamente desconhecidas umas das outras [Carolina Alves, Isabel Bento e Raquel Marques] uniram-se e formaram esta associação», contou a fundadora ao SOL.
A ONGD pôs mãos à obra, estabeleceu uma parceria com uma associação local – a Mahlahle – e juntas criaram o projeto Nhelete ya mixuvo – ‘Estrela dos Sonhos’, que aposta no acesso à educação, no desenvolvimento de talentos e no incentivo do empreendedorismo feminino.
Atualmente, além do pedido de apadrinhamento, no valor de 30 euros mensais, a associação precisa de financiamento para a aquisição de dez hippo rollers, tambores de plástico com 90 litros de capacidade, que podem ser empurrados até por mulheres e crianças, e rolados até ao destino, tornando o transporte de água mais fácil e rápido. Saiba mais em www.eeomi.com.